
Você já ouviu falar sobre James Vicary? Mesmo que nunca tenha ouvido falar sobre ele, tenho certeza que já viu, ou ouviu histórias sobre o que ele chamou de mensagens subliminares. A internet está cheia dessas histórias de que os desenhos da Disney, por exemplo, propagam uma série de mensagens subliminares sobre sexo: castelos em formato de pênis, fumaça que forma palavra “sexo”, etc.
Mas o que é isso afinal de contas? O que são mensagens subliminares? Bom, posso começar dizendo o que NÃO é mensagem subliminar. Mensagem subliminar não tem nada a ver com mensagens do além, ou com seres sobrenaturais que tentam se comunicar conosco de alguma forma (lembra da história sobre tocar os discos da Xuxa ao contrário?). Essa definição de mensagem subliminar é do senso-comum e está errada (tocar o disco da Xuxa é esquisito sim, mas por outros motivos).
Pois então. Em 1957, James Vicary — um pesquisador da área de marketing — fez um experimento onde ele mostrou que “propagandas subliminares” eram capazes de influenciar a escolha de consumidores acerca de algum produto. O que chamamos de mensagem subliminar na psicologia são estímulos (na maioria das vezes estímulos visuais) que são produzidos de maneira tão peculiar que não somos capazes de processar conscientemente. Não somos capazes de processar conscientemente, mas eles “passam” pelo nosso sistema perceptual. Mas como eles estão abaixo de um certo “limiar” (por isso o nome sub-liminar) nosso sistema cognitivo não processa o sinal.
A coisa funciona mais ou menos assim: imagina que esteja assistindo à uma apresentação de slides com fotos da sua família. Entre uma foto e outra, alguém coloca um slide com o símbolo da Skol. No entanto, esse slide aparece na tela por 17 milésimos de segundos. O slide aparece tão rápido que você literalmente não vai “vê-lo”. No entanto, o seu sistema visual vai “captar” essa imagem e ela pode acabar passando para o seu sistema cognitivo (mesmo sem você ter consciência disso). Essa informação então pode acabar influenciando o seu processo de tomada de decisão (você vai preferir Skol à Brahma, por exemplo).
Foi exatamente isso que James Vicary fez em 1957. Ele disse que mesmo que você mostre a marca da sua empresa para as pessoas de maneira subliminar (sem que elas “percebam”), isso vai influenciar a escolha das pessoas — basicamente fazer com quer as pessoas comprem seu produto. Isso foi feito em 1957 e desde de então muita gente já conseguiu mostrar que a coisa não funciona bem assim.
Um estudo bacana publicado em Abril desse ano no Journal of Consumer Psychology mostrou que o efeito de mensagens subliminares, na verdade, depende dos hábitos e necessidades que você tem. Os pesquisadores queriam saber se mensagens sublimares (com a logomarca de dois tipos de bebida: chá gelado e água mineral) influenciariam a escolha das pessoas quando elas estivessem com sede.
Para começar, os pesquisadores mediram o nível de sede de cada participante. Logo após essa medida, os pesquisadores perguntaram aos participantes se eles tinham alguma preferência específica pelas duas bebidas. Depois dessas medidas, cada participante teve que executar a seguinte tarefa: eles viam na tela do computador um punhado de slides com um punhado de letras B’s maiúsculas (ex.: BBBBBBBBB). Em alguns slides, no entanto, apareciam uns b’s minúsculos (ex.: BBBBBbBBBB). O participante tinha que prestar atenção e contar o número de nos slides que tinha a letra b minúscula.
Para metade dos participantes, os pesquisadores colocaram um slide contendo a logomarca do chá gelado entre cada slide de B’s. No entanto o slide com a logomarca aparecia na tela por menos de 20 milisegundos. Após a tarefa, os participantes tinham que escolher uma bebida para matar a sede.
Os resultados mostraram/sugerem basicamente o seguinte:
1) Se você não está com sede (não tem a necessidade de beber água), a mensagem subliminar não funciona pra você: entre a água e o chá, você escolhe o que geralmente tem o hábito.
2) Se você está com sede, mas não gosta muito de chá gelado (sua preferência é a água), a mensagem subliminar tem um efeito, fazendo com que você escolha o chá gelado (mesmo não sendo a sua preferência).
3) Se você está com sede e não tem nenhuma preferência quanto à bebida, a mensagem subliminar te afeta um pouco e você tende a beber o chá.
Resumindo, a idéia de que mensagem subliminar afeta suas escolhas independente de qualquer coisa não é verdade. O efeito vai depender das suas preferências e, principalmente, das suas necessidades. A mensagem subliminar não vai te induzir a fazer algo que não queira (ou que não precise).
Em outras palavras, essa história de que os desenhos da Disney estão cheios de mensagens subliminares “induzindo” as crianças à pensarem sobre sexo é uma balela danada! Talvez os adultos que “vêem” essas mensagens precisam se concentrar mais em suprir as necessidades que os fazem “ver” as mensagens pra começo de conversa….
Fica a dica! 🙂
Me acompanhe no Twitter, no Facebook e no Google+
Referência:
Verwijmeren, T., Karremans, J., Stroebe, W., & Wigboldus, D. (2011). The workings and limits of subliminal advertising: The role of habits Journal of Consumer Psychology, 21 (2), 206-213 DOI: 10.1016/j.jcps.2010.11.004