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Agora você pode fazer investimento de impacto!

Lá nos fins de 2017 eu escrevi sobre investimentos sustentáveis e como é complicado para quem quer ter investimentos mais éticos e sustentáveis encontrar investimentos assim. Pois bem, acho que isso deve ter sido alguma tendência mapeada por ai e eis que a Sitawi (organização que também citei no post de 2017) criou a Plataforma de Empréstimo Coletivo, lá você pode investir seu dinheiro em negócios que geram impacto positivo na sociedade.

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Conversando com a Andrea Resende, gerente de investimento de impacto da Sitawi, ela me contou que o surgimento da plataforma foi uma conjunção de fatores que ajudaram no processo. Desde o questionamento das pessoas sobre seu propósito no mundo (e ai podemos incluir o propósito dos investimentos) levando para uma preocupação em que tipo de investimentos o dinheiro está aplicado e a quem ele está servindo, passando por um crescimento e amadurecimento do mercado de investimentos de impacto que hoje tem mais de 500 bilhões de dólares no mundo todo, segundo a pesquisa do GIIN (Global Investing Impact Network).

E como funciona a Plataforma? Esse vídeo rapidinho te dá uma visão geral de como funciona:

O modelo de investimento da plataforma é baseado no P2P lending, um modelo de empréstimo sem necessariamente a interferência de um banco por meio de uma plataforma digital. Ou seja, esse formato de investimento não é apenas inovador por ser de impacto, mas também é possível por conta da revolução em curso das tão faladas fintechs.

Ok que para um investidor conservador o fato desse tipo de investimento não ser assegurado pelo FGC pode ser um problema, mas como bom investidor ninguém vai colocar todos os ovos numa cesta só, né? Eu já fico bem satisfeita em saber que uma parte do meu dinheiro pode ajudar negócios de impacto a crescerem, não apenas ajudam bancos a terem mais dinheiro e eu ainda posso ter rendimentos com isso.

Nessa primeira rodada de investimentos (a próxima deve sair em outubro) da Plataforma de Investimento Coletivo da Sitawi foram selecionadas 5 empresas. Quatro delas já atingiram sua meta de financiamento em um pouco mais de 1 mês de funcionamento da plataforma, mais de R$ 1 milhão já foram levantados.

Eu ainda não fiz investimentos na plataforma, como uma pessoa desempregada, sem renda, o pouco dinheiro que tenho estão nos investimentos tradicionais ainda, mas assim que tiver algum deles vencendo vou adorar investir em negócios que acredito e que tenham um propósito alinhado com o meu. Uma das coisas que eu achei bem legal na plataforma é que eles mostram com quais Objetivos do Desenvolvimento Sustentável o negócio a se investir está alinhado, com isso já dá pra fazer um bom critério de escolha.

Outra coisa legal é a vontade da Sitawi de democratizar o investimento de impacto até então, pelo menos aqui no Brasil, exclusividade de grandes investidores (que o mercado financeiro chama de investidores qualificados, mas você pode chamar de super ricos). Os investimentos na plataforma começam a partir de R$1000.

Isso que eu chamo de inovação social, minha gente.

Parece que escrever aqui no blog faz as coisas acontecerem (que pretensão a minha hahaha), ou será que eu ando fazendo uma análise de tendência sem saber?

Em 2017 clamei por um investimento de impacto acessível ao pequeno investidor e parece que ele aconteceu! No fim do ano passado fiz um protótipo de um programa de TV sobre meio ambiente e como reconectar as pessoas com a natureza, ai no mês passado a Globo lançou uma série sobre ativistas ambientais. Mas ainda estou esperando produtos de limpeza a granel, o Fairphone chegar no Brasil e ver as empresas realmente preocupadas com o ciclo completo de vida de seus produtos e embalagens. Ainda temos um longo caminho a seguir.

Investimentos sustentáveis

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Eis que conversando com uma amiga:

_ Vendi minhas ações da Sadia.

Eu: _ Ah, é, tão em alta?

Ela: _ Não. Vendi pois num dá pra ser vegetariana e ter dinheiro numa empresa que vende carne, né?

Pois bem, se você tem um dinheiro guardado e quer investir em empresas, negócios ou fundos de forma mais sustentável, você vai encontrar dificuldade.

Se você quer investir na Bolsa de Valores temos por exemplo o índice de sustentabilidade da Bovespa, mas se você é vegetariano e não quer investir em empresas de carne como minha amiga, a BRFoods (grupo da Sadia) faz parte desse índice, ou a Embraer, empresa que produz aviões de guerra também tá listada nesse grupo de empresas. Esse índice segue alguns critérios éticos, não necessariamente sustentáveis, costumo dizer que essas empresas são tão sustentáveis quanto o capitalismo consegue ser, pra mim não é o suficiente.

Pra quem prefere fundo de investimentos em ações tem o Fundo Ethical do Santander que usa outra metodologia para selecionar algumas empresas da Bovespa, nesse por exemplo a Embraer não entra.

Pra mim sinceramente investir em ações é investir num mercado especulativo que produz poucos benefícios reais para sociedade e apoia grandes multinacionais que sempre tem alguma atitude questionável. Não é para mim.

O Banco do Brasil tem um fundo de renda fixa de remuneração atrelada à variação da taxa de juros do CDI e que contribui para programas sociais. Esse fundo destina 50% da taxa de administração para Fundação Banco do Brasil investir em programas sociais, como exemplo projetos de educação e geração de emprego e renda. Taxa de administração: 2,6%, ou seja, metade disso vai para a Fundação Banco Brasil. De certa forma você está doando uma parte dos seus rendimentos para a Fundação, isso pra mim é caridade, não investimento.

Um amigo que trabalha na Sitawi, uma OSCIP que trabalha com Finanças Sociais e Finanças Sustentáveis, me disse que as opções para pessoa física nesse setor são limitadas, ele me falou desses fundos dos bancos de varejo que citei antes. E citou que debentures verdes por exemplo só existem pra quem tem alguns milhões para investir, ou seja, reles mortais como eu não entram. Ele chegou a exemplificar alguns títulos verdes que poderiam ter chego a alguma corretora, não achei nas 2 corretoras que tenho acesso.

Descobri um amigo que trabalha numa venture capital de impacto social, a Positive Venture, nem sei exatamente o que seria uma venture capital, mas essa em especial investe dinheiro em negócios inspiradores. Eles estão no início e os investimentos que eles mostram no site são em um rede de restaurantes veganos, uma empresa que trabalha com reciclagem e numa empresa de neurociências e tecnologia. Os investidores não devem ser pessoas comuns, leia-se com poucos caraminguás como eu, esses investimentos são de alto risco e não tenho tanto dinheiro assim para arriscar perdê-lo.

Esse mesmo amigo me mostrou também a Broota. Essa empresa é como se fosse uma bolsa de valores, mas para micro e pequenas empresas, mas os investidores devem ter R$300mil em ativos financeiros, não é para qualquer um.

Pensando nas opções de investimento que já existem o meu sonho de consumo em investimentos seria um LCA (Letra de crédito do agronegócio) que fosse específico para produção orgânica ou pequeno agricultor. Afinal, quem confia no agronegócio brasileiro como um setor confiável quando o assunto é ética e meio ambiente? Eu queria saber se os bancos que emprestam dinheiro para o agronegócio garantem que não estão financiando desmatamento na Amazônia e no Cerrado seja pra plantar soja ou pra criar boi. Desafio as instituições financeiras a me provarem que não emprestam dinheiro para quem desmata.

Enquanto um investimento mais verde não vem eu continuo emprestando dinheiro pra banco ou pro governo… Se você tem uma solução mais sustentável para investimentos, por favor me indique!

Brasil querendo ficar bem na fita, te convence?

Hoje quando abri o portal Globo.com apareceu um pop-up do Governo Brasileiro que levava para um site falando da participação do Brasil na COP-15.

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Numa das páginas do site chamada Panorama que fala de matriz energética limpa eles afirmam (no texto) que 45,9% da produção de energia brasileira vem de fontes renováveis. Ai mostram 2 gráficos, um mostrando a matriz energética brasileira separada em renovável (46,4%, afinal qual o número correto?) e não renovável (53,6%) e outro gráfico as fontes de geração de eletricidade. Mais de 75% é de origem em hidrelétricas.

Ai o Brasil resolve falar em investimentos, é essa parte que mais me irrita. “A estimativa do Ministério de Minas e Energia para o período 2008-2017 indica aportes públicos e privados da ordem de R$ 352 bilhões para a ampliação do parque energético nacional.” “Para a área hidrelétrica estão previstos cerca de R$ 83 bilhões.” “Outros R$ 23 bilhões devem ser aplicados na expansão da produção e oferta de biocombustíveis como etanol e biodiesel.”

Ótimo, são R$106 bilhões que serão investidos hidrelétricas e biocombustíveis, ou seja, 30,12% do total dos investimentos. Tá e os outros R$ 246 bilhões? Vão investir em que? Vento? Nuclear? Gás Natural? Petróleo e derivados? Vejam bem são praticamente 70% de todo o dinheiro e eles não falam onde vão investi-lo, por que será? Não pega bem num site que fala de desenvolvimento sustentável e matriz energética limpa dizer que 70% dos investimentos em matriz energética não terão nada a ver com fontes alternativas de energia. Espero realmente estar errada e que o texto foi feito as pressas e esqueceram de mencionar o quanto vão investir em outras fontes renováveis.

A ideia do site de mostrar o que o Brasil tem feito pelo seu “desenvolvimento sustentável” é louvável, mas não precisava entrar na maquiagem verde, né? Tá querendo enganar quem, Brasil, ainda mais depois do pré-sal?