Sou linguista e apaixonada pela ciência que pratico. Mas desde meus primeiros dias de graduação me deparo com as mesmas expressões de surpresa e estranhamento:
– Linguística? O que é isso? Tipo Letras? Quantas línguas você fala? Ah, você ensina gramática?
Poucas pessoas sabem do que se trata, algumas arriscam uma vaga ideia, por aproximação com os cursos de línguas.
Alguns filmes têm representado a profissão: seja como personagem ( como a doutora em Neurolinguística de Para sempre Alice ou o cartógrafo e linguista Milo Tatch de Atlantis – o Reino Perdido ), seja na representação de línguas novas criadas especificamente para o filme por linguistas (como a língua na’vi de Avatar, criada por Paul Frommer, ou a língua atlante, criada por Mark Okrand). Nossas próximas postagens vão discutir essas representações.
Porém, o desafio permanece: como explicar o que eu faço de maneira que seja compreensível para quem me questiona com um olhar ao mesmo tempo curioso e perdido?
Para responder a este enigma nós, do Curso de Linguística/UNICAMP, estamos inaugurando este blog de divulgação científica, para apresentarmos questões de linguagem de forma acessível e dinâmica. O nosso campo de trabalho é amplo e diversificado e as perguntas de pesquisa que nos movem tomam por objeto fenômenos presentes no cotidiano de todas as pessoas. Somos seres de linguagem, constituídos pelas línguas que falamos e por meio das quais nos situamos no mundo e na relação com os outros.
Aliás, de tão presente em nossa vida, a linguagem não parece constituir um problema, um objeto de pesquisa… Como legitimar, então, um conhecimento especializado, o da Linguística, em um campo em que todo mundo parece já saber do que se trata?
“Decifra-me ou devoro-te” , ameaçava a Esfinge aos que ousavam enfrentá-la. Nesta escrita do primeiro post de nosso blog científico, essas palavras me assombram, ao mesmo tempo que apontam um caminho. Temos um grande e instigante enigma: a linguagem, as línguas e seu funcionamento. Sua forma, seu significado, seu modo de estar no mundo, na sociedade, sua relação com a mente, com a ação, com as máquinas, com a história…
Então, nos acompanhem, vamos juntos percorrer os variados caminhos que os estudos linguísticos abrem para a compreensão do mundo em que vivemos.
O linguista é refém do falante; o que o falante disser, o linguista tem que aceitar, porque, sob qualquer movimento impulsivo, o falante é que tem a razão, e não o linguista. O cientista natural, por outro lado, canta de galo: o que ele disser, o receptor obedece, ou obedece.