É possível retomar o controle econômico do país?

Por Carolina Medeiros

Entre os anos de 2003 e 2013, a economia brasileira conheceu um modelo de desenvolvimento composto por um conjunto de programas econômicos e sociais, elevação do salário mínimo, ampliação das aposentadorias, expansão da educação e dos serviços de saúde, amplos investimentos em infraestruturas e outros programas que ampliaram a demandam para as empresas gerando mais de dez milhões de empregos formais no país. Sobre este modelo e os fatores associados a ele o economista Ladislau Dowbor, da Faculdade de Economia e Administração, da PUC-SP, publicou a análise “Entender a crise, retomar as conquistas”, na última edição da revista Estudos Avançados, (v. 31, n. 89, 2017), que também traz um dossiê sobre “Saídas para a crise econômica” atual.

Segundo o economista, a situação vivida pelo país nesse período, tratado por ele como um círculo virtuoso, era mais do que um modelo a ser mantido, tratava-se de um caminho, no qual a economia deve responder às necessidades da população, tendo o estado como um articulador importante.  Porém, o autor analisa que “a apropriação privada da política e a apropriação da economia pelos intermediários financeiros provocaram a ruptura” deste modelo, gerando uma instabilidade econômica sentida até os dias de hoje.

Diante disso, Dowbor explicita as causas dessa ruptura e elenca possíveis alternativas para a economia brasileira. Inicialmente ele trata da influência do mercado externo, enfatizando que as exportações representam apenas 10% de toda a economia brasileira. Com isso, não é de responsabilidade do mercado externo suprir as demandas que o mercado interno não consegue resolver. Ou seja, “as soluções no curto e no médio prazos para a economia brasileira concentram-se no mercado interno, no consumo das famílias, nas atividades empresariais e nos investimentos públicos em infraestruturas e políticas sociais”, defende.

Navio Naufragando – Imagem de Divulgação

Outro elemento que precisa de atenção quando o assunto é a retomada do controle econômico é a demanda da população, em outras palavras trata-se de um ciclo, a baixa na economia afeta o consumo da população, e este leva à uma queda da demanda de produtos. Esta por sua vez leva às empresas a produzirem mesmo, o que afeta diretamente a oferta de emprego; e por consequência aumentam as dívidas da população. Segundo o autor, os juros para pessoa física no Brasil são um “assalto” atingindo a média de 156% ao ano, frente a uma média de 3,5% na Europa. Neste cenário, a dívida das famílias cresceu de 19,3% da renda familiar em 2005, a 46,5% em 2015. Já no início de 2017, 58 milhões de adultos, e quase a metade da população entre 30 e 39 anos, se declaravam “negativados”.

A análise traz ainda um panorama dos efeitos dos investimentos públicos na estagnação econômica do país. Segundo o economista, “o gasto com a dívida pública atingiu 8,5% do PIB em 2015, são cerca de 500 bilhões de reais dos nossos impostos transferidos essencialmente para os grupos financeiros. Com isso se esteriliza parte muito significativa da capacidade de o governo financiar infraestruturas e políticas sociais, como saúde, educação e segurança”.

O economista da PUC-SP defende como medidas principais para a solução econômica do país a promoção da redução gradual e sistemática dos juros, uma reforma tributária, e geração de ações transparentes sobre os fluxos financeiros. “Batalhar juros decentes tornou-se tão estratégico como batalhar salários decentes e políticas sociais inclusivas”, conclui.

Dowbor atribui aos grupos financeiros a responsabilidade desta situação, uma vez que, em sua visão, trata-se de um grupo que não produz, mas promove a exploração das populações e ainda lucra com esta situação. “O sistema não é apenas escandalosamente injusto, é economicamente inoperante”, conclui.

Para saber mais:

Leia o artigo completo

Dowbor, Ladislau. Entender a crise, retomar as conquistas. Estud. Av. vol.31 no.89. São Paulo Jan./Apr. 2017.
http://dx.doi.org/10.1590/s0103-40142017.31890010

Acompanhe o blog do economista Ladislau Dowbor

http://dowbor.org

 

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