A construção do autismo na mídia brasileira

Criança com autismo em atendimento psicológico
Criança com autismo em atendimento psicológico

por Carolina Medeiros

No artigo “Da invisibilidade à epidemia: a construção narrativa do autismo na mídia impressa brasileira”, os autores se propõem a discutir de que maneira o autismo foi discutido e abordado pela mídia impressa brasileira no período de 2000 a 2012. O estudo publicado na revista Interface – Comunicação, Saúde e Educação (v.19, n.53), apontou que o autismo tem sido cada vez mais objeto de atenção e discussão da mídia. A análise apontou que dentre as 297 matérias publicadas no período, cujo tema central era o autismo, a ciência, seguida pela saúde, são os contextos mais frequentes dessas narrativas jornalísticas, o que representam 32% e  23,5% respectivamente.

A pesquisa aponta ainda que o termo autismo/autista aparece em matérias de outras editorias: direito (10,2%), arte e entretenimento (8,8%), educação (7,5%) e política (5,7%). Há também matérias nas quais o termo é apenas mencionado, e a editoria de ciência é novamente a com mais matérias (31,3%), seguida pela de saúde (14,5%). Vale ressaltar que apesar de muitas vezes esses textos não representem a realidade da doença, eles têm seu valor no sentido de dar forma e conteúdo para debates acerca do autismo.

O levantamento realizado trouxe a tona algumas questões como, embora não se trate de uma doença contagiosa, muitas são as matérias que falam em “epidemia de autismo”, que na visão dos autores está associada ao crescente número de diagnósticos. Mas na visão dos autores não houve aumento de diagnósticos, e sim aumento da visibilidade do autismo. “Não foi a epidemia que fez o autismo visível, mas a visibilidade do autismo que fez a epidemia”, afirmam.

Outra questão levantada pelo estudo é em relação ao crescimento de pesquisas neurocientíficas e das políticas públicas, mas o autismo ainda é um transtorno permeado por controvérsias. A principal delas é em relação à origem do transtorno. Se por um lado cresce o número de estudos que buscam identifica um marcador biológico que contribua para a detecção precoce e o tratamento do autismo, por outro, ainda não é possível afirmar que haja uma única causa orgânica para esse transtorno.

Para os autores, “a mídia impressa assume um papel importante nas concepções socialmente partilhadas sobre o autismo no Brasil, não apenas por veicularem informações de cunho científico sobre o tema”. E tal efeito é percebido não apenas pelos leitores dessas narrativas jornalísticas, mas principalmente pelos familiares dos autistas, que freqüentemente recorrem aos jornais e revistas para buscar informações e legitimarem suas reivindicações por melhores condições de tratamento da doença.

Foto: Marcos Santos (USP/Imagens)

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