Novos Artigos – A mulher no mercado cinematográfico: representações e reflexões de gênero

A-Mulher-no-Cinema

Por Kátia Kishi

A representação e participação da mulher no cinema americano e brasileiro é destaque do dossiê “Políticas e Poéticas do Audiovisual na contemporaneidade: por uma antropologia do cinema”, produzido e recém publicado pela ACENO – Revista de Antropologia do Centro-Oeste, da Universidade Federal do Mato Grosso.

O artigo de Paula Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas/IBGE, e de Paloma Coelho, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, destaca a baixa participação das mulheres em todos os processos cinematográficos, sendo notável a diferença até mesmo no protagonismo da mulher nos filmes. Entre as produções americanas, na última década apenas 18,18% dos filmes foram protagonizados por mulheres, por exemplo, quebrando o que elas chamam de “falso discurso de que, embora as mulheres estejam pouco representadas nas equipes, estariam em igualdade nas telas”.

Mesmo nesses casos que as mulheres conseguem os principais papéis na produção, retorna o problema dos constantes rótulos de Hollywood, pois são personagens majoritariamente padronizadas como jovens (20 a 30 anos), seguindo um padrão de beleza americano, com uma ocupação não-definida e que tem como objetivo alcançar o amor, casamento e família. Destoando dos papéis principais masculinos que não distinguem idade, têm profissões definidas e buscam grandes realizações, como salvar o mundo, resolver graves problemas, etc. A ausência de bons personagens maduros e femininas é crítica constante das atrizes, como foi perceptível no Oscar de 2015.

Segundo as autoras, isso ocorre porque o cinema ainda se baseia nos rótulos de Hollywood, que define “filmes de mulheres” como comédias românticas e dramas, enquanto os “filmes de homens” são de ação, terror e ficção científica. “Segundo esses rótulos, filmes de homens fazem mais dinheiro. Filmes de mulheres são mais difíceis de vender, especialmente se a história tem protagonista feminina. É um círculo vicioso: mulheres seriam apropriadas para fazerem filmes femininos; filmes femininos não fazem dinheiro; então as mulheres têm baixa participação entre roteiristas e diretores na indústria estadunidense.”, evidenciam as pesquisadores.

No Brasil, o panorama não é favorável às mulheres também. As autoras discutem um estudo sobre a baixa participação das mulheres também em equipes de longa-metragens produzidos entre os anos de 1961 a 2010, mesmo tendo aumentado no decorrer das décadas. Na produção, por exemplo, a participação das mulheres era reduzida a apenas 0,68%, na década de 60, e nos anos 2000 aumentou, mas apenas até 23,71% (melhor participação); na fotografia cinematográfica brasileira o caso é mais grave, nos anos 60 não existia a participação feminina, mas nos anos 2000 chegou somente a uma participação de 3,19%.

O artigo reforça que a desigualdade entre os sexos continuam em muitas áreas no mercado de trabalho, como concluem as autoras: “A divisão sexual das ocupações e a diferença salarial entre os sexos representam os principais desafios ainda a enfrentar na promoção da equidade de gênero neste campo. O cinema tem papel fundamental, seja na retransmissão de antigos e tradicionais valores e distinção de papéis entre os gêneros ou, ao contrário, na transformação desses valores, na desconstrução dos rótulos, na sugestão de novas divisões de funções. Por isso, acreditamos que a entrada da mulher neste campo contribui para a construção de novas representações das mulheres.”

Confira o artigo completo na revista ACENO – Revista de Antropologia do Centro-Oeste.

Artigo: Discursos, performatividades e padrões visuais no cinema: reflexões sobre as representações de gênero, o mercado cinematográfico e o cinema de mulheres
Autoras: Paula Alves de Almeida, Paloma Coelho
Revista: ACENO – Revista de Antropologia do Centro-Oeste (v.2, n.3, 2015)

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