Uma revisão sobre Nobel de Medicina que contribuíram para a cardiologia

por Germana Barata

A nova edição da revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia traz uma interessante revisão sobre os ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia que contribuíram para a cardiologia desde sua criação, em 1901. De acordo com os autores, foram um total de 204 laureados até 2013, dos quais 33 (sendo apenas 2 mulheres) ou 16 estudos (15%) tiveram relevância para a cardiologia. A grande maioria dos premiados tinha origem nos Estados Unidos ou Europa, e o restante em outros países. Ao Brasil, como sabemos, restaram apenas as quatro candidaturas ao prêmio de Carlos Chagas e, uma surpresa: o vencedor de 1960 nasceu em terras brasilis.

Peter Brian Medawar era filho de mãe inglesa e pai libanês e nasceu em Petrópolis (RJ) em 1915, mas sua carreira e trajetória se deu inteiramente na Inglaterra, depois de abrir mão da nacionalidade brasileira depois de “Divergências com o governo brasileiro, que exigia seu alistamento militar obrigatório”. Ele se destacou pela descoberta, em co-autoria com Frank Macfarlane Burnet, do mecanismo de tolerância imunológica que mais tarde teria aplicações para o transplante renal e cardíaco. Morreu em 1987 em Londres.

Peter Medawar, laureado de 1960 nasceu em Petrópolis em 1915. (Fonte: http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/1960/medawar-facts.html)
Peter Medawar, laureado de 1960 nasceu em Petrópolis em 1915.

Sobre Chagas, os autores lembram da importância de suas contribuições tanto para a medicina mundial o primeiro pesquisador da história científica mundial por ter descrito o ciclo completo de uma doença, a doença de Chagas causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi que é transmitido pelo barbeiro e pode causar o aumento do tamanho do coração. Não existe vacina para prevenção, mas o tratamento é efetivo e dura cerca de 60 dias. Em 2013, foram notificados 173 casos no país com predominância na região Norte. “Suas pesquisas, em prestigiados periódicos internacionais, estão menos divulgadas do que deveriam na cardiologia brasileira”, lamentam os autores do artigo. Eles reforçam o coro, e afirmam que o brasileiro foi injustiçado pela Academia sueca. “Apesar de não haver um parecer formal por escrito, a análise de documentos da época sugere que o conselheiro não valorizou a descoberta de Chagas”, concluem.

Os autores da Universidade Federal Fluminense (UFF) levantaram os principais estudos com contribuições para a cardiologia. Dentre eles estão as contribuições dos laureados Alexis Carrel (1912), que desenvolveu a sutura vascular e transplante de vasos sanguíneos e órgãos; Hans Adolf Krebs, pela descrição do Ciclo de Krebs, Werner Forssmann, Andre Cournard e Dickinson Richards (1956), pelo desenvolvimento da técnica do cateterismo; Allan Cormack e Godfrey Hounsfield (1958), pela técnica de tomografia computadorizada; Joseph Edward Murray e Edward Thomas (1990), pelas contribuições para o desenvolvimento do transplante de órgãos e tecidos; e, mais recentemente, Paul Lauterbur e Peter Mansfield (2003) pela técnica de ressonância magnética.

Dentre as curiosidades levantadas sobre a vida do fundador do Prêmio de maior prestígio mundial na academia é que Alfred Nobel seu interesse pela medicina viria de uma saúde debilitada. “Há relatos de dispepsia, cefaleia e crises de depressão. Na idade adulta, ele teria sofrido de coronariopatia, com episódios frequentes de angina”, descrevem os autores. Ele também teve que conviver com sequelas motoras de um AVC (acidente vascular cerebral) sofrido já ao final de sua vida. “Cético e desconfiado, Nobel expressou em seu testamento o desejo de que, após sua morte, suas veias fossem ‘abertas’ e os sinais de morte confirmados por ‘médicos competentes’, antes que o corpo fosse enviado à cremação”, descrevem os autores.

Contato com autores:

Ronaldo Gismondi, email: ronaldogismondi@gmail.com

Artigo:

GISMONDI, R.A. et al; “Prêmios Nobel: contribuições para a cardiologia”. Arq. Bras. Cardiol., Vol.105(2), pp.188-196. 2015.

Fonte Imagens: 

Peter Medawar – http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/1960/medawar-facts.html)

Medalha Prêmio Nobel: Nobel Prize

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