Memória Fotográfica: Kusakabe Kimbei

No fim do século XIX, o Império Japonês ainda estava começando a se levantar, graças à adoção de novos costumes e tecnologias ocidentais. Entre elas, a fotografia.

Embora tenha se aberto ao mundo em 1854, foi somente depois de um período anárquico que o Império Japonês foi estabelecido em 1868, com o início da Era Meiji. Rapidamente, o país começou a se modernizar, com a adoção de novos costumes — como a moda ocidental — e novas tecnologias — como as ferrovias, os bondes, o telégrafo, a iluminação a gás e a eletricidade.

Entre as novidades vindas do Ocidente, uma das primeiras a chegar foi a fotografia, por intermédio de artistas estrangeiros como o italiano Felice Beato. Assistente, colorista e discípulo de Beato, Kusakabe Kimbei (1841-1934) pode ser considerado o primeiro fotógrafo genuinamente japonês.

Em 1881, Kimbei-san passa a atuar de maneira autônoma, abrindo um estúdio próprio em Benten-dōri, bairro de Yokohama. Embora suas imagens sejam predominantemente posadas em estúdio, elas procuram retratar um Japão que está ficando para trás, com suas gueixas, seus samurais, seus vendedores ambulantes, fabricantes artesanais de sombrinhas e puxadores de riquixás em capas de chuva de palha.

Por trazer um olhar japonês à fotografia e retratar costumes que começavam a se perder, Kusakabe Kimbei foi um dos mais respeitados e bem-sucedidos fotógrafos no Japão de sua época. Nos anos seguintes, ele abre um segundo estúdio em Honmachi, Yokohama, e um terceiro, no elegante bairro de Ginza, em Tóquio.

A partir dos anos 1890, Kimbei se aventura fora do estúdio e passa a retratar locais como fazendas, quitandas, floriculturas, mercadinhos, templos budistas, jardins e casas de gueixas.

Kimbei

Apesar de sua vida longa — ele faleceu com 93 anos — Kimbei manteve-se ativo como fotógrafo apenas até o fim da Era Meiji, em 1912. Naquele momento, o Japão já estava plenamente urbanizado, industrializado e, em vários aspectos, ocidentalizado.

A fotografia também havia avançado bastante, com máquinas portáteis que haviam reduzido a demanda por serviços de estúdios. Ao ver que sua técnica e seus modelos já estavam no passado, Kimbei fechou as portas do seu negócio e se aposentou. Suas imagens, colorizadas à mão, oferecem um vislumbre de um Japão que só voltaria a aparecer em filmes, animes e novelas de época.

Estas e uma centena de outras fotografias de Kusakabe Kimbei podem ser vistas na coleção digital mantida pelo The J. Paul Getty Museum.

[via Public Domain Review]

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comment 0 comments
  • itachi

    nunca entendi como se colori dessa forma usando a mão, parece real as cores

    • Renato Pincelli

      Itachi, basicamente se usavam diversos materiais para isso, como tintas de anilina, tintas à óleo e aquarelas (no caso do Japão usavam-se aquarelas), que podiam ser aplicadas tanto no suporte fotográfico em si (placas de vidro com imagens positivas ou negativas) ou, mais tarde, à imagem já revelada no papel fotográfico. Esse serviço, evidentemente, não era barato mas foi comum até meados dos anos 1930, quando começaram a surgir os filmes coloridos. A Wikipedia em inglês tem um artigo razoavelmente detalhado sobre o assunto: https://en.wikipedia.org/wiki/Hand-colouring_of_photographs

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