Patentes Patéticas (nº. 144)

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Que horas são? Para os fumantes, toda hora é hora de acender “um cigarro para adiar a viagem, / Para adiar todas as viagens, / Para adiar o universo inteiro” como diriam os versos de Fernando Pessoa. Stephen Drake talvez não perdesse a hora de fumar, mas encontrou um bom motivo pra juntar um relógio a um acendedor de cigarros:

Um relógio de pulso é apresentado, tendo um acendedor de cigarros incorporado ao longo da borda de um dos lados do estojo do relógio. O acendedor de cigarros inclui uma abertura que contém um chumaço de algodão embebido em um líquido inflamável e um pino removível equipado com um chumaço de algodão similar e material de aço na ponta do pino para ser esfregado numa  superfície de sílex no lado externo do acendedor.

De quebra, o Wrist Watch and Lighter Combination [Combinação de Cigarro e Acendedor] de Stephen Drake ainda facilita a resposta de duas perguntas frequentes para os fumantes: “tem fogo?” e “tem horas?”. Com o invento patenteado sob número 4.086.756 [pdf] em 2 de maio de 1978, é possível sempre ter fogo e horas e ainda responder ambas as perguntas com um único gesto.

Porém, esta dupla utilidade socializante não foi o que inspirou Mr. Drake. O inventor, natural de Brentwood, Nova York, buscava resolver outro pequeno problema enfrentado por quem fuma:

O objetivo principal da presente invenção é proporcionar um relógio de pulso que tenha um acendedor de cigarros incorporado, de modo que o acendedor esteja prontamente à mão [ou melhor, ao pulso] sempre que for preciso acender um cigarro, de modo que o carregador, sempre levado no pulso, elimine a necessidade de alcançar um bolso para o mesmo.

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Este pequeno aperfeiçoamento poderia ser facilmente instalado em qualquer relógio de pulso (vide Fig. 4). E ainda seria, segundo o inventor, “ideal para uso de um homem enquanto está sentado, quando é mais difícil extrair um objeto como um isqueiro de um bolso da calça”. O modo de usar é igualmente simples, mas não custa reproduzir aqui sua descrição:

No uso operativo, o pino é simplesmente removido do respectivo receptáculo e segurado pela cabeça 21 enquanto a extremidade do pino de aço é atritada através da superfície de sílex 28 na guia 27. Assim, o sílex produz uma faísca que incendeia o algodão de modo a produzir uma chama que pode ser usada para acender um cigarro ou similar.

E não faltam similares para cigarros de tabaco, como os cachimbos, os charutos, os baseados, as pedras de crack, etc. Mas não é este o problema. O problema talvez seja o próprio sistema de acendimento, baseado em atrito e algodão. O pavio (24, na Fig. 3), embebido em líquido inflamável — fluido para isqueiro, de acordo com a patente — seria muito pouco durável, tendo que ser constantemente trocado à medida que fosse queimado pelo uso. Também o fluido inflamável necessitaria de reposição frequente pois seria volátil, mesmo embebido em outro chumaço de algodão (17) e abrigado numa pequena câmara metálica (14) exposta ao sol ou ao próprio calor do corpo.

Não sabemos se Drake chegou a comercializar seu invento, mas a ideia acabou sendo aperfeiçoada, o que acaba tornando-a um pouco menos patética. Na Amazon, por exemplo, é possível encontrar um relógio de pulso combinado a um isqueiro mais tradicional, do tipo que basta apenas apertar para acender.

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