Carolina Medeiros
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 600 milhões de adultos, com 18 anos ou mais, eram obesos em 2014. Estes números se refletem no Brasil onde foram realizadas o número de cirurgias bariátricas (redução do estômago) teve alta de quase 30% de 2012 a 2015, somando 93,5 mil, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. No Brasil, cerce de 18% da população é considerada obesa (Ministério da Saúde).
Diante desses números, a preparação adequada para a realização da cirurgia bariátrica tem sido motivo de grande preocupação, sobretudo na rede pública de saúde. Estudo publicado na revista Arquivos de Gastroenterologia (vol. 54, n. 1, jan/mar. 2017) analisou o impacto que o modelo adotado na rede pública de saúde gerou na vida dos pacientes. “A adoção de uma abordagem multidisciplinar pré-operatória abrangente levou a melhorias significativas nos resultados e também no cumprimento do seguimento pós-operatório, o que representa uma abordagem reprodutível e potencialmente benéfica no contexto do sistema público de saúde brasileiro”, afirmam os pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas, responsáveis pelo estudo.
A abordagem multidisciplinar inclui perda de peso antes da cirurgia, reforço no acompanhamento nutritional, apoio psicológico, acompanhamento pós-operatório contínuo, informações educativas sobre a obesidade e suas consequências, além de trabalhar o papel dos familiares no apoio ao paciente em todas as fases do tratamento.
A pesquisa acompanhou 402 pacientes, com idades entre 18 e 65 anos, por um período de 18 meses após a realização da intervenção cirúrgica em um hospital público universitário, dos quais 176 passaram pelo programa multidisciplinar. A técnica utilizada foi a de derivação gástrica de Roux-en-Y (RYGB), na qual uma pequena parte do estômago é usada para criar uma nova bolsa de estômago, aproximadamente do tamanho de um ovo, e que passa a ser ligada ao intestino delgado.
Resultados promissores
Os pesquisadores concluíram que ao serem submetidos pelo modelo interdisciplinar de acompanhamento houve uma perda de peso pré-operatória média de 12,2 kg, levando a uma diminuição média do Índice de Massa Corporal (IMC) de 50,6 para 42,1; o que representou uma diminuição média de 11% no excesso de perda de peso. A pesquisa permitiu ainda apontar uma queda de 70% na hipertensão arterial entre esses indivíduos diminuiu, enquanto a prevalência de diabetes caiu de 52% para 38% no mesmo período.
“A adoção de uma abordagem multidisciplinar pré-operatória abrangente levou a melhorias significativas nos resultados pós-operatórios e também no cumprimento do seguimento pós-operatório. Representa uma abordagem reprodutível e potencialmente benéfica no contexto do sistema público de saúde brasileiro”, defendem os autores do estudo.
Apesar de o serviço público brasileiro apresentar uma eficácia no que diz respeito aos procedimentos multidisciplinares com pacientes bariátricos, os próprios autores do artigo lembram que existem apenas cerca de 50 hospitais públicos no país que realizam este tipo de cirurgia. Os procedimentos neles realizados correspondem à 10% de todas as cirurgias realizadas. “Acreditamos que o conceito de abordagem pré-operatório apresenta fortes implicações medicas e sociais, é um caminho possível para otimizar custos e potencializar o atendimento, bem como maximizar o acesso em sistemas de saúde pública de países de baixa e média rendas”, concluem os autores do estudo.
Leia o artigo completo em:
Chaim, EA; Pareja, JC; Gestic, MA; Utrini MP; Cazzo, E. “Preoperative multidisciplinary program for bariatric surgery: a proposal for the Brazilian Public Health System”. Arquivos de Gastroenterologia, v. 54 (1), Jan/Mar. 2017.
Contacte o autor principal:
Everton Cazzo. E-mail: notrevezzo@yahoo.com.br, evertoncazzo@yahoo.com.br