Os primeiros organismos a viver na Terra eram seres unicelulares bastante parecidos com as atuais bactérias. Algumas, eventualmente, reuniram-se e formaram seres ainda microscópicos, mas multicelulares. Da evolução desses organismos surgiu o que os cientistas chamam de proto-animal, uma criatura de tamanho visível. Foi no período Ediacarano (de 635 a 541 milhões de anos) que apareceram esses proto-animais, conhecidos como rangeomorfos.
Por um bom tempo, rangeomorfos foram os senhores da Terra, mas até recentemente tão pouco se conhecia sobre sua aparência e como eles viviam que eles pareciam mais um fracasso que sucumbiu durante a Explosão Cambriana. Quem está lançando uma nova luz sobre a morte e vida ediacarana dos rangeomorfos são dois pesquisadores da Universidade de Cambridge: Jennifer Hoyal Cuthill e Simon Conway Morris.
Num estudo publicado na edição de 9 de setembro da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), Cuthill e Morris apresentam a reconstrução que fizeram da vida dos rangeomorfos a partir de evidências fósseis. Pequenos fósseis: os rangeomorfos eram criaturinhas de 10cm a 2m, com extensões fractais, parecidos com samambaias. Por isso mesmo, durante muito tempo foram confundidos com plantas.
Apesar da delicadeza de seus corpos, os rangeomorfos deixaram suas marcas fossilizadas nas rochas. E foram essas marcas que a dupla de cientistas usou para desenvolver modelos em 3D para esclarecer como os rangeomorfos se alimentavam e se reproduziam.
“Nós sabemos que rangeomorfos viveram muito fundo no oceano para obter energia por fotossíntese, como fazem as plantas.” — explicou Cuthill num comunicado à imprensa — “É mais provável que eles absorvessem nutrientes diretamente da água do mar através da superfície de seus corpos. No mundo moderno, seria difícil que animais tão grandes sobrevivessem apenas de nutrientes dissolvidos”.
Mas as coisas eram bem diferentes no período Ediacarano, quando os rangeomorfos não tinham competidores. Eles estavam bem-adaptados ao ambiente que encontraram: seus corpos cheios de ramificações aumentavam a superfície corporal exposta à água, permitindo maior absorção de nutrientes, carbono e oxigênio. Por mais de 100.000 anos, os rangeomorfos floresceram livremente e foram o ápice da vida na Terra.
Aí veio a Explosão Cambriana… A partir de 542 milhões de anos, e ao longo de 30 milhões de anos, uma série de mutações no ambiente e nos próprios organismos causou uma diversificação explosiva de formas de vida. Com cada vez mais espécies lutando pela sobrevivência, a corrida armamentista foi extrema. Foi durante a Explosão Cambriana que novos organismos desenvolveram novas formas de nutrição — incluindo a possibilidade de se alimentar de outros organismos.
Enquanto aqueles organismos começavam a virar bichos que se comiam, os rangeomorfos foram ficando à míngua e acabaram extintos por falta de defesas e de nutrientes, cada vez menos disponíveis para absorção. Acabaram virando comida. Ainda assim, um reinado de 94 milhões de anos não é coisa que se despreze…
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Referência
CUTHILL, Jennifer F. Hoyal. MORRIS, Simon Conway. Fractal branching organizations of Ediacaran rangeomorph fronds reveal a lost Proterozoic body plan. PNAS September 9, 2014 vol. 111 no. 36 13122-13126. Published online before print August 11, 2014, doi: 10.1073/pnas.1408542111
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[via I Fucking Love Science]