Em 1927, o fisiologista húngaro Albert Szent-Györgyi (1893-1986) isolou uma substância presente em limões e laranjas que parecia prevenir o escorbuto. Só que ele não conseguiu identificá-la quimicamente. Parecia um açúcar, mas tinha propriedades ácidas.
Szent-Györgyi — talvez inspirado pelo reconhecimento científico da própria ignorância presente no nome do Raio X —, chamou aquela substância de ignose, isto é, “eu ignoro” em quimiquês. A ideia parece digna de um IgNobel de Química, mas não é.
Talvez menos modestos (ou temendo altas confusões), os editores do Biochemical Journal não gostaram da denominação proposta e pediram um novo nome. Szent-Györgyi sugeriu, então, godnose. Depois de alguma discussão, eles resolveram deixar os nomes simples de lado e partiram para um composto: ácido hexurônico. Atualmente, a substância é conhecida como ácido ascórbico.
Não precisava ter complicado tanto. O que Szent-Györgyi havia descoberto era a Vitamina C!
Outras substâncias com nomes ignóbeis são listados a seguir, em ordem alfabética (os ácidos seguem a ordem pelo adjetivo):
Ácido Angélico — derivado da planta Angelica archangelica;
Bastardano — oficialmente chamado (em inglês) de ethano-bridged noradamantane, mas o apelido surgiu já no paper sobre sua síntese, publicado em 1987;
Basketano — o apelido se deve à sua semelhança estrutural com uma cesta [basket, em inglês] e é bem mais fácil de pronunciar do que o nome oficial: pentaciclo[4.4.0.02,5.03,8.04,7]decano (C10H12)
Ácido Constipático — ácido alifático derivado de um líquen nativo da Austrália. O nome correto é ácido 2-(14-hidroxipentadecil)-4-metil-5-oxo-2,5-dihidrofuran-3-carboxílico;
Cubano — um hidrocarboneto com 8 carbonos arranjados em forma de um cubo e que não tem qualquer relação com charutos (ou com Cuba);
Cumeno — outro nome do isopropilbenzeno, derivado da Cuminum cyminum;
Ácido Diabólico — uma série de longas cadeias de ácidos dicarboxílicos com comprimentos diferentes. Nomeado a partir do radical grego Morre, diabo! diabollo, que significa induzir a erro;
Espermina — um dos fatores do crescimento envolvido no metabolismo celular. Também há a espermidina;
Fenestranos — uma classe de compostos com estruturas que parecem janelas (fenestra, em latim). Os mais conhecidos são o [4,4,4,4]fenestrano e o [5,5,5,5]fenestrano;
Ácido Morônico — ácido 3-oxoolean-18-en-28-óico é um nome mais politicamente correto.
Nonanal — um aldeído derivado do nonano e não da nonna, a avó italiana;
Ácido Orótico, a.k.a Erótico — é o ácido pirimidinocarboxílico ou vitamina B13, que de erótica não tem nada. A alcunha erótica é frequente por atos falhos (intencionais ou não) de digitação ou impressão;
Pikachurina — sim, essa proteína retinal foi batizada em homenagem ao Pikachu(!);
Psicose — um açúcar de baixa caloria (fornece 0,3% da energia da sucrose) e, até onde se sabe, não tem relação alguma com o filme homônimo de Hitchcock;
Ácido Quadrático — um composto orgânico bem quadradão (mas não tanto quanto o Cubano);
Vomitoxina — uma micotoxina que pode estar presente em grãos. Não deve ser muito agradável ingeri-la.
Menções honrosas: espamol, luciferase, clitorina, vaginatina, fornacita, butanal (um clásssico nas aulas de química no colegial) e metanal (outro clássico infame).
Roberto Takata
Os aldeídos são um prato cheio: etanal; pentanal.
Tem o escatol - o nome sugere bem a fonte e o cheiro que tem.
[]s,
Roberto Takata
murilo
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