Texto de Mariene Amorim, Maurílio Bonora Junior e Ana de Medeiros Arnt
Você já ouviu falar em varíola? Pois saiba que esta é uma doença antiga, que foi considerada erradicada graças à vacinação, nos anos 80? A imagem que logo vem em mente, é de alguém com várias feridas ou bolhas na pele.
Essa foi a realidade de muitas pessoas, até meados do século XVIII. A varíola humana é uma doença causada por vírus da família Poxviridae. Quando falamos em família de vírus, quer dizer que não é apenas um vírus (ou uma espécie de vírus). mas várias espécies, que são próximas entre si.
Vamos a alguns exemplos? A espécie Variola virus, gênero Orthopoxvirus. Pertence à mesma família e gênero o vírus vaccinia, da espécie Vaccinia virus, causador da varíola bovina, e que também infecta seres humanos, levando à uma doença mais branda.
Mas têm mais, essa varíola é particularmente importante para a ciência!
A varíola bovina ficou mundialmente conhecida por ter ajudado a humanidade a inventar o conceito de vacinação, graças aos estudos e observações valiosas do doutor Edward Jenner. Assim, a pesquisa de Jenner nos ajudou na confecção da primeira vacina efetiva do mundo, a qual ajudou a combater a varíola humana (https://historyofvaccines.org/) até o final da década de 1970, quando foi declarada erradicada. Mas não é exatamente disso que viemos falar hoje! Tendo em vista o aparecimento do Monkeypox no Brasil, com casos aumentando, achamos interessante trazer informações aqui no blog! Vamos ter uma série de textos voltados para compreender o que é este surto de varíola, cuidados necessários e muito mais!
No primeiro post da série, falamos sobre como uma doença vira Emergência de Saúde Publica de Preocupação Internacional (PHEIC). Hoje nós vamos falar sobre a estrutura do vírus. Vem conosco…
Quem é o tal de Monkeypox?
Vocês já devem ter escutado sobre a varíola símia, ou o Monkeypox. Pois é, o Monkeypox virus (MPXV) também é um poxvírus. Ou seja, um vírus de varíola, e tem sido identificado em pessoas de vários países, fora da sua região endêmica, causando certo pânico.
Uma região endêmica é onde já é comum e esperado encontrarmos casos de determinada doença. No caso do monkeypox, ele é endêmico de algumas regiões da África, principalmente a ocidental e central.
Essa separação geográfica também leva a uma classificação diferente dos vírus da monkeypox, entre aqueles vírus que são da África Ocidental e África Central. A doença nos humanos, causada por aqueles da África Ocidental, tende a ser mais leve e ter uma taxa de morte menor (1 em cada 100 casos) quando comparada com a doença causada por vírus da África Central(1 morte em cada 10 casos). Os vírus causadores do surto atual são bem parecidos com aqueles que circulam na África Ocidental, assim, gerando casos mais leves da doença.
A estrutura do vírus
Mas voltando aos poxvírus, suas estruturas medem aproximadamente 300 nanômetros de diâmetro (0,0003 milímetros). Parece muito pequeno, não é? Mas neste minúsculo espaço, cabe bastante coisa!
Vamos às estruturas do vírus (e seus nomes complicados). Os poxvírus possuem genoma de dupla fita de DNA (dsDNA) envolto por proteínas formando o nucleocapsídeo, uma membrana de cerne que envolve o nucleocapsídeo, corpúsculos laterais, membrana lipoprotéica e envelope. O genoma dessa família de vírus é bem grande, variando entre 170 a 200 kb!. A partícula viral carrega várias proteínas que irão ajudar na replicação viral dentro da célula hospedeira.
Apenas para comparar, o vírus do SARS-CoV-2, causador da Covid-19, têm um genoma de RNA fita simples de 30kb e um diâmetro aproximado de 125 nanômetros (ou 1,25 milímetros dividido por dez mil!). No texto A joia da coroa, tem uma explicação bem detalhada sobre material genético (DNA e RNA), explicando melhor o que são e como a informação do vírus está na estrutura viral.
Figura 1. Estrutura simplificada da partícula do vírus monkeypox, um poxvírus.
Mas e por que é importante saber tudo isso?
Por fim, lembramos que o conhecimento científico, gerado sobre os vírus, nos auxiliam a nos familiarizarmos com o assunto. Todavia, também é fundamental para compreendermos a entender os últimos acontecimentos, os modos de transmissão e combate às doenças. Assim, a pesquisa científica é um dos modos essenciais que podem fomentar boas políticas de saúde para a nossa população!
No Brasil, a Rede Análise vem monitorando o Monkeypox e montou painéis atualizados com dados sobre os casos no país (por estado) e no mundo. Estas informações são importantes para compreendermos melhor a dinâmica da doença, junto com outros estudos sobre transmissão, sintomas, tratamentos e cuidados básicos.
Além disso, como já abordamos no texto anterior, tendo em vista o aumento dos casos no mundo, é necessário termos atenção com doenças como esta, que vem se espalhando pelo mundo, monitorando, testando e compreendendo sua dinâmica na população.
Assim, nas próximas postagens, vamos falar um pouco mais sobre a origem do Monkeypox, transmissão, sintomas e vacinas. Aliás, dando continuidade às nossas abordagens amplas sobre saúde, também vamos abordar o que a OMS tem falado sobre a doença e seguiremos pesquisando e trazendo mais informações para vocês, sobre o tema!
Segue com a gente!
Para saber mais
Petersen E, Kantele A, Koopmans M, Asogun D, Yinka-Ogunleye A, Ihekweazu C, Zumla A (2019) Human Monkeypox: Epidemiologic and Clinical Characteristics, Diagnosis, and Prevention, Infect Dis Clin North Am 33(4):1027-1043
Parcerias do Blogs
Mellanie Fontes-Dutra A Monkeypox/Varíola Símia foi declarada como Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional pela @WHO
Rede Análise (2022) Painéis Monkeypox; análise sobre a monkeypox
Os autores
Ana de Medeiros Arnt, licenciada em biologia, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atualmente é professora do Instituto de Biologia e pesquisadora do EMRC, PEmCie e CEDiCiências, coordena o Blogs de Ciência da Unicamp e é comitê científico do Especial Covid-19 e blog do EMRC.
Maurílio Bonora Junior, Biólogo formado pela UNICAMP e mestre e doutorando em Genética e Biologia Molecular e divulgador científico na área de saúde, atualmente, trabalha com divulgação científica sobre Covid-19 desde 2020 e atualmente é parte do comitê científico e administrativo do Blogs de Ciência da Unicamp e do Especial Covid-19. Além disso, é pesquisador, nerd, amante de cultura pop, música, ficção científica, fantasia e, claro, ciência.
Mariene Amorim Natural de Salvador, Bahia, e biomédica formada pela Universidade Tiradentes – Aracaju, Sergipe. Mestre em Genética e Biologia Molecular pela Unicamp, na área de Virologia. Trabalha com vírus emergentes desde 2015. Atualmente é doutoranda em Genética e Biologia Molecular pela Unicamp, e participa de um estudo genômico-epidemiológico e de multi ômicas do novo coronavírus (SARS-CoV-2), a fim de acompanhar a evolução molecular do vírus, entender o desenvolvimento da COVID-19 e acompanhar o avanço da pandemia na cidade de Campinas e região metropolitana. Mariene também é membro da Força-Tarefa contra a COVID-19 da Unicamp.
Ótima exposição.
Confesso que li várias vezes,mas entendi a importância de nós cuidarmos e cuidarmos do ambiente no vivemos.
Muito obrigada pela bela informação.
Espero que muitas pessoas possam ter acesso a essas informações.
Fantástico
#Ambiente no qual vivemos#
Gostaria de saber que tipos de produtos saneantes podem ser eficientes na "quebra" do envelope e membrana do vírus. Há necessidade de passar por alta temperatura? A lavagem de roupas por exemplo, bastaria sabão ou precisa de água quente?