Em Setembro do último ano (2014), a Apple lançou o seu flagship smartphone, o iPhone 6. Toda vez que a Apple ou a Samsung lançam um novo smartphone, as pessoas correm para as lojas e operadoras para garantir o seu aparelho — que será o “último lançamento” por pelo menos alguns meses. Quase todo mundo hoje em dia tem um smartphone. Uma pesquisa recente divulgada pela Nielsen Digital Consumer Report mostrou que só nos Estados Unidos, mais de 70% da população com idades entre 25 e 34 anos possui um smartphone. Mas com tantas opções de smartphones no mercado — e cada um com dezenas de funcionalidades — como será que escolhemos qual celular preferimos?
Uma coisa legal que pouca gente sabe é que a maioria dessas empresas de tecnologia (e até mesmo algumas operadoras de telefonia móvel) tem laboratórios internos que fazem o que chamamos de “testes de usabilidade”. Dentre outras coisas, esses testes de usabilidade têm como função principal investigar a melhor forma de interação entre o usuário e o produto que eles pretendem lançar. Como, em termos bem gerais, esses testes de usabilidade buscam mapear e direcionar as preferências dos usuários, eles (os testes) têm estado cada vez mais alinhados às teorias cognitivas e de comportamento humano.
O que influencia a usabilidade de um produto? Algumas pesquisas sugerem que eficiência e eficácia são dois fatores que influenciam bastante a nossa percepção sobre a usabilidade de um certo produto. Em outras palavras, quando estamos julgando a usabilidade de um produto, se ele faz o que se compromete a fazer (i.e., é eficaz) e o faz da maneira mais rápida (i.e., é eficiente), geralmente esse produto recebe uma nota alta no quesito usabilidade.
O interessante, no entanto, é que, algumas vezes, mesmo que o produto não seja eficaz e eficiente, as pessoas dão a eles notas altas com relação a usabilidade. O que vários pesquisadores notaram é que esses produtos geralmente são produtos atraentes. Isso mesmo. Mesmo que não funcionem bem, produtos mais atraentes recebem avaliações altas com relação a sua usabilidade. Pesquisadores do laboratório de usabilidade da Sprint/Nextel nos Estados Unidos fizeram um estudo onde eles mensuraram a eficiência, eficácia, beleza e usabilidade de uma série de smartphones. Os resultados mostraram que a beleza dos telefones teve uma correlação muito forte com as notas de usabilidade, mesmo depois de levarem em consideração a eficácia e eficiência dos telefones. Nesse estudo, a beleza dos smartphones teve um papel grande na avaliação da usabilidade deles.
Mas será por que isso acontece? Acontece alguma coisa na nossa cabeça que explica isso? Sim. Vários estudos em Psicologia Cognitiva sugerem que coisas bonitas e atraentes são processadas pela nossa mente de maneira mais fluente (i.e, elas geralmente têm características que são facilmente identificadas e consequentemente são processadas mais rapidamente). Esses mesmos estudos também sugerem que informações processadas mais fluentemente são vistas como melhores e mais positivas (já até falei disso aqui no Cognando). Pode ser essa a ligação entre os julgamentos positivos com relação à usabilidade e a beleza do telefone.
Existe uma outra explicação um pouco mais confusa. Sensações positivas fazem com que as pessoas sejam mais criativas. Criatividade envolve solução de problemas. Assim, mesmo que um produto seja difícil de usar, se ele for bonito, a sensação positiva que a beleza dele causa no usuário faz com que esse usuário seja mais criativo na busca das soluções para as dificuldades de utilizar o produto. Em outras palavras, os usuários as vezes resolvem os problemas de usabilidade tão rapidamente e criativamente que nem chegam a reconhecer a dificuldade de usabilidade do produto.
A Apple parece enfatizar bem esse aspecto na sua linha de produtos. Um preview do smartwatch que ela lançará em breve mostra uma tela de aplicativos altamente poluída e de difícil navegação. No entanto, como sempre, a Apple aposta em um design elegante e arrojado. O relógio é, sem dúvidas, bonito. Não é sem razão que muita gente acha os produtos da Apple “fáceis” de usar, mesmo que eles apresentem problemas e dificuldades de navegação e usabilidade.
A próxima vez que tiver que decidir sobre qual smartphone comprar, saiba que a aparência do aparelho te influencia mais do que você imagina. Todo mundo sabe disso. Menos a Nokia, eu acho.
André,
Interessante artigo. Realmente,a beleza dos equipamentos eletrônicos, principalmente smartphones, deve serum fator extremamente importante para serem adotados.
Porém, levando em conta que as pessoas estão investindo dinheiro nos aparelhos, valeria a pena se lessem as avaliações dos equipamentos novos. Nokia, por exemplo, é uma marca excelente. BlackBerry também. O problema é que muita gente acha que BlackBerry é coisa de velho. OK. Deveriam ler as avaliações do BlackBerry Z30 e eventualmente experimentar ter um.
Ronaldo, entendo seu lado. O engano, porém, é achar que o usuário está errado em "não ler as avaliações do BlackBerry". O usuário não erra, porque ele não tem que provar nada a ninguém. Ele é a ponta final. Quem erra é a marca. No caso da BlackBarry, culpa de posicionamento ou falta de inovação. Perdeu o tempo. Ficou para trás. Agora, resta correr atrás e se reposicionar. O usuário só escolhe o que o representa e ponto. Esperar que o seu amigo advogado de 24 anos ou o surfista de 19 se encantem por um BlackBerry, sem a marca se posicionar para atingi-los é ilusão. Já pensou nisso? Abraço!
OK então, Rodrigo.
Gaste seu dinheiro com aparelhos bonitos, e ruins.
A blz da Apple nunca me convenceu... hehehe
Que meu filho não leia essa alfinetada final na Nokia! Hoje ele ganhou um "feiozinho" mesmo de aniversário. Do que adianta ter um bonitinho, mas ordinário?!!
Abraços!