Empresas, vocês REALMENTE sabem o que quer dizer sustentabilidade?

planeta terra 

Perdemos o Banco Real. Não sei se os clientes do banco realmente lamentam por isso, mas pra quem conhecia o case Real de sustentabilidade talvez seja alguma perda.

O Santander, comprador do Banco Real, provavelmente vai dizer que todas as práticas do Real de sustentabilidade foram mantidas e blablabla, mas qualquer um que conhecia das práticas do Real sabe que isso pode não ser bem verdade.

Vou usar um exemplo bem emblemático. Fórmula 1. O que a Fórmula 1 tem a ver com a sustentabilidade? Um esporte que transporta toneladas de equipamentos ao redor do mundo durante uns 8 meses do ano, que causa a maior poluição sonora, que queima combustível fóssil para ver quem chega mais rápido, que deve gerar uma quantidade louca de resíduos (alguém faz ideia com o que acontece com todos aqueles pneus usados nas corridas e treinos?)… Sustentável, hein? Nada contra Fórmula 1, nada mesmo, até costumo acompanhar pela tv de vez em quando, mas dizer que é um esporte sustentável é forçar bem a barra. Não que o Santander tenha dito isso, mas um banco que preza por ações que se preocupam com o futuro do planeta não tem nada a ver com o patrocínio de um esporte como esse… Ainda se fosse uma competição de vela…

Outra coisa que tem causado minha indignação… Empresas que fazem ações relacionadas a sustentabilidade e insistem no papo ação individual, economia de energia, reciclagem… Até quando as empresas vão ficar repetindo esse mantra?? Ação individual pode ajudar alguma coisa mas não vai NUNCA resolver o problema, economizar energia e reciclar não são o suficiente para conseguirmos melhorar a nossa situação no planeta. Quem DE FATO precisa mudar são as empresas e não apenas numa linha de produtos, mas em todo seu modo de produção e operação, por que será que é tão difícil de entender isso? Ok, ok, não é fácil, não é barato ser sustentável, nem tenho certeza se isso é lá muito possível, mas não me vem tentar tapar o sol com a peneira. Propagandear sustentabilidade não é sustentabilidade, nem aqui nem na China, onde acho que começam a se preocupar como tema…

Outra coisa também são os sites corporativos… Todos, TODOS (principalmente os relacionados com atividades industriais) tem em algum lugar de seus sites alguma coisa relacionada a sustentabilidade. Pode não dizer nada de concreto, mas tá aí no site que a minha empresa tem, tá? Seja lá o que de fato isso for.

Eu não gosto de ser assim rabugenta, não gosto mesmo, mas irrita ver todo mundo falando que está preocupado com o futuro do Planeta, mas de concreto mesmo só discurso, economia de energia e reciclagem, gente, vamos passar dessa fase, por favor? Quando vamos entender que a redução da população mundial e do consumo é que vão de fato fazer a diferença pra conseguirmos continuar com a espécie humana por aqui por mais algum tempo?

Imagem: http://www.flickr.com/photos/projectarchive/1232148672/

15 Comments

  • 17 de novembro de 2010 - 21:26 | Permalink

    Francamente?... Na minha opinião, o que o Real fazia era puro greenwashing. Quem paga juros extorsivos no cheque especial ou no cartão de crédito, adoraria que o Banco Real fosse ser "verde" no quinto dos infernos.

  • Renan
    17 de novembro de 2010 - 21:30 | Permalink

    Infelizmente, sustentabilidade, "ecologicamente correto" etc... viraram buzzwords, usadas apenas para vender produtos e passar a imagem de empresas "boazinhas".
    Na universidade onde eu estudo, fazem várias campanhas "antes de imprimir, pense na sua responsabilidade ambiental", "seja sustentável", mas... tudo lá dentro depende de várias vias, até um "não haverá aula" é impresso em uma folha branquinha e timbrada (até hoje, muito poucas vezes lembro de ter visto papel reciclado lá dentro). Hipocrisia ou hipocrisia?
    E o que falar de empresas com políticas de sustentabilidade que fazem sites pesados, dependentes de Flash e outros plug-ins (que fazem o computador trabalhar mais e portanto consumir mais energia)? Irônico, não?

  • 17 de novembro de 2010 - 23:12 | Permalink

    Não vou nem comentar novamente minha experiência recente.
    Bjinhos

  • Roberto
    18 de novembro de 2010 - 00:56 | Permalink

    Entendo completamente a campanha, realmente "ser verde" é marketing, não tem nenhuma real preocupação com isso. Nem o Banco Real tinha.
    Agora diminuir a população mundial deu uma forçada, ou só eu encarei isso como exagero? Ainda quero ter o direito de ter dois filhos, não vejo grande avanço da China pela lei do filho único, se alguém ai souber algum benefício disso, por favor, compartilha que estou interessado.

  • 18 de novembro de 2010 - 08:25 | Permalink

    @Claudia
    Parabéns pelo desabafo. Não concordo muito com a ideia de que temos que banir esportes como a fórmula 1 e estimular esportes como a vela por ser mais "sustentável". Ainda acho que podemos aumentar a eficiência de todas as áreas e diminuir o impacto. Buscar o impacto zero é loucura.
    Roberto,
    Se você quer saber dos números do benefício de ter menos filhos, dá uma olhada aqui:
    http://scienceblogs.com.br/discutindoecologia/2009/03/quer-salvar-o-planeta-nao-tenha-filhos.php

  • 18 de novembro de 2010 - 08:51 | Permalink

    Luiz, eu não defendo o fim da Fórmula 1 de forma alguma, disse no meu post que não tenho nada contra o esporte, só acho que falta coerência um banco que tem práticas de sustentabilidade e vive cheio de blablabla a respeito patrocinar um esporte desse tipo.

  • silvia dias
    18 de novembro de 2010 - 09:35 | Permalink

    Nossa, parece inconsciente coletivo. Várias pessoas que trabalham / cobrem o tema têm batido nessa tecla: é uma hipocrisia jogar a sustentabilidade para a alçada do consumidor ou, pior, das "crianças" que "estão sendo educadas" e que "vão descobrir soluções". Quem não é sustentável é a indústria, que está muito atrás da necessidade de oferta de produtos menos danosos. E o que mais se vê, infelizmente, é greenwashing.
    Sou viúva do Real e estou sentindo muito a mudança para o Santander não só na estratégia de marketing como também no pp atendimento ao cliente. Os funcionários do Real tinham uma cultura de atendimento muito mais respeitosa. Agora, é simplesmente impossível falar com alguém lá sem que te ofereçam algum produto que vc não quer! E pelo nível de atividade do portal de sustentabilidade do Real/Santander, dá para ver como o interesse nesse tema caiu significativamente.

  • 18 de novembro de 2010 - 10:20 | Permalink

    @Claudia
    Sem patrocínio como que o esporte vai continuar? 🙂

  • 18 de novembro de 2010 - 10:31 | Permalink

    Luiz, qq outra empresa que não levante a bandeira da sustentabilidade poderia patrocinar o esporte... Acho que não é demais pedir pra ser coerente. Não tem quem invista em industria do tabaco, bebidas alcoolicas, bélica, terrorismo, fast food, ONGs, igrejas, campanha política, roupas, mídias sociais, drogas? Eu por exemplo faço emprestimo de U$25 p/ pequenos empreendedores em países em desenvolvimento, Fórmula 1 também vai ter gente interessada e que não ta preocupada com sustentabilidade.

  • 18 de novembro de 2010 - 11:59 | Permalink

    Adorei o site ...
    A maioria das empresas estão aderindo a uma falsa preocupação em relação à sustentabilidade, porque empresas sustentáveis são mais bem vistas pelos consumidores,querem lucro e mais nada, essa é a verdade.
    Passa no meu blog e dá uma olhadinha:
    http://revolucaodosindigos.wordpress.com/
    Obrigado

  • 19 de novembro de 2010 - 09:00 | Permalink

    @Claudia
    Entendi o seu argumento. Mas em um mundo ideal todas as empresas seriam sustentáveis e nenhuma poderia investir na fórmula 1. Então o esporte morreria de qualquer jeito 🙂
    O meu argumento é que poderíamos diminuir o impacto causado e não buscar o impacto zero. E tem coisas que poderemos diminuir mais o impacto e outras menos.
    O importante é manter o que você disse no post. Focar no individual sozinho não vai mudar nada.

  • 22 de novembro de 2010 - 08:56 | Permalink

    Olá.
    Acho que as pessoas que comentaram antes estão certas em relação ao greenwashing. Esta, infelizmente, é uma prática muito comum. Grande parte das empresas que "vestem a camisa verde" gastam mais em propaganda de conscientização - isto é, jogam toda a responsabilidade para o consumidor - do que em ações reais. Gostaria de ver mais ações do que falatório.
    Aproveitando o papo de sustentabilidade e políticas verdes, gostaria de citar um caso interessante . Esses dias atrás li um texto bacana sobre a influência de construções nos bairros na vida dos moradores. Trata-se do Projeto Urbano Córrego do Antonico, localizado em Paraisópolis, segunda maior favela da cidade de São Paulo (são 60 mil habitantes). Lá eles transformaram para melhor a relação da população com o córrego, que antes só trazia problemas, como inundações e mal cheiro. Acho que vale a pena ler esta matéria: http://migre.me/2a49B
    Abs.

  • 23 de novembro de 2010 - 09:41 | Permalink

    É Claudia, eu sou uma das pessoas que vai sentir falta do Banco Real.... pode mesmo ser puro Marketing, mas a verdade é que eu raramente recebia "lixo" pelo correio, toda a correspondência era em papel reciclado, eles tinhas fundos de investimento em áreas verdes, entre outras, em fim... mais um que o capitalismo engoliu.
    Seu blog está ótimo como sempre, parabéns!
    Ram

  • 24 de novembro de 2010 - 17:43 | Permalink

    Claudia parabéns pelo blog...sou leitor assíduo...
    Quanto a formula 1 não vou concordar nem discordar de você, pois exatamente como você ja me peguei pensando na insustentabilidade do esporte, mas como sempre temos os pontos positivos e negativos...os negativos você indicou mas não podemos esquecer que um dos pilares da sustentabilidade é o social e dentro do social um dos principais é a necessidade humana de entretenimento, diversão, alegria. Sim, tem outras opcoes mais saudáveis que a formula 1, mas muitas, muitas pessoas mesmo amam o esporte. Temos que levar isso em conta...
    Na minha opinião o Santander não esta errado em patrocinar este esporte e sim em não cobrar ou influenciar que os organizadores adotem ações sustentáveis, como uso de combustível renovável, por exemplo.
    Grande abraço a todos!
    Thiago Cagna

  • Ary Martini
    6 de dezembro de 2010 - 16:39 | Permalink

    Alguém bem conhecido - e muito inteligente! - nos fez lembrar que o planeta Terra "é um sistema fechado", isto é, não realiza trocas com outros corpos celestes, a não ser os câmbios de energia e luz. Ou seja, com recursos naturais finitos e limitado geograficamente, nesse ritmo, o planeta, um dia vai estourar. Desconfio que a Natureza, ou seja lá quem for, organizou o nosso mundo de tal maneira que apenas é possível nele viver se forem adotados padrões frugais de produção e consumo. Em outras palavras, o luxo de uns poucos é o lixo da maioria. Um exemplo banal: um grama de ouro despeja na natureza 25 toneladas de rejeitos e revolve 300 toneladas de terra. De todo o ouro produzido, 85% é destinado ao fabrico de jóias. Resumindo, para se unir em matrimônio com a pessoa amada, o homem/mulher se divorcia da natureza.

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