Ferramentas oriundas da modalidade de ensino à distancia estão cada vez mais presentes no ensino presencial. Caminhamos hoje, ao que parece, para uma fusão das duas modalidades. O conceito de “blended learning” ou ensino híbrido, busca uma fusão deliberada das duas modalidades, em que o estudante aprende, pelo menos em parte, por meio do ensino on-line, com algum elemento de controle do estudante sobre o tempo, o lugar, o caminho e o ritmo. Assim, os sistemas de gerenciamento de cursos ou Learning Management Systems (LMS) tornaram-se ponto de encontro entre professores e alunos, tanto para apoiar cursos presenciais quanto cursos a distância.
No Brasil, a sigla LMS deu lugar à outra sigla derivada da expressão Ambiente Virtual de Aprendizagem: AVA. Ferramentas como Moodle, TelEduc, Blackboard e ILang são exemplos de AVAs populares no Brasil. Ressalte-se que o uso de AVAs não é obrigatório para criar um curso EAD, pode-se combinar ferramentas diversas para montar cursos tais como redes sociais, videoconferência, troca de e-mails e outros.
Existe uma tendência em utilizar o AVA no ensino de Geociências, tanto na modalidade presencial, quanto à distância, em instituições públicas e privadas. Assim sendo, nosso interesse é investigar se o estilo de ensino adotado por professores em cursos na modalidade à distância e presencial pode ser identificado a partir das ferramentas utilizadas no AVA das disciplinas. Este tipo de estudo geralmente é descritivo e utiliza recursos da etnografia virtual ou netnografia para coleta dos dados em ambiente online. O levantamento de dados se dá a partir da consulta direta pelo pesquisador no ambiente virtual de aprendizagem ou através de técnicas de mineração de dados, com o intuito de identificar e registrar a ocorrência de uso das ferramentas.
Diversos estudos visam conhecer como os professores organizam o seu trabalho a partir de análises de ambientes AVA. Lim e Kim (2015) estudaram o uso do ambiente imersivo 3D Second Life integrado a um AVA, avaliando promissor tal uso. Dyckhoff et al (2012) desenvolveram uma ferramenta própria de analytics learning1 para extrair dados de um AVA, procurando ir além dos relatórios de participação tradicionais. Um estudo que se aproxima do nosso interesse em investigar o AVA é o de Lawinscky e Haguenauer (2011). Eles buscaram medir a interação para analisar as ferramentas da plataforma Moodle, a partir de duas categorias de interação: reativa e mútua.
No Brasil, por exemplo, Tonelli et al ( 2015) realizaram um estudo sobre a eficácia dos recursos interativos do ambiente Moodle, no curso Licenciatura em Informática na Modalidade a Distância. Eles avaliaram as ferramentas fórum, videoaula, webconferência, chat e correio, utilizadas ao longo do curso por meio de entrevistas, realizadas com alunos e professores, sobre quais ferramentas proporcionariam melhor interação. Os professores indicaram a ferramenta fórum, seguida de webconferência como as mais apropriadas, porém pouco utilizadas. O estudo de Herlo (2012) confirma a necessidade de capacitação para uso das ferramentas nos AVAs. Segundo ele, quando o professor escolhe uma ferramenta, ele tem em mente o tipo de curso que quer desenvolver e as habilidades que busca em seus alunos. O estudo de Dalfovo (2007) avalia o AVA em um contexto de apoio ao ensino presencial, chegando aos seguintes resultados sobre os recursos mais utilizados: Material (70,3%), Fórum(17,9%), Submissão de tarefas(6,9%), Chat (3,4%) e Correio (1,4%). O autor concluiu que não houve interação efetiva por meio dos recursos de comunicação do AVA entre alunos e professores, predominando o AVA como um repositório de informações. O que não surpreende por se tratar de um curso presencial.
O resultado de análises desse tipo pode indicar a ocorrência do estilo centrado mais no docente, quando a utilização do AVA configura-se como um repositório de conteúdo, ou no aluno quando ocorre uma maior interação entre os participantes e conteúdos. Especialmente para a área de ensino de Geociências, o uso das ferramentas do AVA pode contribuir para um estilo de ensino mais centrado no aluno. Isso demanda habilidades por parte do professor para promover processos interativos de colaboração.
Você já participou como professor ou aluno de um ambiente virtual de aprendizagem? Qual é o seu estilo de ensino?
A produção de cursos online de Geociências
No próximo post iremos introduzir a questão da produção de cursos online e as principais modalidades de ofertas desses cursos.
Referências
DALFOVO, Michael Samir. O ESTUDO DO USO DOS RECURSOS DO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM (AVA) NO CURSO DE GRADUAÇÃO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU (FURB). 2007. 136 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Administração, Universidade Regional de Blumenau – Furb, Blumenau, 2007. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=117121>. Acesso em: 06 maio 2016.
DYCKHOFF, A.L. et al. Design and Implementation of a Learning Analytics Toolkit for Teachers. Journal of Educational Technology & Society, Palmerston North, v. 15, n. 3, p. 58-n/a, 2012.
HERLO, D. VIRTUAL LEARNING ENVIRONMENTS TOOLS USED IN HIGHER MEZIROW,J. (1978) Perspective Tranformation. Adult Education. 100-110
HINE, C., (2007). Connective ethnography for the exploration of e-science. Journal of Computer-Mediated Communication ,12 (2), article 14. http://jcmc.indiana.edu/vol12/issue2/hine.html acesso em 05 de abril de 2016.
KOZINETS, Robert V. Netnografia: realizando pesquisa etnográfica online. Porto Alegre: Penso, 2014.
LAWINSCKY, Fabiana Macieira; HAGUENAUER, Cristina. Análise das ferramentas da plataforma MOODLE do LATEC/UFRJ segundo a abordagem sistêmicorelacional de interação. In: CONGRESSO INTERNACIONAL ABED DE EDUCAÇÃO A DISTANCIA, 17., 2011, Manaus. Anais… . Manaus: Abed, 2011. p. 1 – 10. Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2011/cd/150.pdf>. Acesso em: 06 maio 2016.
LIM, K.; KIM, M.H. A case study of the experiences of instructors and students in a virtual learning environment (VLE) with different cultural backgrounds. Asia Pacific Education Review, Dordrecht, v. 16, n. 4, p. 613-626, 12 2015.
TONELLI, Elizangela; GONÇALVES, João Paulo de Brito; VASCONCELOS, Raiza Teixeira Griffo. Um Estudo sobre a Eficácia dos Recursos Interativos do Ambiente Moodle no curso de Licenciatura em Informática na Modalidade a Distância. EAD em FOCO, [S.l.], v. 5, n. 1, jan. 2015. ISSN 2177-8310. Disponível em: <http://eademfoco.cecierj.edu.br/index.php/Revista/article/view/310>. Acesso em: 06 Mai. 2016. doi:http://dx.doi.org/10.18264/eadf.v5i1.310.
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1 Learning Analytics é o termo utilizado para o processamento digital sobre a análise dos processos de aprendizagem.
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