Febre amarela já tinha crescimento previsto em zona urbanas

Por Germana Barata

A febre amarela fica normalmente restrita a regiões próximas a florestas, como nossa gigante Amazônia. Quem já visitou a região teve que se imunizar e agora respira aliviado nas cidades de São Paulo e Minas Gerais, as mais atingidas. O rápido crescimento de casos de febre amarela têm preocupado a população pelas altas taxas de mortalidade e a falta de imunidade. Para Karina Ribeiro Cavalcante e Pedro Luis Tauil, autores de um artigo publicado na revista Epidemiologia e Serviços de Saúde (v.25, no.1) no início de 2016, as análises de surtos anteriores no Brasil já alertavam para aumento de casos da doença. “Persiste o risco de transmissão urbana da febre amarela, pois a incidência silvestre da doença tem se expandido para regiões onde existe alta infestação do Aedes aegypti, mosquito transmissor do ciclo urbano da doença”, concluíram os autores.

Em 2016, o país registrou 1,5 milhão de casos de dengue e outros 480 mil prováveis de chikungunya e zika, de acordo com Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. Com um verão particularmente chuvoso na região Sudeste e um sistema de saúde que acompanha a crise econômica do país, temos uma ideia da gravidade do cenário em que a febre amarela ressurge.

Dados do mesmo Ministério confirmaram 797 casos no país, entre 1980 e 2016 com altas taxas de mortalidade, média de 51,8% dos casos. O estudo de Karina, do Ministério da Saúde, e Pedro Luis Tauil, da Universidade de Brasília, indica, entre os anos de  2000 a 2012, 326 casos confirmados de febre amarela no Brasil, com 156 óbitos, ou seja, taxa de letalidade média de 47,8%.

Até o momento, 70 casos já foram confirmados apenas no primeiro mês do ano, com 3 mortes confirmadas em São Paulo e 38 em Minas Gerais. O maior surto recente, em 2000, somou 85 casos durante o período de 12 meses.

Bugio está entre as espécies de macacos com casos de febre amarela no estado de SP. Crédito: Marcelo Cruzeta/Wikimedia Commons

Históricos de surtos em São Paulo

Os surtos de febre amarela no estado de São Paulo não são novidade. Leila Saad e Rita Barradas Barata, especialistas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, publicaram artigo na mesma revista (v.25, no.3, 2016) com análise de três surtos de febre amarela nos anos de 2000, 2008 e 20o9 no estado mais populoso do país. Os surtos somaram 32 casos confirmados que resultaram em 15 mortes. “A letalidade esperada da doença, em todas suas formas, é de 5 a 10% e valores acima deste indicam baixa capacidade da vigilância em detectar casos leves”, afirmaram as autoras do estudo.

Rita e Leila também verificaram, como em outras análises, que os homens são os mais acometidos pela doença, sendo que em São Paulo a incidência foi duas vezes maior do que em mulheres. Segundo as autoras do artigo, “a quase totalidade desses casos ocorreu em indivíduos não vacinados e nenhum caso foi observado em indivíduo comprovadamente vacinado”.

Especialistas descrevem a ocorrência de surtos e casos em primatas a cada ciclo de cinco a sete anos em regiões consideradas endêmicas. “Esta periodicidade deve-se, provavelmente, à renovação das populações de PNH [primatas não humanos], essenciais para a amplificação viral”, explicaram Rita e Leila. O acompanhamento de primatas tem sido uma forma de prevenir o crescimento da disseminação do vírus da febre amarela.

O governo federal anunciou ontem que vai reforçar a vacinação em 11,5 milhões de doses, das quais a metade deve chegar nos próximos dias. “Embora casos de reação adversa possam ser associados à vacina, esta ainda se mostra como a melhor forma de prevenir a doença e a circulação viral”, concluíram as autoras.

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