Em um intervalo de 40 anos, o panorama intelectual brasileiro foi agitado por diferentes frentes: publicação de “Populações Meridionais do Brasil” de Oliveira Vianna (1920), fundação do PCB e do Centro Dom Vital, realização da Semana de Arte Moderna (1922), Manifesto Regionalista e Primeiro Congresso Brasileiro de Regionalismo (1926), Manifesto Antropófago (1928), a organização de instituições culturais como o Departamento de Cultura (1935), o I Congresso da Língua Nacional Cantada (1937). A lista é longa, mas somente quero ressaltar que ao final do anos 1950, um novo livro de Freyre esboçaria novamente o desejo de interpretar os processos sociais no Brasil: “Ordem e Progresso”.
Desde 1933, com “Casa-Grande & Senzala: Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal”, Gilberto Freyre havia dado início ao seu ciclo de estudos sobre patriarcalismo. “Sobrados e Mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano”, em 1936, e “Ordem e Progresso: processo de desintegração das sociedades patriarcal e semipatriarcal no Brasil sob o regime de trabalho livre”, em 1959, completam uma trilogia sobre formação, decadência e desintegração da sociedade patriarcal. Nascido em 1900, Freyre, ao final da década de 1950, era um intelectual renomado com 59 anos de idade e recebeu como homenagem do Instituto Nacional do Livro a realização do filme “O Mestre de Apipucos” (quem tiver interesse, pode conferir uma postagem com comentários sobre o curta). Quais imagens do Brasil no final dos anos 50?
Desde o final do Estado Novo, o Brasil teve como presidentes Eurico Gaspar Dutra (1946-1950), novamente Getúlio Vargas (1951-1954) e, após um conturbado período, finalmente Juscelino Kubitschek (1956-1960) fechou a década de sucessivas crises no sistema presidencialista. O país que se transformava, com a urbanização e a industrialização, era narrado filmicamente pelo francês Jean Manzon. Se você quiser saber mais sobre Jean Manzon, visite o site do projeto “Jean Manzon – memórias do Brasil”.
Com o verniz da transformação da década de 1950, Freyre se consolidou como grande intelectual brasileiro, lido inclusive no exterior. O imaginário do Brasil misturado, híbrido cultural capaz de socialmente colocar os antagonismos em equilíbrio, havia superado a aspiração de um “Brasil branco” (como projetado pelo cientista João Baptista Lacerda, participante do Congresso Universal das Raças em 1911) e a crítica à “sociologia nigro-romântica do Nordeste”, expressão de Paulo Duarte sobre Freyre no artigo “Negros do Brasil“, publicado em 1947 pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.
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