Monthly Archives: maio 2010

Temas de meio ambiente da década

Inspirada por esse texto Top Environmental Issues of the Decade, 2000-2009 resolvi fazer o meu Top 10 sobre temas de meio ambiente. Os assuntos não estão listados em ordem de importância. Vamos lá:

 

1 – Aquecimento Global

Obviamente que esse tema vai aparecer em 11 de 10 listas como essa, esse é o tema do momento e até a ONU se empenha pra tratar desse assunto, não que isso necessariamente resulte em algo de concreto…

2 – Meio ambiente é assunto

Hoje em dia meio ambiente não é mais coisa de ecologista, hippie e gente alternativa. As pessoas discutem e de certa forma até tentam fazer alguma coisa as vezes, mas ainda tem muita gente achando isso bobagem, infelizmente.

3 – Responsabilidade social e ambiental das empresas

Algumas empresas entenderam que só lucro não é o objetivo único de sua existência, é possível fazer mais que dar lucro e ainda sair ganhando e logicamente aqui não estamos falando de filantropia. Mas qualquer grande empresa sabe que esse assunto é importante para sua marca, no mínimo.

4 – Marina Silva candidata a presidente do Brasil

Quem diria que a ex-ministra do meio ambiente sairia candidata a presidente pelo Partido Verde, esse fato deu uma opção diferente em quem votar nas próximas eleições.

5 – Maquiagem Verde

Esse tema é consequência do assunto do momento ser meio ambiente. Fala-se tanto disso que todo mundo quer fazer parte da moda, quer de alguma forma ser parte da onda, ai aparecem empresas e pessoas se fantasiando de verde pra se sentir parte do assunto, nem que seja de maneira torta.

6 – Biocombustíveis

Aqui no Brasil é a menina dos olhos de muita gente. E toda essa gente acha que é a solução de muitos problemas. Vou logo adiantado pra quem gosta de se iludir, biocombustíveis não é solução pra muita coisa, aliás em alguns aspectos pode até ser sinônimo de problemas. Esse tema requer muito cuidado.

7 – Sustentabilidade

Essa é a palavra da década sem sombra de dúvida. E como toda palavra usada sem critério vai cair na banalização, vão ter que arranjar uma outra pra substituí-la até o fim dessa nova década.

8 – Desastres ambientais

Aqui eu coloco todos os tipos de desastres, causados ou não pelo aquecimento global, por imprudência e descaso do homem ou que acontecem naturalmente. Não sei se por conta da globalização, da internet ou as duas coisas juntas esses desastres não parecem tão distantes e a gente tem uma noção melhor de como afetam a vida das pessoas.

9 – Economia Verde

Seria essa a palavra substituta da sustentabilidade? Nesse tema englobam o emprego verde, os produtos verdes, o dinheiro verde (ops, esse já verde…) e tudo mais que pode ficar verde… Esse assunto começou nessa década, mas com certeza ainda vai ter vida longa nas próximas…

10 – Desmatamento

Acho que essa década que passou nunca se falou tanto de desmatamento, na grande maioria das vezes da Amazônia, provavelmente não deve ter sido a década que mais se desmatou no Brasil, mas com certeza foi a década que mais se falou disso e condenou essa prática.

Belas cenas

Vi essa propaganda no Cartas da Itália do Allan que também escreve no Faça sua Parte. E me lembrei de um post que eu falava de polinização e de como as abelhas e outros insetos são muito importantes para a nós.

Achei as cenas dessa propaganda belíssimas e só quem já morou na Europa sabe o quanto essa época do ano é complicada pra quem tem alergia, lá a gente sente e vê a polinização acontecendo.

Poder & Amor – Resenha

Poder e amor

Quando você lê o título desse livro parece coisa de auto-ajuda ou alguma coisa até mesmo um pouco piegas como o que o poder do amor é capaz de fazer e coisas do tipo, mas não é nada disso, ainda bem! Porque afinal o que isso teria a ver com esse blog?

Nos primeiros capítulos ele dá uma boa balizada no que ele considera como amor e poder e os dois lados de cada um, basicamente ele segue a premissa definida por Martin Luther King, “O poder sem amor é imprudente e abusivo, e o amor sem poder é sentimental e anêmico. […]”. 

O que mais me surpreendeu é que uma coisa não é boa sem a outra, precisamos das duas em equilíbrio para que tudo funcione como deveria. E como ninguém é perfeito o equilíbrio entre os dois é dinâmico e nem um pouco estático, para atingir esse objetivo vai acontecer de cair e tropeçar pra que assim consigamos de fato andar e fazer as coisas darem certo.

O que eu mais gostei do livro foram os relatos práticos dados pelo autor e ele divide esses relatos em três tipos: cair, tropeçar e caminhar. O cair ele conta sobre o fracasso de um de seus trabalhos, de como desprezar o poder ou o amor nas relações não é muito inteligente e não leva a resolução dos problemas Ele conta sobre um trabalho na Índia sobre nutrição infantil que não obteve sucesso.

O relato do tropeçar conta de um caso em Israel, onde vários setores da sociedade judaico-israelense se juntaram para discutir os rumos do país e o outro caso sobre a democracia na África do Sul, em que o país seria discutido entre seus principais atores. Tropeçar pode não te fazer cair, mas é um andar trôpego, instável e inseguro. Quando acontece o tropeço um dos lados (amor ou poder) está mais forte que o outro.

A experiência sobre o andar é sobre o Laboratório de Alimentação Sustentável (em inglês) onde ele pôde presenciar o equilíbrio entre poder e amor e perceber que esse equilíbrio acontece de forma dinâmica, pois estamos sempre errando e tentando acertar o tempo todo.

Esse livro me fez ver que Poder e Amor tem de estar juntos e em equilíbrio na hora de falarmos de sustentabilidade, um sem o outro não funciona pois o amor sem poder é ingênuo e bobo, é como quando pensamos que sustentabilidade é coisa de hippie, xiita, que ser verde é bonitinho ou que é fazer caridade. E o poder sem amor é como o desenvolvimento selvagem praticado até pelas empresas (não que ainda não seja assim, mas existe uma tentativa de ser um pouquinho diferente em alguns casos). Seria a sustentabilidade o amor que falta nesse nosso desenvolvimento que é ecologicamente predatório, socialmente perverso e economicamente injusto?

 

No Xis-Xis a Ísis conta sobre a palestra que o autor deu na Conferência Ethos.

Conferência Ethos – 2010

Como já tinha falado anteriormente esse ano mais uma vez estive na Conferencia Ethos pelo 99 Olhares da Natura.

Sobre o evento em si

Acho que precisamos de um novo modelo de Conferência. Acho, não tenho certeza, que ficar todo mundo sentado assistindo algumas pessoas falarem com tempo marcado sobre alguns assuntos que alguém decidiu que é legal e interessante pode não ser assim tão empolgante. Não sei se os debates não foram conduzidos da melhor maneira possível, ou se é o modelo que cansa mesmo, mas criar novas maneiras de se interagir pode ser uma boa pra fazer o evento parecer mais produtivo. As vezes a sensação que me dá é que tudo que é debatido nessas salas ficam lá e não são levadas para mais pessoas, os assuntos parecem ficar limitados ao momento.

Acho que eles até tentaram uma nova fórmula com o Open Space e foi bem interessante pois deu oportunidade das pessoas falarem e ouvirem mais sobre seus assuntos de maior interesse, espero que esse espaço seja o início para mudar o jeito de fazer essa conferência. Talvez seja eu quem está querendo inovação demais, mas é que eu ouvi tanto sobre inovação lá…

Sobre o conteúdo das palestras

Algumas foram muito bem escolhidas, outras nem tanto, algumas eu queria que tivesse durado mais, outras nem tanto. Obviamente que nada é perfeito e as palestras que mais me chamaram a atenção foram a da Janine Benyus falando de Biomimética e a palestra do André Trigueiro. Ambas por motivos completamente distintos.

Janine Benyus é uma cientista natural americana que já escreveu 6 livros sobre Biomimética, que segundo ela é uma disciplina emergente que dá soluções sustentáveis imitando designs e processos da natureza, exemplo clássico: velcro. Uma cientista num evento de empresas, as vezes penso que as empresas precisam mais de ciência do que de números, planos estratégicos e metas. Veja a palestra dela no TED para entender o que a natureza pode fazer por nós, e me dá desespero de pensar que a gente pode estar destruindo soluções!

André Trigueiro é jornalista da Globo News e comanda o programa Cidade e Soluções, é comentarista da CBN e sua palestra foi uma das poucas a serem aplaudidas de pé ao final. Pra mim foi muito empolgante ver alguém falar verdades num evento que pra mim estava sendo só troca de elogios e rasgação de seda entre as empresas, não sei se todo mundo interpretou assim, mas não é para muitos falar que todo mundo vai ouvir esse ano políticos falando de ciclovias, bicicletas e afins, mas que no fundo é difícil eles abrirem mão da contribuição em cascata da indústria automobilística e do caixinha na campanha. Trigueiro ainda falou que precisamos de uma ruptura urgente com esse modelo de desenvolvimento, mas acho que isso pode não ter sensibilizado muito a plateia porque todos devem achar que isso já deve ter acontecido…

Sobre a ação 99 Olhares que me levou até a Conferência

Como que funcionou isso? A Natura como contribuição (patrocínio, apoio, chame como quiser) para o evento comprou um lote de 99 inscrições e ao invés de distribuir entre seus funcionários ou pessoas que ela queria agradar resolveu fazer uma ação convidando pessoas da internet engajadas no assunto para dar seu olhar no evento. Adorei a ideia não só porque eu fui convidada, mas o fato de chamar gente que pode contribuir de alguma forma com o evento é muito bom aumenta a variedade, mesmo porque esse é um evento bem caro que não sei se muitas das pessoas que foram teriam essa oportunidade. Se você esteve no evento e quiser compartilhar seu olhar, por favor utilize a caixa de comentários!

Dispersando

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Confesso que nunca fui muito fã de podcasts, mas gravar um foi bem interessante. Eis que saiu a página oficial do Podcast do Science Blogs Brasil – Dispersando – e o segundo episódio que conta com a minha participação, além é claro dos queridos vizinhos de condomínio Igor S, Rafael, Fernanda, Carlos e Kentaro.

O tema desse podcast foi generalizações e eu critiquei as generalizações feitas por ai para os produtos verdes da moda. Vale a pena conferir!

Poder & Amor – Palestra

Recebi o livro Poder & Amor da Editora Senac para resenhar e essa semana terão 2 palestras do autor do livro : Adam Kahane. Ainda estou lendo o livro e irei na palestra de quinta, portanto esperem uma resenha aqui em breve.

Seguem os dados das palestras que acontecem essa semana em São Paulo.

 

Palestra Liderança e lançamento do livro Poder e Amor

Data: 11/5, terça-feira

Local:  Senac Consolação – Salão Nobre – R Dr Vila Nova, 228

Horário: 19h30

Gratuito

Inscrições: eventosgd2@sp.senac.br ou 0800 883 2000

Informações: www.sp.senac.br

 

Palestra sobre o livro Poder & Amor

Data: 13/5, quinta-feira

Horário: das 18h30 às 20h

Local: Hotel Transamérica – Av. das Nações Unidas, 18.591 – São Paulo, SP

 

Quem é Adam Kahane…

 

O canadense Adam Kahane, especialista em resoluções de conflitos empresarias e sociais, vem ao Brasil entre 11 e 13 de maio para lançar o livro Poder & Amor – teoria e prática de mudanças sociais (Editora Senac São Paulo). Kahane foi facilitador de importantes conflitos como o Cenário Mont Fleur, na África do Sul, que tinha o objetivo de ajudar no processo de democratização pós-Apartheid, e o genocídio na Guatemala. Ao longo de vinte anos já trabalhou na resolução de problemas complexos em diversos países, entre eles Israel e Índia, ajudando a solucionar o conflito com a Palestina e resolver a questão da desnutrição infantil. No Brasil, Adam realiza trabalha sustentáveis em parceria com o Instituto Ethos em projetos para empresas como Grupo André Maggi, Samarco, Alcoa, Fiat, Natura, Itaú, Basf e Santander.  Kahane faz duas palestras em São Paulo, dia 11 no Senac  Consolação e dia 13 no Instituto Ethos. Nas apresentações, o especialista debate sobre como equilibrar as forças do poder e do amor na resolução dos desafios do mundo contemporâneo, nas empresas, no governo e na sociedade.

“Em meu trabalho diário e nesse livro eu tento ajudar cada vez mais pessoas que lidam por um mundo melhor. Procuro inspirar os agentes de mudanças – seja nas empresas, no governo ou na sociedade civil – a serem mais efetivos em suas ações. Por isso, divido minha experiência e tudo o que aprendi lidando com processos e cenários complexos”.

Esqueça os banhos curtos

O único pecado do texto abaixo são os exemplos americanos, que muitas vezes não se encaixam na nossa realidade brasileira, mas de resto não tem como não concordar com que ele fala. Pode parecer radical demais em alguns pontos, até mesmo pessimista, mas é a mais pura verdade, acreditar que só fazer a nossa parte é o suficiente para revolucionar o mundo é muito pouco.

Aqui no blog cito muito exemplos de empresas porque acho que são elas que tem que mudar independentemente da decisão de compra do consumidor, afinal, antes de mais nada antes de ser consumidor qualquer pessoa é um cidadão que quer ver as coisas certas sendo feitas no mundo em que vive. Claro que o governo pode e deve ajudar, mas como parece que eles não se preocupam muito com esse assunto (vide COP-15) a pressão tem que acontecer dos cidadão também.

Jogar toda a responsabilidade de salvar o mundo no colo das pessoas é muito fácil, mas a pergunta que não quer calar é: quem realmente quer mudar?

Segue o texto com tradução livre minha.

Esqueça os banhos curtos
Por que mudanças pessoais não são iguais a mudanças políticas.

 

banho

 

Por Derrick Jensen
Alguém em sã consciência acharia que um catador de lixo pararia Hitler, ou que compostagem acabaria com a escravidão ou traria a jornada de 8 horas de trabalho, ou que cortar lenha ou carregar água tiraria as pessoas das prisões czaristas, ou que dançando nuas em torno de um fogo teria ajudado a pôr em prática o Ato de Direito ao Voto de 1957 ou o Ato de Direitos Civis de 1964? Então, por que agora, com todo o mundo em jogo, achamos que podemos salvar o mundo com soluções pessoais?

Parte do problema é que temos sido vítimas de uma campanha sistemática de desorientação. A cultura do consumo e da mentalidade capitalista que nos ensinou a substituir os atos de consumo pessoal por resistência à política organizada. O filme "Uma Verdade Inconveniente" ajudou a criar uma consciência sobre o aquecimento global. Mas você notou que todas as soluções apresentadas são relacionadas com consumo pessoal – trocando lâmpadas, calibrando pneus, dirigindo menos – e não tinha nada a ver com diminuir o poder das empresas, ou interromper o crescimento da economia que está destruindo o planeta? Mesmo que cada pessoa nos Estados Unidos fizesse tudo que o filme sugere, as emissões de carbono nos EUA teriam uma redução de apenas 22%. O consenso científico é que as emissões devem ser reduzidas, em todo o mundo, pelo menos em 75%.

Ou vamos falar da água. Nós ouvimos tantas vezes que o mundo está ficando sem água. Pessoas estão morrendo de falta de água. Os rios estão acabando por falta de água. Devido a isso, precisamos tomar banhos mais curtos. Vê a desconexão? Por tomar banho sou responsável por secar aquíferos? Bem, na verdade não. Mais de 90% da água usada pelos seres humanos é utilizada pela agricultura e indústria. Os restantes 10% são divididos entre os municípios e a vida dos seres humanos individuais. Coletivamente, os campos de golfe usam tanta água quanto os municípios. Pessoas (tanto as pessoas humanas e os peixes) não estão morrendo porque o mundo está ficando sem água. Eles estão morrendo porque a água é que está sendo roubada.

Ou vamos falar de energia. Kirkpatrick Sale resumiu bem: "Nos últimos 15 anos a história foi a mesma a cada ano: o consumo individual residencial, carro particular, e assim por diante, nada mais é do que cerca de um quarto de todo o consumo, a grande maioria é comercial, industrial, empresarial, agronegócio e governo [ele esqueceu militares]. Por isso, mesmo se todos nós andássemos de bicicleta e tivéssemos fogões à lenha o impacto seria pouco significativo sobre o consumo de energia, aquecimento global e poluição atmosférica."

Ou vamos falar de resíduos. Em 2005, a produção de resíduos per capita municipal (basicamente tudo o que é posto para fora na calçada), nos EUA, foi de cerca de 753 kg. Vamos dizer que você é um ativista radical de vida simples e reduz seu resíduo a zero. Recicla tudo. Você usa sacolas de pano. Você conserta a torradeira. Seus dedos saem pra fora do seu tênis velho. Isso não é o suficiente, apesar de tudo. Uma vez que os resíduos urbanos não incluem apenas os resíduos residenciais, mas também resíduos de escritórios do governo e das empresas. Aí você marcha para os escritórios, panfleta redução de resíduos e convencê-os a reduzir seus resíduos o suficiente para eliminar a sua parte dela. Então, eu tenho uma má notícia. Os resíduos municipais são apenas 3% da produção total de resíduos nos Estados Unidos.

Eu quero ser claro. Não estou dizendo que não devemos viver de uma maneira mais simples. Eu vivo razoavelmente simples, mas eu não finjo que não comprar muito (ou não dirigir muito, ou não ter filhos) é um ato político poderoso, ou que é profundamente revolucionário. Não é. Mudança pessoal não é igual a uma mudança social.

Então como, com o mundo em jogo, viemos a aceitar estas respostas absolutamente insuficientes? Acho que parte disso é que estamos em uma encruzilhada. Uma encruzilhada é o lugar onde você tem várias opções, mas não importa qual opção você escolha, você perde e bater em retirada não é uma opção. Neste ponto deve ser muito fácil reconhecer que cada ação que envolve a economia industrial é destrutiva (e não devemos fingir que a energia solar fotovoltaica, por exemplo, nos isenta disso: eles ainda necessitam de mineração e infra-estruturas de transporte em todos os pontos e processos de produção, o mesmo se pode dizer de todas as outras chamadas tecnologias verdes). Então, se nós escolhermos a opção um -  participar avidamente da economia industrial – acho que poderemos, no curto prazo, ganhar, porque podemos acumular riqueza, o marco de "sucesso" nesta cultura. Mas perderemos, porque ao fazê-lo desistimos de nossa empatia, nossa humanidade. E nós realmente perderemos, porque a civilização industrial está matando o planeta, o que significa que todos perdem. Se nós escolhermos a opção "alternativa de vida mais simples", causando menos danos, mas ainda não evitando a economia industrial de matar o planeta, podemos, a curto prazo ganharmos, porque nós começamos a nos sentir puros, e não teremos que desistir de toda a nossa empatia (apenas o suficiente para justificar não interromper os horrores), mas mais uma vez nós realmente perderemos, porque a civilização industrial ainda está matando o planeta, o que significa que todos perdem. A terceira opção, atuando de forma decisiva para impedir a economia industrial, é muito assustadora por uma série de razões, incluindo, mas não se restringindo ao fato de que perderíamos alguns luxos (como a eletricidade), ao qual estamos acostumados, e o fato de que quem está no poder pode tentar nos matar se impedirmos seriamente a sua capacidade de explorar o mundo – nenhuma das razões altera o fato de que essa opção é melhor do que um planeta morto. Qualquer opção é uma opção melhor do que um planeta morto.

Além de ser ineficaz para causar os tipos de mudanças necessárias para pôr fim a esta cultura de morte no planeta, há pelo menos quatro outros problemas com a percepção de &quot
;viver simplesmente"* como um ato político (ao contrário de vida mais simples, porque isso é o que você quer fazer). O primeiro é baseado na noção errônea de que os seres humanos inevitavelmente prejudicam seu ambiente. Vida mais simples como um ato político consiste unicamente na redução de danos, ignorando o fato de que os humanos podem ajudar a Terra, bem como prejudicá-la. Podemos recuperar córregos, podemos nos livrar de invasores nocivos, podemos remover as barragens, interromper um sistema político inclinado na direção dos ricos, assim como o sistema econômico, podemos destruir a economia industrial que está destruindo o mundo real, físico.

O segundo problema – e esse é um bem grande – é que ele incorretamente atribui a culpa ao indivíduo (e mais especialmente para o indivíduo, que são particularmente impotentes) em vez de culpar realmente aqueles que detêm o poder neste sistema. Kirkpatrick Sale mais uma vez diz: "Todo sentimento de culpa individualista o-que-posso-fazer-para-salvar-a-terra é um mito. Nós, como indivíduos, não estamos criando a crise e não podemos resolvê-la. "
O terceiro problema é que ele aceita a redefinição do capitalismo de cidadãos para consumidores. Ao aceitar essa redefinição, reduzimos nossas formas potenciais de resistência a consumir e não consumir. Os cidadãos têm uma gama muito maior de táticas de resistência disponíveis, incluindo o voto ou não votar, correndo para o escritório, panfletando, boicote, organização de lobby, protestando e quando um governo se torna destrutivo a vida, a liberdade e a busca da felicidade, têm o direito de alterá-lo ou aboli-lo.

O quarto problema é que o desfecho da lógica por trás de uma vida simples como um ato político é o suicídio. Se cada ato dentro da economia industrial é destrutivo, se quisermos parar com esta destruição e se estamos relutantes (ou incapazes) de questionar (muito menos destruir) as infra-estruturas intelectuais, morais, econômicas e físicas que fazem com que todo ato na economia industrial seja destrutivo, então podemos facilmente passar a acreditar que vamos causar o mínimo possível de destruição se morrermos.

A boa notícia é que existem outras opções. Podemos seguir os exemplos de militantes corajosos que viveram os tempos difíceis que eu mencionei, Alemanha Nazi, a Rússia czarista, que fizeram muito mais do que manifestar uma forma de pureza moral, que se opuseram ativamente contra as injustiças que os cercavam. Podemos seguir o exemplo daqueles que lembraram que o papel de um ativista não é continuar no sistema de poder opressor mantendo a integridade tanto quanto possível, mas sim confrontar e derrubar esses sistemas.

*viver simplesmente refere-se ao movimento Simple Living que é um estilo de vida caracterizado por consumir apenas o suficiente para se manter vivo.

Texto original em inglês: http://www.orionmagazine.org/index.php/articles/article/4801/

Imagem: http://www.flickr.com/photos/demenciano/280171857/

Quer um exemplo?

Ano passado eu dei uma sugestão de briefing de como poderia ou deveria ser uma campanha de sustentabilidade. Eis que encontrei uma que fala de sustentabilidade sem nem falar essa palavra, que não subestima a inteligência do consumidor e não pede pra ele comprar mais e mais. Espero que tenha mais exemplos como esses por ai, tentei encontrar mas não achei exatamente como eu gostaria. Provavelmente esses exemplos tenham um apelo a mais pra mim pois eu conheci essas pessoas e os lugares mostrados.