Pressão por publicações eleva casos de plágio

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Foto: M.C. Escher, “Drawing hands” (1948)

Por Germana Barata

Nesta segunda-feira, durante o XV Encontro Nacional de Editores Científicos da Associação Brasileira de Editores Científicos – ABEC, Alice Lupton, da iThenticate fala sobre o aumento dos casos de retratações de artigos com fraudes, plágios, auto plágio ou falsos dados. Os casos aumentaram 10 vezes nos últimos 20 anos.
O Retraction Watch, site que divulga artigos com denúncias de má conduta científica identificava 80 papers por ano em 2009 e em 2014 este número saltou para 400. Lupton menciona pesquisa que indica que apesar de retirados, os artigos continuam sendo citados. O cenário piora ainda mais no caso de artigos de medicina que podem impactar diretamente o tratamento de pacientes. Análise de 180 artigos de medicina retratados geraram mais de 6 mil citações, das quais apenas 2% mencionavam a questão da retratação.
Diante deste cenário tão pessimista Lupton defende que os futuros cientistas e autores de periódicos devem receber treinamento durante sua formação para garantir que parte destes erros sejam minimizados – a outra parte, fruto de má fé não parece poder ser evitada.
O uso de mecanismos de rastreamento de plágio da iThenticate cruza conteúdos da Wikipedia e de várias bases de dados científicos, como a Web of Knowledge e CrossRef, bem como os conteúdos disponíveis online. O relatório que o software fornece fornece o percentual de plágio dos autores e é necessário que um especialista possa averiguar se há legitimidade na citação ou deve seguir para que o autor se justifique.
O uso dos pacotes de detecção de plágio em artigos científicos ou outros documentos ou notícias pode ser feito mediante assinatura ou pacotes institucionais. O SciELO, maior repositório de revistas científicas brasileiras de acesso aberto está em negociação com o iThenticate.
A revista “Memórias do Instituto Oswaldo Cruz” relata ter identificado vários casos de plágio. Dentre eles, um em que identificou mais de 50%, inegavelmente era um caso de plágio. Outro caso, no entanto, com percentual de 30% verificou-se que se tratava de uma descrição de processos metodológicos e que eram justificáveis. O procedimento adotado pela equipe é de analisar caso a caso.
Outro exemplo, citado por Silvia Galleti, editora da revista “Arquivos do Instituto Biológico”, relata que um baixo percentual, em torno de 18%, poderia ter excluído um artigo de ser classificado como plagio. Porém os trechos ficavam concentrados nos resultados e discussão – chave nos artigos – e que acabou levando a equipe a identificar outro artigo cujos resultados já haviam sido publicados.
Em todos os casos, como o artigo ainda não foi publicado, os autores recebem apenas uma carta com a recusa.
“A pressão para publicar está impactando a qualidade e quantidade de pesquisa”, lamenta Lupton.
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