Espaço para melhorar a divulgação de revistas científicas SciELO-Brasil

Lançado em 2013 o Blog SciELO em Perspectiva tem sido um importante canal para o debate sobre editoração, produção científica, ética, cientometria e outros assuntos que podem ajudar editores, pareceristas e autores a melhorar a qualidade dos artigos e revistas científicas de acesso aberto no Brasil ou outros países que compõem a rede (Abel, 2014). Uma análise do SciELO no Facebook, no entanto, mostra que há espaço para melhorar as estratégias de divulgação usadas para conseguir mais leitores e engajamento do público.

A partir de julho de 2015 o SciELO (Biblioteca Científica Eletrônica Virtual, que agrega mais de 1400 revistas científicas do Brasil e outros 13 países) estabeleceu que a divulgação e o marketing científico devem fazer parte da prática das revistas científicas ali indexadas ou com planos de indexação. Fato este que divulgadores de ciência –  como eu –  festejaram, afinal a divulgação científica passou a ser estratégica.

Reprodução da página do Blog SciELO em Perspectiva, com versões em português, espanhol e inglês e com as seções Humanas e Press Release (alto) que divulgam artigos de revistas científicas brasileiras

Vimos nestes anos um movimento de várias revistas científicas brasileiras inaugurando páginas em redes sociais como o Facebook – sobretudo – Twitter, ou blogs próprios na expectativa de ampliar sua visibilidade ou compartilhar os conteúdos nelas publicados com um público leitor especializado ou leigo.

Um dos objetivos das iniciativas de divulgação do SciELO é conseguir rastrear os usos sociais das revistas científicas através de atividades de acesso em redes sociais, blogs, e outras plataformas, para gerar as chamadas métricas alternativas, ou altmétricas, que já foram objeto de postagens deste blog e da coluna Diário de Vancouver , de minha autoria, no Jornal da Unicamp.

SciELO no Facebook

Sabendo deste objetivo, analisei as postagens do Blog SciELO no Facebook em 2017 (até outubro) para entender suas estratégias. A página do SciElo Network no Facebook conta com mais de 16 mil seguidores, o que é um grande feito.

Página do SciELO Network no Facebook

De modo geral, há postagens diárias, mas não nos finais de semana, e, geralmente, há press releases (anúncios para a mídia) diários de revistas científicas ou, em menor frequência, postagens exclusivas de autoria de colaboradores (3 ao mês). A maioria do conteúdo é em português e a postagem sempre remete ao blog do SciELO.

Em 2017, um total de 49 revistas científicas brasileiras foram divulgadas pela página SciELO Network no Facebook, das quais 11 são bastante frequentes (22.5%) – mais de 5 postagens – 11 postaram de 3 à 5 vezes (22.5%) e a maioria, 32 revistas, posta com baixa frequência (65.3%). Algumas revistas, no entanto, publicam repetidas vezes no dia ou na semana. Idealmente, o SciELO deveria ter uma divulgação mais equilibrada, dando atenção a um número maior de revistas ou, ao menos, limitando o número de postagens para a mesma revista durante a semana. Desta maneira, a página do Facebook se torna uma fonte de informação mais múltipla e interessante.

Dentre as questões que mais me chamou atenção foi ver que o esforço das revistas e do SciELO não está sendo rastreado pelo Altmetric www.altmetric.com, empresa provedora de métricas de redes sociais, blogs e outras plataformas online para o uso de artigos científicos. Dos 176 artigos divulgados neste ano, 69.7% não pontua no Altmetric e 14.3% pontua apenas uma vez, graças ao esforço de algumas revistas científicas em divulgar em sua página do Facebook ou Twitter. No entanto, apenas 7.4% dos artigos divulgados no Blog SciELO pontuam no Altmetric. Por que isto está ocorrendo se o Almetric é um dos motivadores deste esforço de divulgação?

Diagnóstico

Parte do problema está relacionado ao fato do Altmetric não estar rastreando a seção de Press Releases, tampouco o Blog SciELO em Perspectiva: Humanas, ambos pertencentes ao Blog SciELO em Perspectiva, cujos links não têm a mesma raíz do blog, este sim cadastrado pelo Altmetric! Alertei a equipe do Altmetric sobre este problema e agora avisaram que os artigos serão rastreados e pontuados. Ou seja, as duas seções do Blog SciELO que divulgam artigos científicos faziam parte da coleção de blogs rastreados pelo Altmetric e, portanto, o esforço de divulgação não podia ser computado.

A divulgação do SciELO no Facebook também não tem sido contabiliza, em função de dois fatores: 1) o Altmetric só rastreia postagens públicas de grupos ou instituições; 2) as postagens da página levam ao Blog SciELO em Perspectiva e não aos artigos divulgados. O SciELO deveria aproveitar o Facebook, como mídia social mais popular no país e no mundo, para realizar divulgação exclusiva para a rede social e não apenas com postagens automáticas a partir do Blog do SciELO. Por ser o Facebook uma rede social, ele exige interação com o público e, portanto, o melhor seria que as postagens divulgassem diretamente o artigo desejado sem remeter ao Blog, compartilhando o link do paper.

Assim, a postagem poderia incluir uma imagem interessante relacionada ao tema do artigo divulgado, ao invés do logo da revista científica, como tem sido comumente feito. Os logos não enganam o leitor, que tende a ver a postagem como marketing científico e não divulgação. Essas postagens tendem a ter menos engajamento do público (curtidas, reações, comentários e compartilhamentos).

Dois exemplos de postagens da página do SciELO no Facebook nos quais as imagens das revistas estão em destaque

Por outro lado, as postagens de notícias exclusivas para o Blog SciELO tendem a ter mais engajamento dos leitores. Essas postangens tratam de temas de grande importância e interesse para os acadêmicos como ética na pesquisa, sobre a qualidade de revistas e artigos, produção científica, internacionalização e engajam mais o público do Facebook.

Se o Blog SciELO optou pela produção de press release, material produzido para atrair a atenção de jornalistas, seria interessante saber se os estes profissionais têm utilizado o material para produzir matérias mais atraentes e que poderão engajar o público. Suspeito que não têm utilizado. A meu ver, mais interessante seria investor em notícias produzidas a partir de artigos da coleção, como propomos neste blog Ciência em Revista.

Abaixo trato mais pontualmente de três estratégias que julgo serem bastante relevantes para otimizar os esforços de divulgação do Blog SciELO: os Digital Object Identifier (DOIs) dos artigos, código que identifica cada artigo.

DOI

Todas as revistas SciELO possuem artigos com DOI e é o link ao DOI que passa a ser identificado pelo Altmetric para gerar as métricas de acesso ao artigo, ou seja, o DOI permite traçar como o público está compartilhando, comentando ou acessando um document, além de outras utilidades. No entanto, nem sempre os DOIs estão sendo divulgados nas postagens do Blog SciELO. Por exemplo, dos 176 artigos divulgados, 39.2% não possuem link para o artigo e em outros 6.5% o link está quebrado. Ou seja, nenhum deles leva o leitor ao artigo, embora em alguns deles há a opção do link disponível no SciELO. Perde-se, assim, um esforço de divulgação.

Outras postagens levam ao link da edição da revista e não a um artigo específico. Se o objetivo é informar sobre o novo número da revista, não há problemas nesta estratégia. Mas, neste caso, não será possível rastrear os acessos à revista usando o Altmetric.

Hashtags

A página do Blog SciELO no Facebook não faz uso de hashtags. As hashtags (#) funcionam como marcadores, etiquetas, que facilitam que leitores interessados no tema do artigo ou notícia localizem a postagem mesmo não sendo seguidores do Blog. Outra estratégia que pode ser interessante é marcar instituições ou grupos do Facebook relacionados aos temas do artigo no espaço para comentários. Abaixo exemplos de usos de hashtags e marcações de instituições ou grupos no Facebook.

No caso da postagem ao lado poderíamos usar as seguintes hashtags:  #Cienciarural; #pecuaria; #carne; #rastreabilidade; #produtorrural

Além disso, a postagem poderia marcar alguns grupos ou instituições que poderiam se interessar pelo tema ou que envolvem os autores do artigo:

@MinAgricultura; @embrapa; @pecuariabrasiloficial; @UFSCar; @IFSaoPaulo

 
Idiomas  

Revistas que publicam artigos em outros idiomas, além do português, devem aproveitar as redes sociais para ampliar sua gama de leitores por meio de postagens em diferentes línguas e em diferentes redes sociais. O Twitter, por exemplo, é uma rede social importante na língua inglesa, e o Facebook em espanhol e português. Mas ambas as redes sociais podem ser usadas de modo multilíngue.

Algumas revistas fazem repetidas divulgações do mesmo artigo no Twitter e Facebook, mas geralmente em apenas um idioma. Postar em diferentes idiomas (sobretudo se sua revista é multilíngue), amplia as chances de atingir o público leitor.

Para concluir

Esta crítica ao Blog SciELO em Perspectiva e às estratégias de comunicação em prática, espero, contribua construtivamente para aperfeiçoar os esforços já feitos tanto pelas equipes editoriais das revistas, quando pelo SciELO. Acredito que haja espaço para ampliar o alcance e a visibilidade.

Reforço que a iniciativa do SciELO deve ser celebrada e entendo as dificuldades de ter uma equipe cuidando da divulgação das revistas em redes sociais, mas acredito que valha o investimento em diferentes estratégias de comunicação para dar mais visibilidade às revistas científicas da Coleção SciELO e alavancar o diálogo com a comunidade acadêmica e, sobretudo, pensando em levar este conhecimento para além dos muros da universidade.

Em Tempo (adicionado em 14 de novembro de 2017)

Em resposta ao meu email, Alex Mendonça, da equipe do Blog SciELO em Perspectiva, explicou que o blog é composto com uma modesta equipe de editor-chefe, 2 técnicos e alguns colaboradores. Enquanto a parte exclusiva de Humanas conta com editor-chefe, 4 membros da equipe técnica (em rodízio) e comitê editorial, que junto com a equipe anterior tocam também a seção Press Release. A equipe dedica 30% de seu tempo ao blog e o restante em outras atividades do SciELO. O Blog recebe, em média, 20 releases por mês, a maioria vinda de poucas revistas. “Trata-se de um esforço muito grande e contínuo fazer com que os periódicos elaborem press releases como uma prática rotineira que faça parte do fluxo de publicação do artigo. Trata-se de um esforço ainda maior que sejam produzidos press releases atrativos e que tenham o efeito esperado”, explicou Mendonça. Sem dúvida, embora a questão da qualidade dos press releases publicados não foi objeto desta postagem. Adoraria ver jornalistas e profissionais da comunicação mais envolvidos neste esforço, porque contar com o já enorme esforço de editores para produzir os releases é superestimar seu papel. “Ainda dependemos muito do conteúdo chegar em um formato ideal e estamos em constante aprimoramento. Além disso, nossa equipe é reduzida e a demanda de atividades é alta”, concluiu Alex Mendonça, o que entendo, como coloquei no parágrafo anterior, mas torço para que o SciELO veja a comunicação como parte estratégica para a visibilidade das revistas de sua coleção.

Artigos de revistas científicas com mais engajamento no Facebook

  1. Tonelli, Maria José. Novamente a questão do lugar: local, global ou glocal? Revista de Administração de Empresas, v.56 (3), 2016.
  2. Benites, Andréa Carolina; Neme, Carmen Maria Bueno; Santos, Manoel Antônio dos. Significados da espiritualidade para pacientes com câncer em cuidados paliativos. Estudos de Psicologia, v.34 (2), 2017.
  3. Kellner, Alexander. Editors of Brazilian journals – a hard life that is getting harder! Anais da Academia Brasileira de Ciências, v.89 (1), 2017.
  4. Vasconcelos, Francisco de Assis Guedes de. A produção científica da Nutrição publicada pela Scientific Electronic Library sob o olhar da avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Revista de Nutrição, v.30 (2), 2017.
  5. Kunrath, Cléria Andréia et al. Aplicação e avaliação de própolis, o antioxidante natural, em salame tipo Italiano. Brazilian Journal of Food Technology, v.20, 2017.
  6. Brites, Walter Fernando. A cidade na encruzilhada neoliberal. Urbanismo mercado-cêntrico e desigualdade sócio-espacial na América Latina. urbe: Revista de Gestão Urbana, v.9 (3), 2017.
  7. Bringel, Breno. Política e Fluxo Editorial da Dados . Revista de Ciências Sociais, v.59 (2), 2016.
  8. Melo, Anna Karynne; Siebra, Adolfo Jesiel; Moreira, Virginia. Depressão em Adolescentes: Revisão da Literatura e o Lugar da Pesquisa Fenomenológica. Psicologia: Ciência e Profissão, v.37 (1), 2017.
  9. Horn, Cláudia Inês; Fabris, Elí Henn. Registro Docente Contemporâneo: infância e docência em tempos digitais. Educação & Realidade, v.42 (3), 2017.
  10. Corrêa, Mariza. Do feminismo aos estudos de gênero no Brasil: um exemplo pessoal. Cadernos Pagu, n.16, 2001.

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Observações: Esta avaliação faz parte do projeto “Impacto social da produção científica brasileira através da divulgação científica“, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP – Processo n. 16/14173-2), na Simon Fraser University, no Canadá.

Para saber mais:

Doces mudanças na agilidade de uma revista científica, por Germana Barata para o blog Ciência em Revista em setembro de 2016.
Desafios e grandes potenciais nas métricas que medem usos sociais da ciência, por Germana Barata para a coluna “Diário de Vancouver” do Jornal da Unicamp em outubro de 2017.
Mudanças em direção a uma comunicação científica mais múltipla e aberta, por Germana  Barata para a coluna “Diário de Vancouver” do Jornal da Unicamp em setembro de 2017.

 

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