Patentes Patéticas (nº. 49)

7108178-0-largeLadrões de carro fugindo da polícia em alta velocidade são a base de jogos como Need for Speed: Most Wanted e GTA e de filmes como Bullitt e 60 segundos. Embora seja perigoso na vida real, o roubo de carros pelo método hit and run [bater e correr] é praticamente um patrimônio cultural norte-americano (ou, pelo menos, californiano). Mas isso não significa que todos os americanos adoram perseguições na vida real.

Por isso mesmo, diversas invenções foram criadas ao longo das últimas décadas para tentar frear os fugitivos à força (e atrapalhar a audiência dos plantões televisivos a la Datena). No entanto, nenhuma dessas estratégias patenteadas conseguiu superar a redundância digna de comédia policial do “Método para parar um carro roubado sem uma caçada em alta velocidade, utilizando um código de barras”, o qual seria

um método seguro de parar um carro roubado sem caçadas em alta velocidade, utilizando um código de barras implantado entre a camada interna e a camada externa de um vidro traseiro blindado através dos passos: 1) leitura do código de barras; 2) comparar a leitura do código com aqueles [códigos] de carros roubados armazenados na rede de computadores da polícia; 3) acionar um dos três meios de detenção desta invenção. Esses três meios de detenção são: 1) desligar o motor; 2) furar os pneus traseiros a bala e 3) furar os pneus traseiros por meios mecânicos.

Sim, o californiano Choi Young III resolveu combater criminosos com outro ícone norte-americano, o código de barras. No texto da patente nº. 7.108.178, aprovada em 19 de setembro de 2006, o inventor diz que o atual “procedimento para capturar um carro roubado é comparar o número da placa de licença de um carro suspeito com a lista de carros roubados nos computadores da polícia e depois pedir que o carro pare usando os alto-falantes da viatura policial”, o que não é lá muito efetivo.

Na prática, ele apenas facilita a vida daquele outro clichê americano — o policial de óculos escuros, bigode e comedor de rosquinhas —, transferindo a tarefa da leitura de placas para um leitor de código de barras sem-graça. Mr. Young parece ignorar que a leitura à distância já pode ser feita diretamente, pois todos os veículos policiais americanos têm câmeras a bordo. No entanto, o inventor argumenta que seu sistema é superior porque “localizará um carro roubado mesmo que o ladrão mude os números da placa ou pinte o carro.” Mas e se o meliante mudar as placas, pintar o carro e retirar o vidro traseiro ou o código de barras?

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Os assaltantes podem trocar a placa, mas não vão ligar para esse discretíssimo código de barras. OH, WAIT...

Quanto aos meios de forçar a parada — que seriam a suposta grande inovação do método inventado —, Mr. Young é paranoicamente redundante. Além de oferecer o super-efetivo desligamento do motor por controle remoto, ele ainda propõe a instalação de equipamentos para furar os pneus traseiros em todos os carros. Talvez influenciado pelos games e filmes que citamos, ele nos oferece as opções de esvaziar os pneus dos most wanted com revólveres ou facas instalados nos paralamas traseiros.

Convenhamos, atirar nos pneus traseiros de um carro em fuga ou montar uma barreira de pregos em highways é mesmo muito perigoso (ainda mais se o policial estiver comendo rosquinhas). Mas o que Young não percebe é que se todos os veículos tiverem esses sistemas instalados, os criminosos podem facilmente parar os automóveis assim equipados hackeando o sistema da polícia que aciona tais equipamentos. Se os criminosos forem geeks o bastante, eles podem parar o(s) carro(s) da própria polícia antes de serem detidos — o que seria uma cena típica de comédias da Sessão da Tarde.

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comment 0 comments
  • Artur

    Legal a matéria, porém a análise final ali é meio pobre.

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