Estatísticas inúteis do futebol. E na ciência?

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Imagem: retidara da gafe do Galvão aqui e editada por Rafael_RNAm. O “p<0,05” é um limite em estatística e significa 0,05% de chance do seu resultado ser fruto do acaso.

Bem amigos do RNAm!!! Estamos aqui para mais um show de transmissão científica. Um show de imagens, de comentários abalizados, e de dados completamente inúteis!

Sim, eu não me conformo com a quantidade de dados inúteis em uma transmissão de jogo de futebol. E isso não é novidade pra ninguém, afinal há muito tempo já se tira sarro de estatísticas do tipo “só em 1843 o Piraporense do Bom Jesus ganhou de 3 a 0 do Itaquaquecetubense em um ano bissexto”. Mas assistindo a Brasil e Chile vi um nível de sofisticação fantástico na coleta de dados.

A todo momento aparecia o quanto cada jogador havia percorrido na partida, ali, em tempo real. Também o quanto desse tempo ele havia andado, trotado e corrido. No fim do jogo um gráfico mostrou a média percorrida pelos times, posse de bola, arrancadas e até um gráfico mostrando a região mais percorrida do campo por cada equipe.

Coleta de dados perfeita. Provavelmente uma câmera fixa ligada a um computador com um programa de analise de imagem fez esse serviço.

Adendo – E não é nada muito novo. Essa mesma técnica é usada para analise de comportamento de camundongos. Deixa-se uma câmera filmando a movimentação do bicho, analisando assim o comportamento depois de tratado com determinada droga, por exemplo. O software faz tudo sozinho.


Mas a pergunta é PARA QUE?!
Afinal as estatísticas no fim do jogo eram praticamente as mesmas entre os dois times (posse, distância percorrida, etc). Mas o Brasil ganhou de 4 a 2, que é uma bruta diferença. Diferença esta que existe, mas que a coleta de dados não pegou.

Ou seja, se tivéssemos só os dados estatísticos da partida, a técnica de coleta de dados durante os jogos ainda não é sensível o suficiente para prever quem ganhou de goleada.

Esse é um paralelo interessante para muitas pesquisas científicas. Muitas áreas estão ainda ajustando sua coleta de dados. E muitas já têm uma quantidade imensa de dados, mas ainda falta aprender a interpretar essa quantidade de informação. Falta fazer isso tudo fazer sentido e ajudar a prever um resultado. É o caso de áreas como a genômica, proteômica e outras ômicas: muita informação gerada e pouco tempo para análise e integração com outros dados.

Uma das críticas ao Projeto Genoma Humano era essa: muito dinheiro pra coleta de dados e pouco para análise. Bom, agora que o esforço foi concluído, realmente os resultados prometidos não vieram tão rápido, mas lentamente virão.

Na Globo, o Galvão ainda está assim: dirigindo uma Ferrari de dados mas sem saber pra onde ir. Mas sigamos coletando (principalmente quando há dinheiro sobrando)! Quem sabe um dia alguém aprende a usar isso tudo.

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Usain Bolt, o corredor QUASE perfeito

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Imagem e texto adaptados do artigo “Taller, heavier: the speedy evolution of the fastest people on the planet” do The Sydney Morning Herald

Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo. Será ele a máquina perfeita de corrida? Parece que ainda não.
Pesquisadores vêm observando o desenvolvimento dos atletas de corrida durante toda a história das competições. Suas medidas, como peso, altura e tamanho de membros, são dados que estão sendo analisados, e pela comparação dos atletas e suas marcas estão-se tirando conclusões interessantes.
Os corredores de velocidade estão cada vez mais altos e pesados. É fato que a população em geral vem crescendo. Cresceu 5cm em média desde 1900. Mas os corredores campeões cresceram 16,2cm neste mesmo tempo. Logo parece haver uma vantagem em ser alto nesta modalidade.
Mesmo nesta foto acima parece que podemos perceber algo diferente. Parece que todos os outros corredores já estão com os corpos esticados, enquanto Bolt parece ainda estar com uma sobra para se impulsionar ainda mais. Aí está: mais alto para aproveitar este impulso, e mais pesado, com mais força para se propelir. Assim ele economiza passos e ganha tempo.
O corredor perfeito
O professor de Ciência do Exercício, da University of South Australia considera Bolt um primor morfológico para correr. “Ele é perfeitamente projetado para passos longos e movimentos rápidos”, disse o dr. Norton. “A parte de baixo da sua perna com relação à de cima é bem longa. O comprimento da perna toda em relação ao corpo todo também é longa”.
Se Bolt tivesse potência compatível ao comprimento da sua perna “ele teria ido abaixo dos nove segundos”. E um homem de 2,13 metros de altura ainda vai correr abaixo dos nove algum dia.
Mas como achar ou “produzir” um campeão destes? Se já se sabe a altura, peso e comprimento de membros ideais, o que impede a produção destes atletas se utilizando técnicas de biotecnologia.
Evolução do mais rápido
Bem, a biotecnologia não está tão avançada neste sentido. Peso e altura são características complexas, que não dependem só de um ou poucos genes.
Mas de certo modo já existe uma seleção natural dessas características, já que muitos atletas acabam se casando entre si e se reproduzindo, o que pode levar a uma incidência maior das características dos atletas nos seus filhos. Mas isto nos leva a outra questão: filho de peixe, peixinho é?
Não necessariamente. Também há o caso do metabolismo ideal. Afinal, corredores rápidos se beneficiam de células que também são rápidas em gerar energia, ao contrario de maratonistas que se beneficiam mais por células lentas. E esta decisão se as células serão rápidas ou lentas acontece na fase de feto do desenvolvimento do indivíduo. Assim o ambiente, desde o feto, até o afinco nos treinos, é fundamental. Não depende só da genética.
Afinal, eu sou alto, poderia até ter as proporções ideais para ser uma máquina de corrida em velocidade. Mas sempre gostei mais de corridas de longa distância. E fora isso, adquiri uma tendência imensa de preferir assistir TV a correr, principalmente depois dos 17 anos. Assim não há genética que salve.
Mas Salve Usain Bolt! (Que na minha opinião ainda segurou bastante neste mundial só pra causar nos outros. Afinal, pra ser um atleta de elite hoje em dia não adianta ter proporções perfeitas, tem que ter muita cabeça também.)
Atualização (18/08/09): A leitora Tatiana mandou um link muito interessante do The Guardian que me lembrou de uma informação interessantíssima: a qual velocidade ele chegou? 44,72km/h entre os 60 e 80 ms!!! Existem áreas em que ele poderia ser multado por excesso de velocidade!!!
Ele deu 40 a 41 passos nos 100ms, enquanto seus concorrentes precisaram de 45 a 48
E realmente o aumento no record é muito maior do que vem sendo atingido nos outros anos desde o começo da marcação eletrônica de tempo. E alguns estatísticos haviam previsto esta marca de Bolt, seguindo as tendências, só para 2030! Claro, afinal o último record é de 1929.
Aguardemos agora o seu prometido 9.4s!
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Atividade física pode NÃO ser um fator tão importante para a obesidade.

Não brigue comigo se você for personal trainer, mas é um fato. Pelo menos um trabalho que concluiu ao comparar duas populações: 172 afrodescendentes de Chicago, e outras 149 do interior da Nigéria.

As mulheres americanas pesaram em média 86,5 quilos, e as nigerianas 57,5. Imagina-se que as magrinhas nigerianas devam, entre outras coisas, ter um maior gasto energético por atividade física que as rechonchudas americanas.
Errado.
As nigerianas gastam 800 calorias por dia em esforço físico, enquanto que as americanas gastam 760. Um pouco menos, mas não chega a ser estatisticamente diferente.
Assim, a balança parece pender mais para a alimentação do que para o exercício. Afinal, a dieta das nigerianas é rica em fibras e carboidratos, com pouca gordura. A das americanas é constituída de 40 a 45% de gordura, e quase tudo comida industrializada.
E fico sabendo disso logo agora que já fiz minha promessa de ano novo para começar uma academia!
Mas vamos tentar ser fortes e manter a promessa. Afinal, se não é tão importante para manter o peso (ainda sim é um fator que conta), o exercício regular ainda é necessário para fortalecer ossos, manter a pressão sanguinea, melhorar níveis de colesterol, reduzir risco de doenças cardiovasculares, diabetes, câncer de mama, entre outros.
Bônus: Aqui vai um desenho fôfo pra quem está cansado das tradicionais “pirâmides”. Um arcoiris alimentar!

Campeão paraolímpico pode correr com prótese nas Olimpíadas “normais”. E isso é bom ou ruim?


O sul-africano Oscar Pistorius conseguiu permissão do Tribunal Arbitral do Esporte para disputar os jogos Olímpicos, não só os paraolímpicos (onde ele já havia ganhado ouro em Atenas).
Como ele não obteve o índice para estas olimpíadas, nós não o veremos correndo com suas próteses Cheetah Flex-Foot, mas ele promete treinar para Londres 2012.
Mas imagine a cena: todos os atletas dos 400m se aquecendo, alongando, dando aqueles pulinhos, ajeitando os óculos escuros, quando aparece um cara com próteses em forma de jota invertido e começa a se preparar para a largada. Imaginem o choque no mundo todo assistindo! Seria muito interessante

Mas autorizar esta participação não foi algo fácil de decidir. Igualdade na competição tudo bem, mas quem disse que a prótese não dá vantagens? Aí seria demais! Se houvesse vantagem sobre os atletas normais, o tribunal proibiria. Foi aí que entraram os cientistas.
Ciência no tribunal
Um grupo de cientistas era contra porque constataram que usando as próteses o atleta usava menos oxigênio que a média. O grupo de defesa alegou que por um percurso maior que o testado a diferença fica insignificante, e que, de qualquer jeito, em corridas de fundo (curtas distâncias) o consumo de oxigênio é irrelevante, já que pela rapidez da prova só usamos nosso metabolismo anaeróbico, que é a liberação de energia rápida. As concentrações de lactato, que é o produto desta liberação rápida de energia no músculo, eram equivalentes às dos atletas normais.
Então, como não dá vantagem, pode usar. Ok.
Bom ou ruim?
Achei um blog que fala sobre como esta decisão é boa para os deficientes, afinal prova que eles podem fazer de tudo e normalmente. Mas o fato de o maior sonho do atleta amputado ser participar das Olimpíadas “de verdade”, acaba rebaixando as Paraolimpíadas, e também pode diminuir a estima daqueles atletas que não tiveram a “sorte” de ter uma deficiência que permita uma prótese eficiente, ficando relegados às Paraolimpíadas.
Talvez na busca pela sua realização pessoal o atleta tenha passado uma rasteira nos seus colegas com necessidades especiais.
Mas o que está feito está feito. E agora, desculpem o trocadilho mas a frase é do próprio Oscar Pistorius, “Agora posso correr atrás de meu sonho”.