Em algumas postagens anteriores, eu falei um pouco sobre ciúmes e traições: problemas que acabam e desfazem uma vida a dois. O que causa isso? O que causa o desmoronamento de um casal? Um ponto que, apesar de pouco discutido — principalmente pelos casais — e que não pode faltar é sexo. Fazer sexo (ou fazer amor como alguns preferem) faz parte da experiência humana e, todos concordam, é parte importante no bem-estar de um relacionamento amoroso maduro.
Infelizmente, em psicologia são poucas as áreas que abordam questões sobre sexo e sexualidade de forma direta e franca. A área que mais ativamente pesquisa e investiga questões ligadas à sexualidade é a Psicologia Evolucionista. No entanto, a visão dessa área é ainda muito restrita e, de uma forma geral, não aborda a questão de uma maneira relevante ao dia-a-dia das pessoas. Ela tenta explicar certos comportamentos, mas grande parte dos problemas enfrentados por casais não são abordados de maneira satisfatória. Pelo menos ela não parece abordar a questão sob um ponto de vista social.
De uma maneira bem sucinta (e até mesmo injusta), a Psicologia Evolucionista foca no aspecto reprodutivo do ato sexual. Homens procuram mulheres que oferecem uma maior probabilidade de concepção. Em outras palavras, homens tentam maximizar as chances de uma concepção (reprodução) de sucesso. Daí a busca por mulheres saudáveis e atraentes. Como a concepção é um processo interno, pode existir o que os psicólogos evolucionistas chamam de “incerteza da paternidade”. Assim, mulheres buscam os melhores genes para seus filhos e ao mesmo tempo, busca uma fonte segura de suporte ao produto da reprodução (o filho). Por isso a busca por homens mais responsáveis e maduros.
No entanto, isso não pode ser toda a história. Sabemos que casais fazem sexo mesmo depois que já têm filhos (a parte reprodutiva já está feita). E mais ainda. Sabemos que casais fazem sexo pelo simples prazer que o ato proporciona. Geralmente, os casais mais felizes são aqueles que têm uma vida sexual boa e saudável. Uma vida sexual saudável e feliz se caracteriza pela preocupação que um tem em se satisfazer e, ao mesmo tempo, satisfazer o outro. A visão reducionista da Psicologia Evolucionista é, em parte, responsável pela idéia do senso-comum de que homens só pensam em sexo (no ato) e que mulheres são mais amorosas e procuram algo mais profundo e duradouro após o ato sexual.
Um estudo interessante, publicado em 2008, procura mostrar evidência de que, na verdade, homens que apresentam uma vida sexual boa com a esposa têm uma maior probabilidade de (1) agir mais positivamente no relacionamento e, mais importante, (2) tendem a agir com mais carinho e amor com relação à esposa. Em outras palavras, o efeito de uma boa vida sexual vai além da cama.
Para investigar essa questão, os pesquisadores aplicaram nos participantes uma dose de oxitocina (em um outro grupo foi aplicada uma dose de placebo). Oxitocina é um hormônio produzido pelo hipotálamo, principalmente, durante o orgasmo tanto feminino quanto masculino. Muito pesquisadores consideram a oxitocina o hormônio do amor.
Após a injeção da dose de oxitocina (ou placebo), os homens que participaram do estudo fizeram uma tarefa de reconhecimento de palavras. Nessa tarefa, eles deveriam identificar várias palavras, positivas e negativas, relacionadas à sexo, relacionamentos amorosos e emoções. Em psicologia, esses testes de reconhecimento medem o nível de acesso cognitivo à certos conceitos. Sabemos também que, quanto mais fácil o acesso a certos conceitos, maior a influência desses conceitos em nossas ações. Por exemplo, se temos um acesso mais fácil a conceitos relacionados à violência, teremos uma tendência maior a agir com violência. Se temos acesso mais fácil a conceitos relacionados ao nosso bem-estar, tendemos à praticar ações mais voltadas para o nosso bem-estar.
O estudo mostrou que a oxitocina faciliou o acesso dos homens às palavras positivas relacionadas a sexo e a relacionamentos. O mesmo não aconteceu com o grupo que ingeriu placebo, o que sugere que o responsável por essa facilitação foi mesmo a oxitocina. Em outras palavras, o estudo sugere que essa substância, liberada durante o orgasmo, influencia homens a pensar mais positivamente sobre o ato sexual (o que facilita ações e atitudes positivas com relação ao ato sexual) e mais positivamente sobre o relacionamento (o que facilita ações positivas com relação ao convívio não-sexual com a parceira).
A mensagem que fica é importante: é necessário reconhecer que sexo é sim importante para o bem-estar e bom andamento da vida de um casal. Ele não somente é prazeroso, como fortalece os laços de amor e companherismo de um casal. Sexo vai muito além de um simples ato de reprodução. E mais ainda: pensar e assumir que homens apenas sentem prazer “durante” o ato e nada mais além disso é, de fato, uma ignorância que pode, na verdade, enfraquecer os laços de companherismo que unem o casal. Às vezes, uma das causas dos problemas abordados em postagens anteriores é uma vida sexual pouco saudável e egoísta. Para que um casal tenha um bom e forte relacionamento extra-sexual é preciso saber e reconhecer o real papel que o ato sexual desempenha no relacionamento como um todo. Fica aí uma dica para pensar!
Referência:
Unkelbach C, Guastella AJ, & Forgas JP (2008). Oxytocin selectively facilitates recognition of positive sex and relationship words. Psychological science : a journal of the American Psychological Society / APS, 19 (11), 1092-4 PMID: 19076479
>PARABÉNS PELO TEXTO!
Gostei imenso do artigo. Aplicando este artigo a minha vida pessoal digo que de facto o sexo sim tem grande importância para um matrimônio seguro. Porém, na semana passada em pleno acto sexual ví a minha esposa a gemer de prazer e quando foi ao orgasmo chegou a deitar lágrimas. Mas passado dois dias confessou-me que tinha feito quilo só para me agradar, o que descordei de imediato. Ela quiz apenas ver-me decepcionado. Só não sei o que ela quer dizer izactamente. Obrigado pelo artigo...