3 – A greve dos caminhoneiros e seu impacto energético

No final de maio de 2018, o Brasil presenciou uma de suas maiores manifestações, que foi a greve dos caminhoneiros. Universidades tiveram que cancelar aulas, ônibus atuaram em horário de domingo em dia de semana, dentre outros. Tudo isto pois não havia combustível disponível. Sem o mesmo, não é possível os carros e demais veículos se moverem, considerando também a falta de suprimentos em locais básicos.

Indo para o campo que interessa neste blog, praticamente o que parou o país foi a falta de energia. Conforme deve ter visto no texto anterior, as fontes renováveis e não renováveis convertem a fonte em energia térmica, mecânica, ou elétrica basicamente. A conversão depende da fonte. Por exemplo, não é muito comum ouvir falar em conversão para energia térmica em uma usina eólica. Nos veículos, é de convenção a utilização de fontes não renováveis (com exceção do biodiesel, porém utilizado em uma menor porcentagem) para o uso da energia térmica para o movimento do carro. As principais são o petróleo e o óleo diesel, conforme mencionado no segundo texto.

Esta energia térmica provém da combustão dos combustíveis. A combustão provém da queima do fluido com o ar, liberando assim está energia. Consequentemente a energia térmica é convertida em energia mecânica, de forma a mover o veículo. Em outras palavras, ela é a principal razão dos veículos se moverem. Logo, como os caminhões são responsáveis pelo transporte destes combustíveis, uma queda na frota reduz os combustíveis disponíveis nos postos. Desta forma, acaba por reduzir a oferta de combustível nos postos (5;9).

Setor comercial

A greve atrapalhou o comercio de estabelecimentos, como supermercados. E nestes locais costuma-se obter comida, correto? Pois bem, em toda comida não contem uma unidade relacionada a kcal, correto? Então, este valor de kcal é relacionado a energia obtida após a digestão deste alimento. Consequentemente este valor é convertido para energia mecânica, para o ser humano poder realizar suas atividades. Logo, a greve também interrompeu, mesmo que pouco, a obtenção de energia pelo ser humano(2;3).

Setor elétrico

A greve impactou o setor elétrico brasileiro. Como os caminhoneiros também transportam combustíveis para usinas de energia (usinas que utilizam de combustíveis para gerar energia elétrica), houve usinas que geraram uma potência menor que a usual pela perda de combustíveis. Esta energia elétrica provém da queima de combustíveis, seja para evaporar o líquido para o mesmo ir na turbina, seja para utilizar a energia térmica direta para conversão em energia mecânica e em seguida em energia elétrica, e seja para transformar o combustível diretamente em vapor para a movimentação das pás da turbina. Desta forma, acabou em reduzir o consumo de energia em algumas cidades(6;10).

Possível solução para a greve

Basicamente, a falta de energia atuou nas situações descritas nos itens anteriores deste texto. E voltando ao ponto anterior, eu te pergunto. Você já ouviu falar dos veículos elétricos? Eles funcionam de forma similar aos carros, porém ao invés de energia térmica, se utilizam de energia elétrica para depois converter em mecânica e mover o automóvel. Está tecnologia ainda não é implantada em alguns locais por vários motivos. No Brasil, considerando o cenário atual, é muito improvável de termos uma política voltada para carros elétricos. E para isto mudar, demoraria muito tempo(1;8).

Mas aí que entra a questão. Será que a greve teria este mesmo impacto caso a maioria dos nossos veículos (referente aos carros, não aos caminhões) fossem elétricos? Algum efeito penso que seria reduzido. Por exemplo, os veículos elétricos teriam vantagem em relação ao combustível, que é abastecido carregando a sua bateria. Portanto, não teriam muito problema em relação aos abastecimentos. Consequentemente, as filas dos postos convencionais estariam menores, se uma grande parte dos veículos fossem movidos através de energia elétrica. Ressaltando que esta solução não resolveria, por exemplo, a questão de abastecimento nos supermercados, mais a falta de energia nas usinas termelétricas que utilizam de fontes não-renováveis.

Além disso, seria uma solução em relação a poluição atmosférica. Isto pois tanto o petróleo, quanto o diesel, são um dos maiores poluentes da atmosfera. Apesar de termos outras alternativas quanto a isto, como por exemplo o uso de álcool, e o uso obrigatório de biodiesel nos veículos a diesel(4). Uma outra solução que atenderia tanto a atmosfera, quanto a greve, seria a alternativa mais ampla do uso destes combustíveis (álcool e biodiesel), porém requer um estudo muito amplo de sua aplicação para caminhões(7).

Lembrando que o foco da proposta não é abordar uma solução de preços (que seria mais eficaz considerando o motivo da greve), mas sim uma nova alternativa de implantação de uma nova fonte de energia para amenizar alguns de seus efeitos negativos.

Conclusão

Particularmente, eu acredito que existam boas razões para esta greve. O texto em questão é para estimular a levantar questões energéticas que poderiam ser expostas e aprofundadas com esta greve. Da mesma maneira que soluções energéticas que possam tentar amenizar seus efeitos. Ressaltando que a escassez energética não foi apenas no setor de transportes, mas também no setor alimentício e na geração de energia.

Lembrando para conferir os links desta descrição, para um aprofundamento das questões levantadas. E lembrem-se de curtir a página do blog Engenharia de Magia no Facebook, mais o seu Twitter (caso alguém possua estas redes sociais). Os links das redes sociais se encontram ao lado de cada postagens do blog.

Fontes:

(1) BARAN, R.; LEGEY, L. Veículos elétricos: história e perspectivas no Brasil. BNDES, p. 207–224, 2010.

(2) Combustão e Energia. Disponível em: <http://www.usp.br/qambiental/combustao_energia.html>. Acesso em: 31 maio. 2018.

(3) Consumo de energia no corpo humano. Disponível em: <http://axpfep1.if.usp.br/~otaviano/energianocorpohumano.html>. Acesso em: 31 maio. 2018.

(4) EPE. O Compromisso do Brasil no Combate às Mudanças Climáticas : Produção e Uso de Energia. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://www.epe.gov.br/mercado/Documents/NT COP21 iNDC.pdf>.

(5) FOGAÇA, J. R. V. Funcionamento do Motor de Combustão Interna. Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/funcionamento-motor-combustao-interna.htm>. Acesso em: 31 maio. 2018.

(6) Greve dos caminhoneiros faz consumo de energia cair no fim de semana. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/greve-dos-caminhoneiros-faz-consumo-de-energia-cair-no-fim-de-semana.ghtml>. Acesso em: 31 maio. 2018.

(7) O caminho correto passa longe do petróleo. Disponível em: <http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Artigo-O-caminho-correto-passa-longe-do-petroleo/>. Acesso em: 31 maio. 2018.

(8) RIBEIRO DE CASTRO, B.; FERREIRA, T. T. Veículos elétricos : aspectos básicos , perspectivas e oportunidades. BNDES, p. 267–310, 2010.

(9) SHAPIRO, H. N. et al. Princípios da Termodinâmica para Engenharia. Setima edi ed. [s.l.] Nacional, Grupo Editorial, 2013.

(10) TOLMASQUIM, M. T. Energia Termelétrica: Gás Natural, Biomassa, Carvão, Nuclear. Rio de Janeiro: Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 2016.

Rafael Henrique

Sou graduado em Engenharia de Energia pela PUC Minas. Recentemente, concluí o mestrado em Planejamento de Sistemas Energéticos pela UNICAMP. Decidi dar inicio a este blog, com o intuito de abrir o espaço de divulgação científica relacionado a energia e seus temas relacionados.

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4 Resultados

  1. Penha disse:

    Parabéns, muito bom para todos.Assim conheceremos mais sobre energia.

  2. Péricles disse:

    Está cada vez melhor esse blog sobre energia.

  3. Gostei da parte dos veículos elétricos, demorou para implantarmos esses aqui. Boralá!!

  1. 29 de outubro de 2018

    […] em que há poucos postos de abastecimento específicos para o motor elétrico. Inclusive tem um post neste blog comentando a viabilidade do uso dos carros elétricos em uma crise de combustíveis, […]

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