O comportamento é hereditário?

Sim, o comportamento pode ser herdado pelos genes. Calma, relaxe, esse estranhamento vai passar. Se bem que hoje em dia, nessa era pós-genômica, parece que as pessoas não se espantam mais quando ouvem isso de genes controlando comportamentos. Claro que não é exatamente isso que acontece, mas saber que há influencia dos genes nas nossas ações me parece um mistério que vale ser estudado. Como isso acontece?

cachorro feioPrimeiro preciso provar que isso acontece. E veja só, vou provar usando cachorrinhos porque eles são fofos. E porque eles são fofos? Porque nós, humanos, selecionamos os cães fofos, não só os de pêlo macio, mas os companheiros, que nos olham nos olhos, que nos entendem. Nada a ver com lobos, concorda? Mas cães são os lobos selecionados por nós para terem um comportamento compatível às nossas necessidades (ou caprichos). A seleção é feita quando deixamos só os totós bonzinhos cruzarem, e assim os filhotes vão ficando cada vez mais bonzinhos. [Veja este vídeo que mostra com o a seleção pelo comportamento levou a mudanças morfológicas e as raposas selvagens foram ficando com cara de cachorrinhos fofos cuti-cuti]

Incrível como eles podem nos entender mais até do que um chimpanzé. Em um experimento do tipo “em qual copo está a comida”, quando o experimentador aponta para o copo que contém comida, chimpanzés continuam apenas chutando um ou outro, mas os cães entendem e escolhem o copo apontado. Entendem até quando apenas olhamos o copo, sem apontar o dedo. É muita sintonia, ou podemos chamar de co-evolução? [sei que tem um vídeo com esse experimento mas eu não achei. Se você sabe qual é mande o link nos comments]

Mas só isso não é prova suficiente. Somos animais também, mas não cães, então temos que provar a ação dos genes no comportamento de nossa espécie.

Um jeito de fazer isso é ver como doenças psiquiátricas, como esquizofrenia, podem ser herdadas, passadas de pais para filhos. E realmente é isso que acontece com esta doença intrigante, a qual transforma uma pessoa conhecida em outra totalmente diferente, perturbada por alucinações, delírios, apática e acaba mudando o comportamento. Diversos estudos mostraram a herdabilidade desta doença.

Primeiro podemos estudar a familia dos doentes para ver se outros parentes também são afetados e comparar a famílias de pessoas não-doentes (tento não usar a palavra NORMAL, acho que não cai bem, concorda?). Se o doente tiver mais parentes também doentes do que uma família genérica, temos uma pista de que está ligada aos genes. Sabemos que a chance da população geral de ter esquizofrenia é 1%. Se seu avô tem a doença sua chance sobe para 3%; um dos pais ou um irmão sobe apra 10-20% e os dois pais sobe para 40-50%.

Ainda sim isso não é uma prova definitiva, porque o ambiente é um grande responsável por definir nosso comportamento, e uma característica da família pode ser derivada da criação nessa família, como o fato de eu ser cabeça-dura, que pode ser genético ou só o exemplo do meu pai, do pai dele, todos cabeças-duras. Coisa de família.

Mas como isolar o ambiente pra poder ter certeza da ação dos genes? Em animais a gente pode trocar os filhotes de família, mas em gente isso não pode ser feito por cientistas, mas o cientista pode ir atrás de pessoas separadas de suas famílias pela vida. E o ideal é achar gêmeos. Primeiro comparando gêmeos idênticos, que têm os mesmos genes, e gêmeos fraternos, que são como irmãos comuns. O que se faz é comparar pessoas doentes e ver se seu irmão é doente também. Se gêmeos idênticos tiverem mais irmãos também doentes do que os irmãos fraternos, desconfiamos que há influência dos genes, certo? Afinal todos os irmão tiveram a mesma criação, sendo a única diferença a diferença no genoma. Mas estudo bom mesmo é o de gêmeos idênticos criados por famílias diferentes, porque esses sim tiveram diferentes ambientes e se mantiverem maior taxa de doença entre irmão é porque essa doença é bem genética. O problema é achar tantos gêmeos doentes e criados separados.

Ainda sim existem outros tipos de estudos, como juntar vários doentes e vários não-doentes e sequenciar o DNA deles todos olhando as diferenças. Se uma diferença estiver presente em vários doentes e pouco em não-doentes, achamos um marcador da doença. Isso poderia ser usado para diagnóstico e pode guiar pesquisas para tratamentos.

Mas claro que as coisas não são fáceis assim. Em doenças complexas, como hipertenção e esquizofrenia, não há um gene responsável pelo problema, são vários genes que interagem. As vezes o problema não é nem na sequência do gene, mas sim na sua região reguladora, e por aí vai.

Então o que sabemos até hoje? Que o comportamento é influenciado pelos genes e que o ambiente também influencia o comportamento. Qual dos dois é mais importante? Aí vai do gosto do cliente, porque ninguém consegue responder isso.

Podemos pensar que o ambiente que permite a expressão dos genes, ou que os genes são os responsáveis pelo desenvolvimento na barriga da mãe e isso define as características comportmanetais; mas o ventre materno é um ambiente, e ele influencia o desenvolvimento; mas abuso de drogas tem fator genético mostrados por estudos como os de cima, então é culpa do gene; mas quem tem essa tendência só a desenvolve quando entra em contato com a droga, logo, ambiente; mas a pessoa que tem a tendência na verdade tem a tendência de procurar coisas novas, e por isso entra mais em contato com o mundo das drogas, logo, é o gene;… Será que isso terá um fim? Será que realmente um tem que triunfar sobre o outro?

Bônus: Veja este vídeo do John Cleese sobre o assunto. Genial

 

Leia mais:

Ambiente social e cultural, ou genética? Qual decide nosso destino?

Abuso na infância altera o comportamento e o DNA

Squeeze my balls, baby

Beber com os amigos está no gene?

Natura: natureba sim, hipócrita não

natura2.JPGPode parecer um post pago mas não é. Vou falar de uma coisa que achei muito legal da Natura, aquela indústria de cosméticos.
Tudo bem que eu tenho uma birra de campanhas “hipongas” como “xixi no banho”, que pra mim só fazem as pessoas se alienarem mais do problema ambiental real que é muito maior do que só reciclar seu lixinho ou fazer suas necessidades fisiológicas em locais inapropriados.
Por isso tinha certo pé atrás com a Natura e todo este clima zen e natureba de Bem Estar Bem, seu maior lema. Também uma coisa que me incomodava é a prática de não utilizar animais de jeito nenhum para testar seus produtos. Isso parecia uma provocação ao meu trabalho que exige que use animais. Mas como no fundo eu também não gosto de usar os bichinhos eu acabei engolindo seco essa, e melhor que não usem mesmo animais só para testarem cremes de pitanga e batons.
Acontece que alguns amigos meus trabalham lá e me disseram que não é só papo furado, e que existe sim uma política, ou mesmo uma paranóia, de se manter padrões rígidos de qualidade e sustentabilidade que nem mesmo são exigidos pela lei ainda! Sendo que a concorrência toca tudo despreocupadamente e continua faturando de qualquer jeito.
natura.JPGO que me levou a escrever este post foi a embalagem de um produto de açaí da Natura. Além de muito bonita, a embalagem vem com uma tabela com “Informações ambientais”. Nela se podem encontrar informações sobre a origem e certificação da matéria prima do produto, e o mais interessante é que mesmo quando a origem da matéria prima não é certificada está lá o 0% correspondente. Não é como ocorre de costume em outras empresas que quando podem colocar “0% gordura trans” colocam escrito gigante em rosa choque na embalagem (mesmo isto sendo balela), mas quando reduzem o volume no pacote escrevem no menor tamanho permitido por lei.
A Natura ganhou meu respeito por esta ação de colocar estas infos ambientais apesar de nem ser obrigada por lei. Sei que também é uma forma de campanha bem marqueteira, mas pelo menos não chegam a ser hipócrita – se é 0% certificado é 0% e pronto, põe lá.
Isso sem falar dos programas sociais, ambientais e até de pesquisa básica, que estimula laboratórios de pesquisa biológica e médica fazendo parcerias.
Esse modelo de negócio e identidade ambiental pode ser mais fácil de manter na área de cosmética em comparação com indústrias mais pesadas e essenciais como farmacêuticas e alimentos, mas mostram que é possível ainda faturar mesmo com esta pegada ambiental, e também pode servir de base para uma regulamentação governamental futura.
Claro que ainda sim teremos o maior dos problemas rondando à nossa porta, que é o excesso de consumo de bens. Mas esta utopia de fazer o mundo consumir menos eu já perdi de vista a algum tempo.

Xixi em Cannes

É isso aí, a tão famosa campanha Xixi no Banho, da F/Nazca para a ong SOS Mata Atlântica, ganhou o prêmio leão de prata em Cannes.
Claro, mais do que justo, afinal deu até no Jornal Nacional:

Ótima campanha para ganhar o leão na categoria Relações Públicas, mas irrisório para a conscientização ambiental. Só pra lembrar, 75% da pessoas que entraram no site da campanha já fazem xixi no banho, fora que há outras maneiras mais eficazes na economia de água como reduzir o tempo do banho ou usar válvulas mais econômicas.
Mas nada como uma polêmica. O povo gosta e dá prêmios!
Leia mais da campanha no Rastro de Carbono:
Durante o banho, lavar a salada antes ou depois da calcinha?
Deu merda! (Cocô no banho)

O que é mais sustentável: comprar CD ou baixar da net?

cd transporte ambiente.jpgPode não parecer uma grande questão da humanidade, afinal parece claro pra maioria que o CD comprado na loja é mais ambientalmente, e financeiramente, custoso que o baixado no conforto do computador de casa.

Mas é bom sempre trazer este tipo de questão aos nossos dias a beira do caos climático, como muitos pregam. E foi isto que este estudo para a Microsoft e a Dell fez.

Qual o custo ambiental de um CD?
Devemos contar claro o material, a produção em si, a embalagem, o transporte até a loja e o transporte até sua casa.
Destas etapas, qual você acha que é a mais cara? Produção? Errou, é o transporte. Tanto o para a loja como da loja para a usa casa

E o custo de baixar da internet?
Sim, isto também custa. Ou você acha que conexão banda larga dá em árvore? Então aqui temos os custos dos bancos de dados onde estão os arquivos (vai uma grana violenta para refrigerar milhares de computadores de serviços on-line que também não dão em árvore) e energia para manter seu computador ligado enquanto baixa o arquivo.

Mesmo assim, o CD na loja sai mais caro para o planeta. Claro que você pode reduzir este problema indo comprar CDs de bicicleta ou patinete (não motorizado, claro). Mas acho que em tempos pós-Napster nós e a indústria fonográfica teremos que optar por uma opção mais $barata$ e sustentável ao mesmo tempo.

E os artistas têm que ajudar também. O pessoal da Dave Mathews Band (muito bons por sinal), estão de cabeça nesta onda verde. Reduzindo suas próprias pegadas de carbono e estimulando os fãs a fazer o mesmo: reciclando latas nos shows ou se cadastrando no site da sua campanha So Much to Save e se comprometendo a ter uma atitude ecológica, os fãs pode baixar musicas da banda de graça. (via Bits o´carbon)

Livros X livros digitais
Mas e os livros, que estão para serem substituídos por livros digitais que podem baixar os textos
da internet? Quem ganha o selo verde: o tradicional de papel ou o digital?

A conta não é tão simples. Por analogia do CD podemos pensar que o digital é melhor. Mas como lembrou o blog Bits o´carbon, os livros normais são de baixo custo, duráveis e feitos de material renovável (e reciclável). Os caros digitais como o famoso Kindle, serão como celulares, estimulando a troca por um novo a cada lançamento. Gerando assim muito lixo.

Por isso fiquemos atentos a novas pesquisas para ponderar nossas escolhas conscientemente.