Eles serão os futuros médicos que vão cuidar da saúde da população, mas durante o período de formação os alunos de medicina apresentam prevalências de depressão e ansiedade acima da média da população. Uma revisão publicada na última edição da Revista Brasileira de Psiquiatria concluiu que as pesquisas sobre o tema nunca foram tão numerosas como no período de 2010 a 2016, indicando que o problema persiste e só tem se agravado.
João Pacheco, da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, e colegas fizeram o levantamento de estudos nas principais bases de dados científica e da área médica e identificaram 59 estudos que tratavam de problemas de saúde mental (MPHs) no caso brasileiro.
Entre os problemas mentais reportados com maior frequência estão a ansiedade (89.6%) – como um estado quase permanente –, mas também depressão, distúrbios de sono ou alimentares, a síndrome de burnout e consumo abusivo de álcool. Há, no entanto, uma tendência de diminuição da depressão nos anos de estudo mais avançados e os sintomas de depressão identificados tendem a ser amenos. Mas os pesquisadores alertam que os estudos não incluem estudantes que desistiram do curso ou aqueles que estavam ausentes, o que pode contribuir para um cenário ainda mais agravante.
A revisão da literatura identifica que entre as principais causas das MHPs estão a grande carga de trabalho e estudos, um ambiente altamente competitivo e estressante, a pressão por pares, a privação de sono e um currículo que precisa atender, de um lado, às exigências centralizadas pelo Sistema e Único de Saúde (SUS) que tenta garantir as necessidades psicossociais dos estudantes e, por outro lado, conteúdo e práticas que compõem os 6 anos de formação básica.
Apesar de limitações apontadas pelos autores do artigo, foi possível traçar um quadro preocupante: problemas associados ao consumo de álcool entre estudantes de medicina envolvem de 30.6% a 32.9% deles, enquanto metade reportou ter distúrbios de sono, 46.1% com problemas de excesso de sono durante o dia e a síndrome de burnout em 13%.
“Como os estudantes de medicina brasileiros têm risco alto de problemas de saúde mental (MHPs), é imperativo que as instituições de ensino superior ofereçam apoio psicossocial e que os estudantes sejam monitorados para a identificação da frequência e gravidade desses problemas”, concluíram os autores do artigo.
Para ler o artigo completo:
Pacheco, J.P.; Giacomin, H.T.; Tam, W.W.; Arab, C.; Bezerra, I. M. & Pinasco, G.C. Mental health problems among medical students in Brazil: a systematic review and meta-analysis. Rev. Bras. Psiquiatr. v.39 (4). São Paulo Oct./Dec. 2017 Epub Aug 31, 2017. http://dx.doi.org/10.1590/1516-4446-2017-2223
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Como os médicos lidam com a morte de seus pacientes?, postagem no Ciência em Revista publicada em junho de 2017 a partir de artigo da Revista de Medicina da USP.
Olá, Germana!
Parabéns pela divulgação do estudo.
Esta é, realmente, uma realidade preocupante e que merece atenção.
Sabemos que os profissionais de saúde precisam de cuidado, afinal, quem cuida de quem cuida?
Aliás, esta ideia de cuidado, precisa estar melhor integrada ao currículo e à própria formação.
Precisamos pensar em uma formação profissional mais humanizada e promotora de saúde para todos.
Abraços!
Sem dúvida. A questão da saúde mental dos profissionais de saúde precisa ser inserida desde a formação. Somos ensinados a nos preocuparmos apenas com o físico. Abs, G.