Patentes Patéticas (nº. 108)

A senhora está grávida e o parto lhe preocupa? Sua preocupação não é psicológica, mas o que a senhora sente é que precisa de preparo físico para o trabalho de parto? A senhora teme ter pouca força para botar seu filho no mundo, mas não quer apelar para uma cesariana? Então treine seus músculos pélvicos e vaginais, minha senhora! Mas como, a senhora deve perguntar-se, vai se exercitar com um bebê na barriga? Se depender dos conselhos de um trio de inventores alemães, a senhora deve usar um Baloon for preparing for and easing human birth [Balão para preparação e facilitação do nascimento humano]:

Um balão para preparar e facilitar o nascimento humano, que é colocado ao menos parcialmente no interior da vagina da mulher grávida durante a aplicação e que tem, na condição inflada, uma região de aplicação (P) entre sua extremidade externa (A), que é equipada com um bocal (1) para um tubo flexível, e sua porção vaginal com o diâmetro maior (D). O balão tem forma conica em sua região de aplicação (P), que é disposta aproximadamente no terço do comprimento do balão, entre uma porção externa (a) e uma porção interna (b) do balão. O ângulo cônico β na área de aplicação é de 25º ou menor.

Isso mesmo, madame. A senhora mete um balão dentro de sua vagina, infla-o até ele ter o tamanho da cabeça de um pimpolho e faz força para expulsá-lo (o balão, não o pimpolho). Quem mais poderia ter uma ideia destas senão três homens? Thomas Huerland (de Gemering, Alemanha), Robert Ibler (de Olching, ALE) e Gregor Tuma (de Munique) são os inventores da patente norte-americana nº. 6.843.251 [pdf]. O pedido do trio foi feito em 20 de setembro de 2000, mas o USPTO só lhes concedeu a patente em 18 de janeiro de 2005. O invento foi licenciado para a empresa alemã Tecsana Gmbh.

Ao que tudo indica, Huerland et al. só cruzaram o Atlântico porque foram ignorados pelo Escritório de Patentes Alemão. Na discussão do estado-da-arte, eles relatam que se basearam em uma Aplicação Alemã não-examinada (nº. 19715724). Provavelmente essa patente rejeitada deve ser dos três mesmo, embora eles não admitam (o que é só uma hipótese, pois eu não encontrei indícios disso). De qualquer modo, segundo os inventores:

Pela ativação da musculatura do diafragma pélvico [pelvic floor, no original], a mulher grávida pode exercitar-se empurrando o balão para fora da vagina, em preparação para dar à luz e deste modo estimular o processo de dar à luz. A porção do balão localizada dentro da vagina e afunilada conicamente em direção ao pulso leva o orifício do canal de nascimento a dilatar-se de um modo similar ao causado pela cabeça emergente de um bebê.

Do ponto de vista puramente fisiológico e ginecológico, esta é a única explicação apresentada na patente. Não são citados estudos médicos nem experimentos clínicos. Os inventores devem ter conduzido alguns testes, é claro, mas não apresentam a metodologia nem o universo pesquisado. Vão logo para uma conclusão de ordem prática: “O ângulo coônico do balão inflado deve ser, preferencialmente, menor que 25º. Na prática, indivíduos testados encontraram num ângulo de 10º. um valor agradável, no qual a superextensão [i.e. estiramento] do tecido muscular é evitada.” E qual o motivo do formato cônico?

A partir do início dos exercícios ginásticos, esta porção externa cônica tem o efeito de levar gentilmente a um efeito cada vez maior de extensão durante os exercícios que empurram [o balão] e assim asseguram um aumento quase indolor e progressivo da intensidade do exercício.

Os inventores, porém, não apresentam nenhuma recomendação de quando os exercícios devem ser iniciados, nem da frequência, intensidade máxima ou duração da “ginástica” pré-natal. Aliás, eles consideram que não há risco para a mãe ou o bebê e a única precaução que dão é esta:

De maneira a não ameaçar a boca do útero, é recomendável que a parte do balão localizada dentro da vagina tenha um comprimento menor que 15 cm na condição inflada. Na condição de inflação máxima, seu diâmetro maior na região coronal entre a porção de aplicação e a porção interna é de 9 a 10 cm, correspondente ao tamanho da cabeça de um bebê ao nascer.

Entretanto, não se apresenta nenhuma maneira de informar à grávida quando parar de encher o balão. O tamanho seguro tem que ser medido no “vaginômetro” mesmo. A não ser, é claro, que os balões tenham um volume-limite de inflação. Quanto aos materiais usados, são “preferivelmente elastômeros termoplásticos ou borrachas de silicone, que têm uma combinação favorável de características mecânicas, resistência material e biocompatibilidade.”

Ainda assim, podem estourar. Não que haja espinhos numa vagina, é claro, mas como a qualidade destes materiais pode ser bastante variável e como não se recomenda o uso de lubrificantes para o exercício, os balões podem se romper com o atrito (do mesmo modo que pode ter acontecido com uma camisinha antes da gravidez).

Evidentemente, os inventores não apresentam nenhum caso de estouro.

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