Revista centenária de medicina investe nas redes sociais para conquistar mais leitores

Germana Barata

Capas de 1916 (vol.1, nº.2) e de 2015 (vol.93, nº3)
Capas de 1916 (vol.1, no.2) e de 2015 (vol.93, no3)

Uma revista científica que completará 100 anos em 2016 (1a edição), cujo fundador foi o conhecido Dr. Arnaldo, diretor da Faculdade de Medicina que ajudaria a compor a futura Universidade de São Paulo, e que hoje soma mais de 21 mil curtidas no Facebook e comemora recordes consecutivos de downloads de artigos, que se aproxima de meio milhão, no Portal de Revistas da USP, maior portal universitário de periódicos da América Latina.

A Revista de Medicina da USP, uma publicação feita por alunos da Faculdade de Medicina da USP, é trimestral, bilingue (inglês além do português) e que não está indexada no SciELO (Biblioteca Científica Virtual Eletrônica), nem está qualificada nos estratos mais elevados do Qualis da Capes, mas cumpre importante papel entre os futuros médicos, pós-graduandos, profissionais da saúde e qualquer um interessado por medicina.  Trata-se da primeira revista estudantil  a ser incluída no Portal de Revistas da USP.

Gustavo Gameiro, editor-chefe há um ano e meio, é jovem, cursa o terceiro ano de medicina e iniciou seu contato com a revista cursando uma disciplina da Faculdade de Medicina em parceria com o Instituto de Psiquiatria que pretende ensinar a prática de editoração de um periódico, contando para isso com tutores, geralmente ex-alunos e docentes. Desta forma, a revista também funciona como uma escola formadora de articulistas, pareceristas e editores, uma vez que estabelece padrões de qualidade de redação, edição e avaliação de artigos científicos.

“O profissional de saúde em geral é muito ligado à cultura dos artigos científicos, sua principal fonte de informação para pesquisar o que tem de mais novo em sua área e isso acaba se refletindo nos acessos à revista”, conclui Gameiro que aposta também no tratamento de temas que despertam o interesse de especialistas e até do público em geral, vide a última edição que traz artigo “Susceptibilidade a infecções: imaturidade imunológica ou imunodeficiência?”, de Antonio Condino-Neto, que apresenta questões chave relacionadas ao desenvolvimento imunológico, às infecções e causas humanas, de interesse geral, com perfil didático que auxilia a formação do jovem médico, mas também informa profissionais de saúde e interessados.

O editor-chefe Gustavo Gameiro

O editor-chefe Gustavo Gameiro

A Revista de Medicina acumula desde o início deste ano mais de 407 mil downloads, uma média de 58 mil por mês. São cerca de 8 a 10 artigos por edição, com uma taxa de rejeição que gira em torno de 50%, sempre por meio de revisão por pares duplo cego (em que a identidade do autor e do parecerista é ocultada). “Reativamos o perfil do Facebook e começamos a fazer chamadas semanais e tivemos um aumento nas submissões [de artigos]”, conta Gameiro sobre a estratégia de usarem o perfil da rede social mais popular no Brasil e no mundo. Estratégia mais barata e eficiente do que os cartazes que a equipe costumava divulgar em eventos acadêmicos de medicina.

Gameiro planeja uma nova fase para a revista com a equipe de outros seis acadêmicos e um conselho consultivo formado por docentes da Faculdade de Medicina da USP e de outras instituições. A capa deve ganhar novos contornos para as comemorações do centenário da publicação, além de uma edição especial, dividida em três volumes para tratar da história institucional da publicação, outra para fazer um balanço das áreas de atuação de cada departamento da Faculdade de Medicina e outro ainda com convidados internacionais que farão previsões sobre a educação médica no próximo século.

Além disso, um novo estatuto está sendo delineado e determinará novos cargos de edição, uma composição mais internacional para o conselho consultivo e o corpo de pareceristas e aumento na proporção de artigos em inglês em direção à indexação internacional, como o Scopus.

Uma centenária publicação feita por jovens e com o aval dos docentes da Faculdade de Medicina da USP parece uma excelente combinação para investir na qualidade de artigos e publicações acadêmicas. A estratégia de uso das redes sociais combinada com os propósitos voltados para a formação médica e o tratamento atual e instigante dos temas é, sem dúvida, um trabalho a ser observado e experimentado por outras publicações acadêmicas.

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