Um estudo realizado em 2013 com 1072 alunos da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) apontou que 92,31% deles sofreram algum tipo de violência ao longo do curso e aproximadamente 30% afirmam ter sido agredidos 5 ou mais vezes. A pesquisa, publicada na última edição da Revista de Medicina (USP) analisou a relevância dessas agressões e obteve dados alarmantes. Nesse mesmo ano, somente no estado de São Paulo, se formaram em medicina, 2891 alunos, segundo o Conselho Regional de Medicina de São Paulo.
Os resultados apontam que 73% dos alunos já sofreram abuso psicológico, 60% abuso verbal, 43% discriminação sexual e 13% algum tipo de violência física. E os estudantes apontaram ainda que essas práticas partem de outros estudantes (83,75%) ou até mesmo de professores (72,8%). O questionário levou em conta os seguintes tipo de abuso: verbal (grito/berro), psicológico (depreciação/ humilhação, atribuição de tarefas com fins punitivos; ameaça de prejuízo; comentários depreciativos sobre a carreira; assédio e discriminação racial/religioso; ameaça de agressão física), sexual (assédio e discriminação sexual) e físico (estapeou, empurrou, chutou, bateu).
Os 317 itens da pesquisa foram divididos em 12 seções: características sociodemográficas, problemas emocionais e de relacionamento na infância e adolescência, características do curso, agressões, abusos e maus-tratos, hábitos de vida, eventos de vida relacionados ao estresse, condições de saúde, depressão, qualidade de vida, Sindrome de Burnout (distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso), apoio social e condutas e atitudes.
A pesquisa discutiu ainda a segurança dos alunos em relação à escolha profissional e o ambiente universitário, 20% não estão seguros em relação à escolha profissional e 33% pensam ou já pensaram em abandonar o curso.
É importante destacar que a idade média dos estudantes que responderam ao questionário é de 22 anos, a maioria cursa os dois primeiros anos da faculdade, 40% não moram com as famílias e 22% ingressaram na Universidade através de programas de inclusão social.
Esses dados levaram os pesquisadores, três alunos e uma professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP, a identificar semelhanças com resultados de estudos já realizados sobra a violência sofrida por parte dos estudantes de medicina, não apenas no Brasil, mas em outras partes do mundo. Nos EUA, 96,5% dos estudantes do quarto e quinto anos de 10 faculdades de medicina declaram ter sofrido algum tipo de assédio verbal ou moral por parte de colegas e professores. Já em países como a Nigéria e no Chile, esses casos somam respectivamente de 98,5% e 91,5%. Os tipos mais comuns descritos por esses alunos foram depreciação/humilhação, agressão verbal, apropriação indevida de créditos e comentários negativos sobre a carreira.
A alta incidênia de abusos encontradas nos diferentes estudos refletem não apenas a frequência de experiências negativas durante o curso de medicina, como, também, a visão que seus alunos tem de colegas e professores, supervisores, profissionais de saúde e pacientes. Em outras palavras, “é necessário lembrar que os possíveis efeitos da vitimização violenta no espaço de formação médica devem ser mais bem investigados, buscando-se compreender o seu papel na determinação das altas prevalências de transtornos mentais, má avaliação da qualidade de vida e insatisfação com a escolha profissional que são sistematicamente relatados em estudos realizados com estudantes de medicina”, afirmam os pesquisadores.
Leia o artigo “Projeto QUARA – Prevalênica de abusos, maus-tratos e outras agressões durante a formação médica: um estudo de corte transversal em São Paulo, Brasil, 2013” em: