Edições Anteriores – 70 anos dos “mil sóis” em Hiroshima

Por Kátia Kishi

“…os japoneses estavam prontos para render-se e não era necessário atingi-los com essa coisa horrível.”

General Dwight Eisenhower, 1963

(34º presidente americano e Comandante Supremo das Forças Aliadas na Europa durante a 2ª Guerra Mundial)

No dia 06 de agosto de 1945, às 8h15, a bomba nuclear de urânio “Little Boy” foi lançada em Hiroshima no Japão pelas Forças Armadas dos Estados Unidos. Três dias depois, a bomba nuclear de plutônio “Fat Man” também foi lançada em outra cidade japonesa, Nagasaki. As bombas atômicas fizeram parte do Projeto Manhattan, primeiro grande projeto que reuniu os mais renomados cientistas e técnicos (entre eles 20 prêmios Nobel), liderados pelo físico J. Robert Oppenheimer, que coordenava pesquisas nos centros universitários de Columbia, Princeton, Chicago e Berkeley. O projeto custou, na época, U$ 2 bilhões.

O plano inicial, era lançar as bombas na Alemanha antes do fim da guerra, mas com a rendição dos alemães em 07 maio de 1945, as bombas foram usadas no Japão. As cidades pré-selecionadas para os bombardeios foram Hiroshima (cidade industrial com bases militares e um importante porto), Kokura (principal arsenal), Kioto (centro industrial) e Niigata (com porto, siderurgias e refinarias). Porém, Kioto foi substituída por Nagasaki devido à sua importância histórica e religiosa, que só foi atingida porque Kokura tinha baixa visibilidade no dia (o que trouxe a expressão japonesa “Sorte de Kokura”). O ataque matou entre 130 mil a 220 mil pessoas no total, os dois países não entraram em um consenso sobre o número exato.

70 anos após a primeira explosão, o relatório da Cruz Vermelha destaca que os sobreviventes continuam sofrendo com o impacto psicológico, além de uma alta incidência de leucemia e outros tipos de câncer e, se a exposição à radiação tiver contaminado os genes dos sobreviventes, os seus descendentes também podem desenvolver problemas de saúde. (Confira mais na imagem)

Imagem de CICV: www.icrc.org
Imagem de CICV: www.icrc.org

Os japoneses e americanos ainda discordam sobre o ataque. Segundo pesquisa do Instituto Pew Research Center, realizado em fevereiro deste ano,  56% dos americanos consideram justificável o lançamento das bombas, enquanto 79% dos japoneses afirmam que não. A discordância surge porque o governo americano justificou que o ataque adiantou o fim da 2ª Guerra Mundial e forçou a rendição dos japoneses, que entre várias investidas, atacou a base naval americana de Pearl Harbor, às 8h de 7 de dezembro de 1941, e levou a morte de mais de 2 mil americanos.

Imagem de Pew Reserach Center: http://www.pewglobal.org/
Imagem de Pew Reserach Center: http://www.pewglobal.org/

Segundo a crítica de Ronaldo Mourão publicado pela revista Scientiae Studia (vol.3n.4, 2005), “Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma”, explica que as fontes oficiais norte-americanas alegam que o ataque salvou centenas de milhares de soldados americanos, porém, estudos indicam que o massacre tinha o objetivo de impressionar os soviéticos.

Na crítica, Mourão faz um breve resgate sobre o contexto que possibilitou os EUA acolher tantos cientistas talentosos e a pressão sobre o governo americano pela descoberta alemã da fissão nuclear em 1938 e com a proibição da Tchecoslováquia de exportar urânio, feita pela Alemanha, dando a entender que os planos dos nazistas era a criação de uma bomba nuclear. Mas, segundo Mourão, o Projeto Manhattan só teve apoio governamental após o ataque japonês à Pearl Harbor.

Após a rendição da Alemanha, descobriu-se que a suposta bomba alemã nunca chegou a existir. Supostamente, Hitler não confiava nos físicos alemães e historiadores indicam que o físico Werner Heisenberg tentou atrasar o projeto atômico alemão.

Sobre o ataque das bombas em território japonês, Mourão defende em seu texto que após a rendição da Alemanha, “o Império japonês, não era mais do que uma sombra de si mesmo”, e já era esperado o pedido de rendição do Japão, tanto que em entre 9 e 10 de março de 1945, foram lançadas mais de 600 toneladas de bombas em 16 cidades japonesas e 1.665 toneladas de bombas incendiárias em Tokio, o que levou a morte de mais e 100 mil civis em uma noite. Uma estimativa imprecisa calcula que de março à agosto morreram 700 mil civis japoneses.

Mourão conclui que, apesar das controvérsias, uma das principais causas que motivaram o ataque por meio das bombas nucleares, foi para evitar que os soviéticos continuassem seus planos de conquistar a Ásia, como ocorreu na Alemanha, e, assim, mostrar sua supremacia bélica. No dia 15 de agosto de 1945, o imperador japonês Hirohito anunciou incondicional rendição do Japão aos Aliados, com condições favoráveis aos Estados Unidos.

Confira o texto completo na revista Scientiae Studia.

Artigo: Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma
Autor: Ronaldo Rogério de Freitas Mourão – mourão@ronaldomourão.com
Revista: Scientiae Studia (vol.3n.4, 2005)

Share