Rato que pia como um… golfinho!

By @elciorcarvalho

by @elciorcarvalho

Lembrando que a grande notícia científica que fechou com chave de ouro o ano passado foi, não a bactéria “alienígena” de arsênio, mas o rato que pia como passarinho! Se bem que na minha opinião parece mais um golfinho.

 (Veja o vídeo)

 

Sim, ele acaba de mudar a letra da clássica música “Baile dos Passarinhos”do Balão Mágico (mas estranhamente eternizada na voz de Gugu Liberato) para “Baile dos Camundonguinhos”, confira:

Camundongo quer dançar
Quer ter canto pra cantar
Alegria de viver
Tchu tchu tchu…”

Agora, se ele dobrar o joelhinho, der dois saltinhos e VOAR a coisa fica séria.

 

Por enquanto ele só serviu para assustar os cientistas da Universidade de Osaka. Afinal eles estavam fazendo mutações aleatórias, e não estavam procurando mudar a voz do bicho intencionalmente, como andei lendo em alguns lugares.

 

O objetivo do projeto é gerar camundongos com mutações não-intencionais justamente para descobrir novas possibilidades de modelos para pesquisas. Este que pia poderá ser usado agora para estudar o desenvolvimento da linguagem.

Greve na USP matará meus animais?!

greve11.jpgNão que a culpa seja dos funcionários da USP, que por um lado foram apunhalados pelas costas (até onde sei aboliram o RH do Instituto de Biociências e eles perderam plano de carreira e outras confusões), mas o que meus ratos tem a ver com isso eu não sei.
Contarei a história e você será o juiz.
camundongo sem pelo.jpgVou eu para a USP cuidar de meus ratinhos como faço duas vezes toda semana. Na verdade são camundongos pelados sem sistema imune, mas não entremos em detalhes agora.
Como eles não tem sistema imune, a água e a comida tem que ser esterilizadas, o que é feito numa mega panela de pressão chamada autoclave.
A autoclave do laboratório onde crio os bichinhos está quebrada a meses, já que o funcionário não tem tempo de consertar – erro 1. Então estou usando a autoclave geral, que só pode ser operada pelos funcionários do andar – erro 2.
Para minha agradável surpresa, tais funcionários estão em greve e não podem esterilizar a água dos meus ratos – erro fatal!
É aí que o pug torce o rabo: Eu vou passar o fim de semana do dia das mães inteiro sem saber como conseguir água para meus filhotes da próxima vez.
Calcule cada coisa com que os pesquisadores tem que se preocupar, além da pesquisa, é claro.
PS: Conte você também seu caso aqui nos comentários ou no twitter usando a tag #divãdapós

O que um cientista sente ao sacrificar seus animais

lab-mice-540x380.jpgHoje sacrifiquei meu primeiro animal de experimentação.

Um camundongo.

Claro que já entrei em contato com a morte antes. Desde animais de experimentos de colegas ou mesmo morte de parentes. Todas estas ocasiões acabam mostrando uma nova face da morte. Até mesmo já havia matado camundongos invasores de uma antiga república onde morava.

Mas sacrificar MEUS animais, para completar o MEU experimento, e aliás, fazer isto com as MINHAS próprias mãos, coloca a morte em uma nova perspectiva.

Irei ignorar comentários me chamando de sádico matador de animais. Eu gosto de animais. Até mesmo crio gerbils de estimação. Sinto empatia por eles, e este é o problema. Esta empatia que nos coloca no lugar deles, que insiste em colocar a nossa consciência humana nos seus corpinhos de roedores.

camundongo.jpg

Mesmo sofrendo com esta empatia, não quero me livrar dela. Não quero perder esta sensibilidade pelo animal. Sei que seria muito mais fácil para o trabalho, mas a falta de sensibilidade acaba na banalização da coisa toda, e isto seria péssimo. Seria um passo a mais para se sair do trilho ético no lido com animais.

E infelizmente não podemos deixar de usar os animais nos experimentos. Tudo in vitro ou in silico (computador) é apenas uma dica, é mentira, ilusório como um vôo simulado. O experimento que se faz em animal é o primeiro vôo de um piloto. Os animais que tornam nossos experimentos elegantes, e é neles que as respostas se mostram realmente complexas e desafiadoras. Eles são a porta de entrada das hipóteses dos pesquisadores para a “natureza selvagem”.

Aos que já estão acostumados a lidar e sacrificar animais, não riam da minha empatia talvez ingênua neste meio acadêmico da biologia. Continuarei os experimentos até o fim. Mas entendam que não é algo trivial e que devemos sempre ter os animais em um nível de consideração mais elevado que uma simples “cobaia”, palavra que acaba ficando até mesmo pejorativa.

São animais, oras. Mamíferos muito próximos de nós, evolutivamente falando.

Por isso dedico este texto aos meus camundongos sacrificados. Em homenagem à sua importância para minha formação e para o conhecimento humano. Farei o máximo para aproveitar cada dado extraído, cada experiência profissional, e também pessoal, de meu contato com eles.

Obrigado.

camundongo nude.jpg Na verdade este é o meu camundongo. Chama “nude” (pelado), porque não tem pêlos e nem sistema imune. Feinho mas gente boa.