Uma característica assustadoramente fascinante da cognição humana é o fato de que fazemos péssimas previsões do futuro. Por exemplo: se eu te pergunto hoje o quanto você acha que estará feliz se, em 2019, eu depositar 10 mil reais na sua conta bancária, provavelmente você vai me dizer que ficará super feliz. No entanto, quando 2019 chegar, você vai notar que os 10 mil reais nem te fazem tão feliz assim como vc imaginou hoje. Mesmo não tendo evidência nenhuma de que você ficará feliz, você faz uma previsão baseada na nossa situação hoje. E isso não é errado. É o melhor que podemos fazer.
O problema é que na grande maioria das vezes, nós moldamos nossa cognição, emoções e ações com base em traços que muitas vezes nem são verdadeiros. Um exemplo que eu tenho certeza que você vai se identificar: lembra quando você ia fazer aquela prova de matemática e, mesmo sem saber se a prova seria mesmo tão difícil quanto pensava, você agia como se aquela prova fosse a mais difícil do mundo? Então. A mesma coisa acontece nos exames de Vestibular. A pessoa fica tão nervosa e ansiosa esperando que a prova seja difícil, que mesmo uma questão super fácil se torna extremamente impossível de solucionar. Em outras palavras, nossas expectativas, medos e anseios criam aparências. E muitas vezes agimos como se essa aparência fosse real. A verdade é que muitas vezes a prova nem é tão difícil assim, mas partimos de uma crença de que é difícil e acabamos achando mesmo tudo muito difícil.
Mas como isso influencia nossas ações? Já ouviu dizer que homens são melhores que as mulheres em habilidades matemáticas? Então. Esse tipo de afirmação é, em grande parte, responsável pelo alto índice, entre as mulheres, de ansiedade relacionada à matemática e/ou à áreas do conhecimento relacionados à matemática, tais como física, engenharia e estatística. Mas será que isso é verdadeiro? Será mesmo que as mulheres são piores que os homens em áreas exatas? Ou é apenas mais uma dessas coisas que a nossa cognição nos passa a perna?
Um estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Humboldt University em Berlim, Alemanha, mostrou que essa ansiedade é apenas fruto de uma crença. Nesse estudo, eles perguntaram a um grupo de pessoas (homens e mulheres) qual o nível de ansiedade que sentiam com relação à matemática. Como essas medidas são fortemente influenciadas por crenças já existentes, o resultado mostrou que as mulheres tinham um nível de ansiedade maior do que o nível de ansiedade dos homens. Pelo menos era assim que as mulheres se viam.
No entanto, os pesquisadores resolveram medir o nível de ansiedade durante uma prova de matemática. A ideia era ver se essa ansiedade era apenas uma impressão causada pela crença, ou se ela realmente existia na prática. Os resultados mostraram que apesar de as mulheres acharem que são mais ansiosas que os homens em relação à matemática, na prática, durante uma prova, o nível de ansiedade entre homens e mulheres foi praticamente o mesmo. E mais ainda. As notas nas provas de matemáticas foram comparáveis, ou seja, as mulheres se saíram tão bem ou até melhor que os homens.
Mas por que esse tipo de pesquisa é importante? Bem, o nível de ansiedade que as pessoas percebem em si acabam afetando diretamente as escolhas que essas pessoas fazem no decorrer da vida. Por exemplo, pesquisas mostram que por se sentirem mais ansiosas, mulheres acabam evitando escolher carreiras que envolvem matemática. E isso tem um impacto grande no nível de representatividade das mulheres em certas carreiras tais como física, engenharia, matemática, astronomia, etc. Perpetuar esse tipo de crença sem muito respaldo acaba por ter um impacto social desagradavelmente grande.
Feliz Dia Internacional da Mulher a todas as pessoas (em especial às pessoas do sexo feminino) que contribuem para que crenças como essas não sejam perpetuadas! 🙂
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Na foto: Émilie du Châtelet
Um excelente texto como sempre!