Carybé, o ilustrador

Por Margareth Artur, colaboradora do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi-USP)
Publicado originalmente no Portal de Revistas USP.

Hector Julio Páride Bernabó, o pintor nascido em Buenos Aires e naturalizado brasileiro, o Carybé (1911-1997)
Hector Julio Páride Bernabó, o pintor nascido em Buenos Aires e naturalizado brasileiro, o Carybé (1911-1997)

Hector Julio Páride Bernabó, o pintor nascido em Buenos Aires e naturalizado brasileiro, o Carybé (1911-1997), como é conhecido, inspirou-se no aspecto religioso afro-brasileiro em suas criações  -, expresso, especificamente, nas ilustrações da Coleção Recôncavo e Das Visitações da Bahia. Marcelo Mendes Chaves, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades em    Integração da  América Latina – Prolam/USP, analisa essas duas publicações em artigo recentemente publicado na Revista USP (n. 103, 2014), mostrando a influência da arte e da cultura  africanas na plástica do  artista, e deste na arte brasileira.

Carybé se dedicou à temática afro-brasileira em suas obras a partir da década de 1950, quando já morava em Salvador, começando, então, a produzir as ilustrações para a Coleção Recôncavo, época na  qual passou a interessar-se pelo candomblé, dando início aos estudos aprofundados nesse assunto. Marcelo analisa Festa do Bonfim, Festa de Yemanjá, Temas de Candomblé e Orixás, quatro dos dez  cadernos da Coleção que é um documento dos costumes afro-baianos, um registro dos valores religiosos de raiz africana.

Em Das Visitações da Bahia, com textos de Jorge Amado e Carybé, Marcelo escolhe, dentre as sete xilogravuras da publicação, duas para sua análise: Visitação de Omulu e São Roque ao Leito de Morte de Maria Salomé na Rua das Laranjeiras, 33, em que se constata a aproximação entre os deuses africanos e os santos católicos, o “sincretismo das religiões católica e africana e da riqueza da arte baiana”.

As duas coleções mostram a arte de Carybé no auge de sua expressão, tendo as ilustrações como frutos desse processo, importante tanto no “movimento de renovação das artes plásticas baianas, da qual  Carybé foi atuante, bem como na patrimonialização da religião de matriz negro-africana iorubá”, sobre a qual ele pesquisou e tornou-se adepto: ” Além de de se dedicar à pesquisa sobre o candomblé …”,  observa-se, no artista, “um comprometimento com a religiosidade de matriz negro-africana, e não simplesmente um interesse artístico nessa temática”.

“Em torno da plástica de Carybé, revelam-se ensinamentos tradicionais, valores ancestrais africanos,… , compondo uma extensa produção com mais de 5 mil trabalhos…” Por mais de 50 anos a questão  religiosa afro-brasileira, com seus mitos, ritos e significações, perpassou a obra de Carybé, hoje patrimônio nacional, também em outras técnicas: “mural, pintura e escultura,… gravura, cerâmica,…  figurinos e cenários”, mas é nas ilustrações que se observa, acentuadamente, a dedicação do artista ao tema.

Artigo: Caribé o ilustrador
Autor: Marcelo Mendes Chaves
Contato: revisusp@edu.usp.br
Revista: Revista USP (n. 103, 2014)

Imagem do Artigo: Visitação de São Cosme e São Damião a 7 de Setembro de 1967, xilogravura, 1974
Imagem do Artigo: Visitação de São Cosme e São Damião a 7 de Setembro de 1967, xilogravura, 1974
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