Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos?

Esse texto não é sobre a importância da amamentação para a saúde da mãe e do bebê ou dos incontestáveis benefícios nutricionais e imunológicos do leite materno (que sim é o alimento mais completo que existe).

Ou do vínculo mãe-filho que se cria com a amamentação e da prevenção de doenças futuras na mãe e no bebê com o aleitamento materno. Enfim, são muitos os benefícios que merecem ser sempre abordados e discutidos.

Mas, esse texto não é sobre isso. É sobre uma discussão muito mais ampla e necessária. É sobre um olhar humano para uma mulher que amamenta ou que quer amamentar e por algum motivo não consegue. E tem também aquelas mulheres que não podem amamentar, como no caso de mães soro positivas.

Não é possível falar sobre amamentação sem considerar o contexto em que essa mãe-mulher está inserida. Contexto social, familiar, econômico, político e como se não bastassem todas essas variáveis, o contexto pandemia.

Não basta o conhecimento e a conscientização sobre a importância do aleitamento materno. Mais do que informar, incentivar, defender, promover, é fundamental proteger e apoiar de fato a amamentação.

Para isso, é preciso, em primeiro lugar, empatia dos profissionais de saúde por essa mulher que está dando o máximo de si para conseguir amamentar, independente de ser por dias, semanas, meses ou anos.

E quando se diz empatia é se colocar no lugar dessa mulher, é acolher, conhecer o seu contexto, validar seus sentimentos e emoções.

É empoderar as mães e não “patologizar” a vulnerabilidade dessa mulher que está muitas vezes sozinha, sem rede de apoio, insegura e com medo desse lugar desconhecido que é a amamentação. Principalmente no caso de mãe de primeira viagem, e, principalmente, em um puerpério na pandemia.

É claro que existem casos de baby blues ou depressão pós-parto em que o acompanhamento psicológico, psiquiátrico e a medicação podem ser necessários.

Mas, cabe aos profissionais de saúde (pediatras, ginecologistas, enfermeiros, nutricionistas, psiquiatras, psicólogos e consultores de amamentação), empatia de tentar entender o porquê das coisas.

Além disso, é preciso respeito e apoio por parte da sociedade pelos direitos de escolha dessa mulher, sejam eles relacionados diretamente ou indiretamente à amamentação. Como a escolha de ser mãe solo, escolha de ser casada ou não, de ter um relacionamento homoafetivo, de ser mãe adotiva, enfim, escolhas que devem ser respeitadas.

Por outro lado, existe uma questão econômica, social e política muito forte. Nesse sentido, é preciso proteger o aleitamento materno a partir de ações e políticas públicas para que as mães consigam amamentar exclusivamente até o 6º mês do bebê. Além de direitos trabalhistas que protejam essa mãe para que não seja demitida assim que termine a licença maternidade.

Em pelo século 21 não dá para seguir romantizando a amamentação nem tampouco a vida da mulher que escolhe e consegue amamentar. Ou esquecer daquelas que não conseguem amamentar por falta de algum tipo de apoio.

É preciso olhar para essas mães como um todo e apoiar a amamentação considerando todos esses aspectos envolvidos.

 

A Semana Mundial do Aleitamento Materno, ao meu ver, poderia ser uma continuidade às reivindicações por direitos e igualdade do Dia Internacional da Mulher.

As mulheres tem que ser respeitadas e apoiadas nas suas escolhas de querer amamentar, ter mais filhos, adotar ou simplesmente não ter filhos. As mulheres não devem ser obrigadas, mesmo que de forma inconsciente, a assumirem um papel e um lugar que a sociedade impõe a qualquer custo. 

Enfim, as mulheres não devem ser “obrigadas” socialmente a serem mães sem ter assegurados seus direitos de trabalhar e/ou estudar. E ao mesmo tempo a amamentação não deve ser uma obrigação e sim um direito da mãe e do bebê.

E voltando a questão “Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos?” com base no tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno 2021.

Sim, a amamentação é uma responsabilidade, em primeiro lugar, da mãe, mas, também dos familiares, dos profissionais de saúde, da sociedade em geral, dos governantes e do sistema político, econômico e social do país.

Enfim, a amamentação é sim uma responsabilidade de todos!

Sobre Helena Previato 15 Artigos
Helena Previato é Doutora em Alimentos e Nutrição pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Nutricionista e Mestre em Saúde e Nutrição pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Especialista em Fitoterapia Funcional pela VP/Santa Casa.

5 Comentários

    • Olá, Alonso! Muito obrigada pelo seu comentário! Isso demonstra que estamos no caminho certo de trazer temas relevantes para a saúde que nos façam refletir e agir de uma forma mais assertiva no que se refere a defesa ativa amamentação!

Deixe um comentário para Alonso Cancelar resposta

Seu e-mail não será publicado.


*