Antes da Revolução havia umas quatrocentas igrejas só em Moscou; hoje, há umas trinta. Naturalmente, a Igreja Ortodoxa foi desoficializada pouco depois que o governo soviético assumiu o poder (a 22 de janeiro de 1918, para sermos exatos), e nacionalizaram-se todas as propriedades eclesiásticas. As igrejas que ainda existem hoje são mantidas por suas congregações e têm de pagar impostos. É proibida nas escolas e instituições a instrução religiosa a qualquer pessoa de menos de 18 anos; pode, porém, ser ministrada em casa. O governo soviético é ateu, mas, por mais paradoxal que pareça, o Artigo 124 da constituição [de 1937] assegura a “Liberdade de culto religioso”. Também é assegurada a “liberdade de propaganda anti-religiosa”. Assim, uma pessoa tem, em teoria, igual liberdade de ir à igreja ou de ingressar num grêmio ateísta. — GUNTHER, John. A Rússia por dentro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1959. pp. 360-61.
Após a desestalinização, o Kremlin adotou uma postura mais pragmática e tolerante com as igrejas (especialmente a Ortodoxa Russa), que tinham grande influência entre os mais velhos, os moradores do interior do país e em comunidades do Leste Europeu. Consequentemente, houve um certo renascimento religioso na década de 1950: segundo Gunther, o número de igrejas subiu de cerca de 4 000 em 1935 para umas 20 000 em 1956; os sacerdotes cresceram de 5 000 para 35 000 no mesmo período. Ainda assim, a religião já não era tão rica quanto antes e estava sempre sob vigilância do Estado: como nas repartições públicas, as paróquias também tinham seus retratos de Lênin.
Menos positiva era a situação da comunidade judaica, que caiu de 6,5 milhões na Rússia cazrista para 2,5 milhões nos anos 1950. Além dos pogroms (tanto durante a revolução quanto durante a invasão nazista durante a II Guerra), a população judaica da URSS foi grandemente reduzida por iniciativas de assimilação cultural e, no pós-guerra, por movimentos de imigração para Israel, país sempre malvisto pelo Kremlin por sua ligação umbilical com os EUA.
Pedro H.
Fonte desses dados?
Renato Pincelli
Pedro, os dados são do livro citado no post - A Rússia por dentro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1959 - e constam nas páginas indicadas: 360, 361 e seguintes.