Por Wilmar D’Angelis
Foi lançada em 25/03/21 uma nova linha de smartphones da Motorola.
Trata-se dos “novos dispositivos da Motorola” (como eles referem): o moto g10, moto g30 e moto g100. A grande novidade neles é que, a partir de agora, qualquer pessoa que tenha um desses dispositivos poderá utilizá-los nas línguas Kaingang (Jê) e Nheengatu (Tupi-Guarani). Modelos anteriores da marca (moto g8 power, moto g8, moto g 5G+, motorola edge e edge+, razr, motorola one hyper, motorola one fusion e fusion+) receberão a atualização para o Android 11 e, com isso, também terão Nheengatu e Kaingang disponíveis. Essa funcionalidade também está presente nos aparelhos que passam a ser comercializados fora do Brasil. Um número grande de APPs foi também traduzido para estar incorporado ao telefone, e até configuração de teclado teve que ser trabalhada por engenheiro da Motorola para atender ao uso específico das duas línguas.
Para desenvolver isso, a Motorola investiu em um projeto para o qual o Prof. Wilmar D’Angelis foi convidado a coordenar (autorizado pelo Departamento de Linguística e o Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, instituição à qual o pesquisador está vinculado), e para o qual o docente montou e treinou duas equipes de tradutores indígenas: 4 kaingang e 4 falantes de Nheengatu (2 do Alto Rio Negro, um do Baixo Tapajós e um do Médio Amazonas). Foram mais de 20 mil strings (expressões, frases, títulos e comandos), passando de 80 mil palavras, que eles traduziram no curto espaço de 3,5 meses. O projeto todo ocupou a equipe por intensos 8 meses (de julho/20 a fev/21). Os tradutores foram remunerados e receberam um notebook de última geração e boa conexão de internet para desenvolver o trabalho.
O fato, inédito, contribui à visibilidade e reconhecimento de importantes línguas minoritárias, e influi diretamente em sua vitalidade, fortalecendo-as. Sem contar que o projeto tem outras repercussões além do que está nos smartphones: os falantes de Nheengatu, de diferentes regiões, agora colaboram entre si regularmente, estão trabalhando no projeto de um dicionário unificado e na constituição de uma Academia (indígena) da Língua Nheengatu.
O fato é também um reconhecimento do trabalho intenso e bem-sucedido do Grupo de Pesquisa InDIOMAS e da ONG Kamuri em revitalização de línguas indígenas, que ganhou visibilidade em 2019, no Ano Internacional das Línguas Indígenas.
Os tradutores que trabalharam neste projeto foram:
Kaingang: Selvino Kókáj Amaral, Sueli Krengre Cândido, Miguel Rarĩr Ribeiro e Roselaine Emílio. Nheengatu: Ozias Yaguarê Yamã de Oliveira Aripunãguá, Edison Cordeiro Gomes, Lusineia Albino de Menezes, e Cauã Nóbrega da Cruz (este último, aluno da Unicamp). Revisores de Nheengatu: Michéli Carolíni de Deus Lima Schwade (professora do IFAM, Manaus) e Mateus Coimbra de Oliveira (professor da UFAM)
Confira mais informações sobre este projeto pioneiro clicando aqui.
Assista o vídeo de lançamento da atualização dos aplicativos clicando aqui.
Assista o vídeo de apresentação dos tradutores que participaram no projeto clicando aqui.
Essa informação me surpreendeu. Muito legal saber desse trabalho e que uma grande empresa abraçou a ideia.
Sucesso a todos os envolvidos!