Não basta ser inteligente, tem que saber pensar. Uma entrevista com Dr. Art Markman

No último dia 02 de janeiro, foi lançado nos Estados Unidos o livro Smart Thinking. Basicamente um manual de como pensar. O autor do livro, o professor e cientista cognitivo Art Markman, Ph.D., apresenta uma fórmula simples que nos ensina a pensar de maneira mais efetiva, produtiva e criativa. O Cognando resolveu bater um papo com o professor Art Markman sobre o livro. Leia na íntegra a entrevista com o professor e concorra a uma cópia autografada do livro aqui no Cognando.

 

Cognando: Como surgiu a idéia de escrever um livro sobre “smart thinking”?

Art Markman: Bom, existe uma gama de aspectos que contribuíram para o livro. Primeiro, faz mais ou menos 10 anos que eu venho tentando trazer a ciência cognitiva para o público geral. Nos últimos 20 anos como pesquisador, eu escrevi uma gama de artigos científicos que tem basicamente como público-alvo outros cientistas. No entanto, eu tenho a sensação de que nossa área já sabe bastante. O que precisamos fazer agora é levar esse conhecimento para o público fora da academia. Assim, eu passei os últimos 10 anos pensando em maneiras de fazer com que esse conhecimento se difunda mais amplamente. Então, esse é um aspecto que motivou o livro. E na tentativa de difundir esse conhecimento, eu comecei a trabalhar como consultor em algumas empresas. É muito claro, no contexto de algumas empresas, que algumas pessoas são pagas para pensar. No entanto, raramente oferecemos à essas pessoas as ferramentas que eles precisam para poder pensar de maneira efetiva. Eu então comecei a oferecer workshops e aulas que ensinavam as pessoas a pensarem de maneira mais efetiva. Grande parte do conteúdo desse livro surgiu a partir de uma dessas aulas. Obviamente ele não é idêntico à aula, mas é muito semelhante no seu cerne.

C: Muita gente acha que “saber pensar” e “ser inteligente” são a mesma coisa. No livro, você fala que essas são duas coisas diferentes. Você pode falar um pouco sobre essa diferença?

AM: Sim, são coisas diferentes. Nos últimos, vamos dizer, 100 anos, o nosso foco tem sido em “ser inteligente” ao invés de ser em “saber como pensar”. E isso acontece porque a gente sempre quer ser capaz de mensurar as coisas. E se a gente quer ser capaz de medir se as pessoas sabem pensar, sem necessariamente conhecer o que elas já sabem, a única forma de fazer isso é usando problemas que as pessoas são capazes de resolver sem que o conhecimento e a experiência que ela já possui seja relevante. Essa é, na verdade, a base dos testes de inteligências que temos hoje. E quando a gente analisa esses testes, a gente percebe que realmente existe uma variabilidade nas notas que as pessoas tiram nessas tarefas altamente abstratas, que parecem mais um desses jogos de pergunta-e-resposta que jogamos em festas e reuniões com amigos. O problema, no entanto, é que se você analisar o que realmente significa ser bem-sucedido, criativo e inovador no mundo de hoje, você vai descobrir que as notas que as pessoas tiram nesses testes de inteligência são péssimas para prever quem vai ser ou não bem-sucedido, criativo ou inovador. Por aí, a gente vê que existe uma distinção entre essas duas coisas. E então, a pergunta que nos fazemos é: o que realmente faz com que as pessoas sejam bem-sucedidas, criativas e inovadoras? E isso tem muito mais a ver com o conhecimento que as pessoas têm do que com a capacidade de raciocínio abstrato, que é exatamente o que a gente mede nos testes de inteligência.

C: Isso quer dizer então que qualquer um pode “aprender a pensar” de maneira efetiva. E no livro você nos ensina a fazer isso a partir de uma fórmula simples. Fale um pouco dessa fórmula.

AM: A fórmula é simples e envolve três aspectos. Primeiro: é preciso criar hábitos inteligentes, segundo: é preciso desenvolver conhecimento de alta qualidade e terceiro: é necessário usar esse conhecimento sempre que precisarmos. Vamos falar de cada um desses aspectos separadamente. Hábitos são aquelas coisas que fazemos no nosso dia-a-dia. Nós passamos grande parte da nossa vida fazendo coisas que não precisamos pensar muito para fazer. E isso é uma coisa boa. É bom que a gente não tenha que pensar onde está o interruptor da luz do banheiro, onde fica o freio e o acelerador quando dirigimos, o que fazemos geralmente quando acordamos, etc. Todas essas coisas são coisas que queremos fazer automaticamente, sem ter que pensar. E no decorrer da nossa formação, nós criamos um monte de hábitos sobre como pensar. E nem todos esses hábitos são bons e efetivos para o nosso dia-a-dia. Assim, o que devemos fazer é criar hábitos que promovam um pensar que seja efetivo e funcional. O segundo ponto da fórmula diz que esses hábitos devem nos auxiliar na maximização da qualidade do conhecimento que temos. Todas as pessoas que nós consideramos que “sabem pensar” têm uma coisa em comum: eles sabem muito sobre como as coisas no mundo funcionam. É impossível resolver um problema quando não sabemos como as coisas funcionam. Não importa qual seja o problema. Seja ele consertar seu carro, desenvolver um produto que faz com que nosso coração funcione melhor ou até mesmo encontrar uma forma de fazer o consumidor escolher o seu produto. Em todos esses casos, para resolver o problema, você precisa saber bastante coisa sobre a área com a qual você está atuando, e saber como as coisas nesse campo funcionam. Isso é o que eu chamo de conhecimento de alta qualidade. O terceiro ponto, tem a ver com o uso desse conhecimento sempre que precisamos. O mais difícil dessa parte é que, por definição, toda vez que a gente está tentando fazer algo inovador, estamos na verdade tentando fazer algo que ninguém nunca fez antes. O que quer dizer que ninguém nunca resolveu o mesmo problema que você está tentando resolver. Mas o que acontece na maioria das vezes é que o problema que está você está tentando resolver já foi resolvido, mas em alguma outra arena. Por exemplo, no livro, eu falo do empreendedor James Dyson. Ele criou uma empresa de aspiradores de pó que produz aspiradores que não precisam de um filtro. Dyson estava completamente insatisfeito com a idéia de que, com o tempo, os filtros entupiam e a capacidade de sucção do aspirador de pó caía consideravelmente. Ao invés de tentar inventar um filtro que funcionasse melhor, ele se perguntou: “qual é o problema que um filtro em um aspirador de pó está tentando resolver?” E a resposta para essa pergunta é simples: basicamente, o que o filtro faz é separar a sujeira do ar. O aspirador coleta uma combinação de sujeira e ar, e o filtro deve fazer a separação dessa combinação. Assim, ao invés de tentar inventar um filtro melhor, ele pensou em outras áreas que supostamente enfrentam o mesmo problema (separar sujeira do ar). Ele então descobriu que serrarias têm o mesmo problema. Elas precisam separar a “serragem” do ar. E para fazer isso, as serrarias utilizam o que chamamos de “ciclone industrial” para fazer essa separação. Dyson então resolveu construir um ciclone industrial em miniatura dentro de um aspirador de pó. E com isso, ele inventou um novo conceito de aspirador de pó e tem hoje um dos negócios mais bem-sucedidos nos Estados Unidos.

C: Você diz que é importante criar hábitos inteligentes. Mas muitos de nós têm um monte de hábitos ruins. Por que é tão difícil eliminar esses hábitos ruins?

AM: Uma coisa que a maioria das pessoas não sabem é que hábitos são na verdade parte da nossa memória. Em outras palavras, seus hábitos são memórias de ações que você executou no passado e que você vai executar novamente no futuro. Essas ações podem ser ações físicas ou ações mentais. E uma coisa que é impossível de fazer é “parar a nossa memória”. Isso quer dizer que é difícil não executar ações que executamos no passado. O que você deve fazer para mudar seus hábitos é “atrapalhar” essas memórias de alguma forma. Existem várias maneiras que você pode fazer isso: por exemplo, para evitar que essa memória venha à tona, você pode mudar o seu ambiente, de maneira que as pistas que trazem essas memórias à tona sejam eliminadas. Mudando um pouco o seu ambiente, você faz com que certas ações passem a ser irrelevantes no novo ambiente. Uma alternativa é tentar fazer uma nova associação entre o seu ambiente e uma nova ação. Na maioria das vezes, as pessoas têm dificuldades para mudar um hábito ruim, como por exemplo, parar de fumar ou parar de comer muito, simplesmente porque elas tentam substituir o hábito ruim por nada. E você não pode substituir alguma coisa por nada. Você deve substituir um comportamento com algum outro comportamento.

C: Você diz que é importante saber como as coisas funcionam. Mas, cá pra nós, é impossível saber tudo sobre tudo. É impossível ser expert em tudo. Além disso, é impossível lembrar de tudo que sabemos o tempo todo. Como lidar com essas limitações e ainda pensar de maneira efetiva?

AM: É verdade. Não tem jeito de ser um expert em tudo. Em contrapartida, é possível aumentar a quantidade de conhecimento que você extrai das suas experiências. Por exemplo, todos nós assistimos aulas, participamos de reuniões, assistimos programas de TV que tem algum valor educativo ou lemos revistas e artigos para saber das coisas. E em cada um desses exemplos, se você não presta atenção, não lê cuidadosamente, ou não tenta explicar para você mesmo aquilo que você acabou de aprender, você simplesmente perde uma oportunidade de aprender alguma coisa que você pode vir a precisar mais tarde, em alguma outra situação. Ou seja, apesar de não ser possível ser um expert em tudo, você pode sim maximizar as oportunidades de aprendizado presentes nas situações que você encontra. Uma das maneiras mais facéis de fazer isso é evitar fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo Evitar o que a gente chama de multitasking. Um dos hábitos ruins que muitos de nós temos, especialmente agora com a presença de smartphones, iPads, bate-papos, emails ou qualquer aparelho que nos conecta à Internet, é que nós não maximizamos o tempo que a gente gasta para aprender coisas novas. Isso por que estamos constantemente dividindo nossa atenção entre o que estamos tentando aprender e todas essas outras coisas que sempre parecem importantes para nós. Para melhorar a qualidade do conhecimento que adquirimos basta evitar fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Se está em uma reunião, desligue o celular, desconecte o iPad da Internet, não responda à nenhuma mensagem de texto, etc. Só assim você vai ser capaz de aumentar a qualidade do conhecimento que adquire.

C: Eu quero voltar nesse ponto sobre “fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo”, mas antes quero te perguntar sobre a importância de sempre fazer analogias. Você fala sobre isso no livro. Por que é importante sempre buscar analogias para explicar as coisas?

AM: Imagine que você esteja querendo resolver um problema. Se alguma outra pessoa já tiver resolvido exatamente o mesmo problema que você está tentando resolver, então você não tem nenhum problema. Basta que você repita a solução que a pessoa tem. E muita coisa na nossa vida é assim. A gente não precisa descobrir como limpar os nossos dentes, pois alguém já descobriu. Existe um procedimento para isso. Até mesmo para coisas mais complicadas isso acontece. Se você não estiver se sentindo bem, simplesmente vá ao médico que ele certamente vai reconhecer os sintomas e oferecer uma solução para o seu problema. No entanto, quando o conhecimento que as pessoas têm sobre um determinado problema acaba, de maneira que não temos uma solução para o problema, existem apenas duas maneiras de resolver o impasse. Você desenvolve uma pesquisa específica sobre o problema. Muitas empresas fazem isso. Grandes empresas têm equipes responsáveis em pesquisar e desenvolver soluções para determinados problemas. Mas esse é um processo demorado, que consome muita energia. E às vezes você tem que fazer isso mesmo, pois o conhecimento necessário para resolver o problema simplesmente não existe. Mas, para resolver um problema de maneira mais rápida, é preciso reconhecer que provavelmente alguém, em algum lugar e em um outro domínio, já resolveu um problema parecido. E o que você precisa fazer é encontrar essa solução, mesmo que ela seja superficialmente diferente do que você procura. Por exemplo, se você está tentando criar uma maneira de acabar com as pestes da seu jardim sem no entanto matar também a grama, as flores, etc. e já não tem mais nenhuma idéia de como fazer isso, o que você precisa fazer é se perguntar: “qual é realmente o problema que eu estou tentando resolver?”. Assim, você vai começar a perceber que o que realmente você está tentando fazer é evitar o que a gente chama de “efeito colateral”. Basicamente a idéia é que você quer evitar destruir as coisas boas junto com as coisas ruins. Se você pensa no problema nesses termos, você vai logo perceber que muita gente, em outros domínios, já teve que lidar com essa questão de “efeito colateral”. O próprio termo vem de um domínio diferente. Pessoas que pintam cabelo, por exemplo, enfretam o problema de pintar o cabelo sem pintar a pele da pessoa, ou o chão. Em medicina, os médicos enfretam o problema de como criar um mecanismo que destrói tecidos cancerosos sem destruir os tecidos não-cancerosos. Basicamente, esses grupos estão tentando resolver o mesmo tipo de problema. É possível que se você analisar o estilo das soluções que essas pessoas chegaram para o problema delas, você tenha algum insight sobre como resolver o seu problema.

C: Voltando à questão de “fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo”, você diz que isso é ruim. Eu, particularmente, acho que esse é o hábito ruim mais difícil de ser eliminado. Ainda mais hoje em dia com toda essa gama de informações disponíveis na Internet. A Internet é altamente atrativa para esse tipo de coisa. Você está lendo um texto, daí chega um email com um link para um vídeo do YouTube, você assiste ao vídeo, e esse vídeo te leva a assistir outro que te leva a pesquisar sobre algum assunto tratado no vídeo, etc. Quando você percebe, já gastou 30 minutos fazendo mais de 10 coisas ao mesmo tempo. Como lidar, de maneira inteligente, com essa tentação que é a internet?

AM: Ótima pergunta! Você está certo. A Internet está cheia de armadilhas que nos distraem o tempo todo e acabamos fazendo mais coisas do que tínhamos planejado. Mas existem algumas coisas que você pode fazer para evitar isso. A primeira é simples: fique longe da Internet quando você não precisa de Internet. Por exemplo, se você precisa ler um artigo, faça isso em um lugar onde Internet não esteja disponível. Se você precisa escrever alguma coisa, desconecte seu email, feche os navegadores de Internet, desligue seu smartphone. Assim, você não será tentado a checar seu email ou a usar a Internet. Crie um oásis onde você não tem nenhuma tecnologia por perto. Isso é uma coisa que você pode fazer. Se por algum motivo, você se for sugado por um tanto de emails — que te levam a checar o seu Facebook e que então te leva a assistir um punhado de vídeos de gatos na Internet, etc. — uma coisa que eu sempre sugiro às pessoas é: coloque um cronômetro na sua mesa. Toda vez que precisar procurar alguma coisa na Internet, coloque o cronômetro para contar 5 minutos. Quando o alarme do cronômetro disparar, se você estiver lendo algo relevante ao que estava procurando, ótimo. Caso contrário, o que o cronômetro fez foi lembrá-lo de que está na hora de voltar ao trabalho. E com o tempo, você vai começar a desenvolver um “cronômetro interno” que mesmo quando você esquecer de programar o cronômetro externo, você vai perceber mais rapidamente que precisa voltar ao trabalho.

C: Parece que a gente tem todas as ferramentas necessárias para saber pensar. Ainda assim, não o fazemos. Por que somos tão incompetentes nessa tarefa?

AM: Eu não acho que sejamos incompetentes nessa tarefa. Mas eu acho sim que podemos melhorar. E talvez a gente seja sim incompetentes, mas apenas por que sabemos muito pouco sobre o funcionamento da nossa mente. É impossível ser um bom cozinheiro sem saber sobre como os diferentes sabores dos alimentos se misturam. É impossível construir uma ponte confiável sem saber alguma coisa sobre física. Você não vai conseguir consertar um carro se não souber nada sobre como um motor de carro funciona. Mas a gente está sempre pedindo às pessoas que elas “pensem”, sem ensinar qualquer coisa sobre como a mente funciona. Sempre temos que confiar nas coisas que as outras pessoas nos dizem. Então, saber como a mente funciona pode sim nos ajudar a pensar de maneira mais efetiva. Uma das coisas que eu tento fazer no livro é promover o “pensar” ao te “ensinar a pensar”. O livro está dividido em uma parte que te ensina sobre a ciência por trás de como a mente funciona e uma outra parte que te dá dicas de como utilizar essa ciência e esse conhecimento para pensar de maneira mais efetiva. A idéia é que você pode utilizar essas dicas e, se você entender como a mente funciona, você pode adptar essas dicas de forma que elas funcionem para você particularmente.

C: Você acha que Psicologia deveria fazer parte do curriculum da educação básica?

AM: Sim. Acho que sim. Parte do curriculum que utilizamos até hoje na educação básica foi criado no final do século XIX. Nessa época, as ciências que decidimos que teriam que ser ensinadas foram Biologia, Química e Física. Essas são disciplinas importantes. Eu adoro e acho que não deveríamos parar de estuda-las nas escolas. Mas, 120 anos atrás, Psicologia ainda não era uma ciência madura. Ela estava apenas começando a sua jornada como ciência. Cento e vinte anos depois, no entanto, já sabemos muito sobre o funcionamento da mente, e as pessoas devem começar a tirar proveito desse conhecimento. Eu sou sim a favor da integração da Psicologia no curriculum da educação básica.

C: E o livro vai sair no Brasil?

AM: Isso seria fantástico. Eu adoraria.

C: Obrigado, Art!

Art Markman é professor de Psicologia e Marketing na Universidade do Texas em Austin. Art já publicou mais de 125 artigos científicos e é o editor-chefe do periódico Cognitive Science desde 2006. Art atua também como consultor em empresas como Procter & Gamble, faz parte do comitê científico do programa de televisão Dr.Phil e tem um blog no site Psychology Today. Você pode acompanhar os trabalhos do professor Art Markman pelo seu Twitter e Facebook.

O Cognando, agora oficialmente parte do ScienceBlogs Brasil, irá sortear uma cópia autografada do livro Smart Thinking. Para concorrer, basta seguir o Cognando pelo Twitter, Facebook ou Google+ e preencher o seguinte formulário online. O sorteio será realizado no dia 4 de fevereiro de 2012. Participe!

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As 5 mais lidas do Cognando em 2011

Estamos na contagem regressiva para o final de mais um ano. Com isso, eu gostaria de agradecer aos leitores do ***Cognando*** pelas visitas, comentários e sugestões. Foram mais de 25.000 acessos no ano de 2011 (um crescimento significativo comparado aos 716 acessos no primeiro ano do blog). O Cognando está cheio de novidades e mudanças para o ano de 2012. Fiquem ligados. Continuem seguindo as postagens pelo Facebook, Twitter e Google+.

E como todo mundo gosta de retrospectivas nos últimos dias do ano, aqui está a minha: As cinco postagens mais acessadas de 2011. Leia novamente, envie comentários e sugestões… e no mais: FELIZ 2012.

1 – Quem tem medo de mensagem subliminar.
Você já ouviu falar sobre James Vicary? Mesmo que nunca tenha ouvido falar sobre ele, tenho certeza que já viu, ou ouviu histórias sobre o que ele chamou de mensagens subliminares. A internet está cheia dessas histórias de que os desenhos da Disney, por exemplo, propagam uma série de mensagens subliminares sobre sexo: castelos em formato de pênis, fumaça que forma palavra “sexo”, etc.  (Leia mais…)

2 – A ajuda que você precisa: como lidar com pessoas depressivas.

Imagine a seguinte situação: você acorda às 7 da manhã com seu filho de 5 anos dizendo que está com dor de cabeça. Você mede a temperatura da criança e vê que ela está com 39,5 de febre. Você dá um pouco de suco de laranja para ela, mas ela não consegue segura-lo no estômago e vomita o suco. Percebendo o problema, você senta com a criança no sofá da sala… (leia mais…)

3 – Já leu seu horóscopo hoje?
Certos amigos incomodam quando ficam muito tempo distantes da gente. Eu tenho uma amiga assim. Toda vez que ela fica mais de uma ou duas semanas sem falar comigo (geralmente via Skype), eu encho a paciência dela. Faço a maior pressão psicológica… (leia mais…)

4 – De onde vem a falta de confiança?
O ser humano é mesmo uma máquina fantástica. Apesar de termos a sensação de que sempre estamos no controle de nossas atitudes e ações, nem sempre isso é verdade. Para ser um pouco mais exato, grande parte do comportamento humano que presenciamos no dia-a-dia é altamente influenciado por processos cognitivos implícitos, ou seja, processos que não temos controle direto (leia mais…)


5 – Ai, que raiva desse Jair Bolsonaro.
No último dia 1 de junho o deputado federal do PP-RJ, Jair Bolsonaro, foi protagonista de mais um episódio no mínimo inusitado. Durante a Marcha pela Família, que reuniu várias pessoas que protestavam contra o projeto de lei que propõe a criminalização da homofobia, o deputado jogou água em uma drag queen que “protestava” contra o protesto da Marcha pela Família. O deputado disse mais tarde que jogou a água para “acalmar” a drag queen… (leia mais…)

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Tá com raiva? Não decida!

Tenho uma amiga que cursa Letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Semana passada, conversando com ela sobre disciplinas optativas (aquelas que não fazem parte da grade curricular do curso de Letras), sugeri a ela que fizesse alguma disciplina no curso de Psicologia da UFMG. Para ser mais exato, sugeri a ela que cursasse a disciplina de Introdução à Estatística — disciplina historicamente oferecida no departamento de Psicologia. Como procedimento lógico, decidimos verificar o quadro de oferta de disciplinas no curso de Psicologia para o próximo semestre letivo. Foi então que começamos a “passar raiva“: entramos na página do curso de Psicologia com a esperança de encontrar um link para o tal quadro. Nada. A página do departamento, além de ser visualmente horrível e de difícil navegação — pouco intuitiva — está extremamente desatualizada. Para se ter uma idéia, depois de muito procurar, encontramos uma ementa da disciplina de estatística ofertada em 1984. Isso mesmo: uma ementa de 27 anos atrás (e se eu não estou enganado, essa é a mais atual).

Minha amiga logo desistiu. Eu não. Decidi ligar para o departamento. Obviamente, passei mais raiva: a pessoa que atendeu o telefone (não me lembro o nome do rapaz) parecia nem saber o que é matrícula, disciplina, etc:
rapaz: essas coisa assim de matrícula, aula, etc não é aqui não. Liga no colegiado.
eu: Ah, ok! Você pode me informar o telefone de lá?
[Antes que eu terminasse de falar a palavra “telefone”, ele já tinha desligado o dele]
Encontrei o telefone do colegiado. Liguei e fui atendido pela Magna. Corrigindo: liguei e fui mal-atendido pela Magna. Com um “bom-humor” invejável, Magna disse que não era possível saber oferta de disciplinas se eu não fosse aluno do curso de Psicologia. Disse que se eu quisesse, que eu fosse lá no colegiado e solicitasse uma cópia da lista de disciplinas. Super século XV:
Magna: Pode ser que você consiga assim.
[Antes que eu explicasse que essa opção não seria muito viável para pessoas que não moram no Brasil — ou em Belo Horizonte — Magna desligou o telefone]
Enfim, foram mais de 40 minutos e nada (até hoje não sei a oferta de disciplinas para o curso de Psicologia). Evidentemente fiquei com muita raiva! E agir com raiva não é bom. Acabei gastando de 20 a 30 minutos do meu tempo tweetando sobre o incidente e divulgando mensagens de “raiva” no meu perfil do Google+.
Tomar decisões quando se está com raiva não é bom. Existe bastante pesquisa em Psicologia Cognitiva mostrando que nossas emoções afetam diretamente (e muitas vezes de maneira implícita) as nossas decisões e nossas ações. No entanto, muitas dessas “emoções” vêm e vão muito rapidamente. Sem contar casos altamente traumáticos, muitos de nós ficamos com raiva de algo por um período curto de tempo. Depois de algumas horas ou mesmo minutos, já não sentimos mais nada. Mas será que nossas emoções (raiva, alegria, tristeza, etc.) são capazes de influenciar nossas decisões, mesmo depois que elas se dissipam? Em outras palavras, mesmo depois que a raiva passa, será que o que decidimos quando estávamos com raiva tem alguma influência nas nossas decisões futuras? E quais as consequências disso?
Essas perguntas foram investigadas pelos professores Eduardo Andrade, do departamento de Marketing da Haas School of Business na Universidade da Califórnia em Berkeley e Dan Ariely da Universidade de Harvard. Eles pediram a um grupo de alunos que participassem de uma série de Ultimatum Games. Esse jogo é uma espécie de “experimento” de economia e envolve a divisão de uma quantia em dinheiro. No jogo, há dois participantes: um que propõe uma divisão da quantia e um que aceita (ou não) a divisão. Se a divisão é aceita, cada participante leva a quantia proposta. Se a divisão não é aceita, ninguém leva nada. Exemplo: imagine que eu esteja jogando o Ultimatum Game com o Dan Ariely. Como proponente, a minha função é dividir R$10 entre eu e ele. Eu posso propor qualquer divisão que eu quiser (e.g. R$6 para mim e R$4 para o Dan, ou R$9 para mim e R$1 para o Dan). Assim que eu faço a proposta, o Dan tem a oportunidade de aceitar ou não. Se ele aceita, cada um recebe a quantia que eu propus. Se ele nega, eu não ganho nada e ele também não. Geralmente, as pessoas tendem a ser justas (R$5 para cada).
No estudo de Eduardo e Dan, eles encontraram que pessoas com raiva tendem a negar propostas injustas (e.g. R$7,50 para o proponente) com mais frequência do que as pessoas sem raiva ou felizes. Em outras palavras, se você está com raiva e alguém te oferece apenas R$2,50 no Ultimatum Game, você tende a negar a oferta, de maneira que ninguém ganha nada. Mas será que mesmo depois que a raiva passa, essa sua decisão de negar a proposta influencia decisões futuras? No mesmo estudo, depois que a raiva passou, os participantes jogaram o Ultimatum Game novamente, mas dessa vez como proponentes, ou seja, dessa vez eles que propuseram a divisão. O resultado foi que a oferta dos participantes que estavam com raiva antes foi mais “justa”(e.g., R$5 para cada um) do que a oferta dos participantes que estavam felizes antes.
Mas porque isso aconteceu? E o que isso tem a ver com nossas decisões quando estamos com raiva? Nós seres humanos temos uma tendência a agir e tomar decisões que sejam consistentes com nossas com nossas ações e decisões anteriores. Por exemplo, se em uma segunda-feira alguém te convence a usar uma blusa azul — mesmo que você não goste muito de azul — a possibilidade de que você seja convencido, na sexta-feira, a usar uma calça azul é muito maior. Isso ocorre pois, implicitamente, você está tentando ter um comportamento consistente. Em outras palavras, quando estamos com raiva e tomamos uma decisão, para manter um comportamento consistente, nossas decisões futuras serão influenciadas pela decisão que tomamos quando estávamos com raiva. No exemplo do experimento, as pessoas que estavam com raiva e negaram a oferta injusta — mostrando que apreciam uma oferta “justa”– quando tiveram a chance de propor a divisão, propuseram uma divisão justa, pois essa decisão é consistente com a decisão anterior (quando eles estavam com raiva). Já as pessoas felizes que aceitaram mais propostas injustas no primeiro jogo, também mantiveram a consistência e propuseram divisões mais injustas no segundo jogo.
Basicamente o estudo sugere que nossas emoções influenciam nossas decisões mesmo depois que elas, as emoções, não estão mais presentes. Por isso, é importante evitar tomar decisões quando estamos com muita raiva, ou muito felizes, ou muito tristes, etc, pois, mesmo depois que essas emoções passam, a nossa tendência em ser consistente nos forçará a agir de maneira particular. Pensar bem antes de tomar qualquer decisão é sempre bom.
O Cognando está com algumas novidades para  2012. Para ficar por dentro dessas novidades, fiquem ligados no Cognando pelo Twitter, pelo Facebook e/ou pelo Google+.
O Cognando deseja um 2012 feliz e produtivo para todos.
Referência:

Andrade, E., & Ariely, D. (2009). The enduring impact of transient emotions on decision making Organizational Behavior and Human Decision Processes, 109 (1), 1-8 DOI: 10.1016/j.obhdp.2009.02.003

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Intuição Divina!

Sou super fã de Rubem Alves. Um dos livros de Rubem Alves que mais gosto é um chamado “Perguntaram-me se acredito em Deus“. Eu acho essa pergunta fantástica. Primeiro por que é uma pergunta esquisita (quem me conhece sabe que gosto de coisas esquisitas). Segundo, por que todo mundo gosta de fazer essa pergunta para psicólogos (ainda quero descobrir o porquê…). Um dia desses, conversando com uma psicóloga —  só pra sacanear — perguntei à ela se ela acreditava em Deus. Ela disse que sim. Óbvio que perguntei: porque? E eis que ela respondeu: “ah… sei lá! É intuitivo. Automático.

Hmmmm. De um ponto de vista cognitivo, existem pelo menos dois estilos de processamento mental que utilizamos no processo de tomada de decisões: intuição e reflexão. Intuição geralmente é baseado em processos automáticos e que não requer muito esforço cognitivo. Reflexão, pelo contrário, envolve uma análise crítica da situação e consequentemente um maior esforço cognitivo.
Algumas pessoas são naturalmente mais intuitivas que outras. Eu mesmo tenho uma amiga que diz que toda vez que ela precisa tomar uma decisão importante ela simplesmente “segue a intuição e seja o que Deus quiser“. Essa conexão entre processamento intuitivo e crença em Deus é bem interessante. E não é algo novo. Várias pesquisas em psicologia cognitiva afirmam que a crença em Deus é um produto natural da nossa cognição e que, consequentemente, ocorre de maneira intuitiva. Uma pergunta óbvia que segue esse tipo de afirmação é: será então que pessoas naturalmente intuitivas tendem a acreditar mais em Deus?
Uma pesquisa recente publicada no Journal of Experimental Psychology buscou responder exatamente essa pergunta. Amitai Shenav, David Rand e Joshua Greene, todos pesquisadores da Universidade de Harvard nos Estados Unidos, mediram o “estilo cognitivo” de várias pessoas, utilizando uma tarefa conhecida como CRT (Cognitive Reflection Test). Nessa tarefa, os participantes precisam responder à várias perguntas que têm respostas que parecem “intuitivamante” corretas, mas que “reflexivamente” são incorretas. Por exemplo: “uma meia e uma chuteira de futebol custam um total de R$ 1,10. A chuteira custa R$ 1,00 a mais que a meia. Quanto custa a meia?” Apesar da resposta mais intuitiva ser “a meia custa R$ 0,10“, a resposta correta é “a meia custa “R$ 0,05“. Os participantes que escolhem a resposta mais intuitiva são considerados pesssoas que têm uma tendência maior à esse estilo cognitivo. Além do CRT, os participantes da pesquisa também responderam a um questionário sobre a crença em Deus, e outras informações demográficas, tais como nível de escolaridade, partido político, renda mensal, etc.
Os pesquisadores encontraram que o estilo cognitivo (intuitivo ou reflexivo) prediz significativamente a crença em Deus — independentemente das outras variáveis demográficas. Em outras palavras, as pessoas mais intuitivas tem uma tendência maior a acreditarem em Deus. Como ainda existe muita gente que acredita na idéia de que apenas pessoas “pouco” inteligentes acreditam em Deus, os pesquisadores, em um outro estudo, mediram o nível de inteligência dos participantes (além do estilo cognitivo) e não encontraram nenhuma relação entre inteligência e crença em Deus, ou seja, a crença em Deus não está ligada à inteligência, e sim, ao estilo cognitivo: inteligente ou não, se você é uma pessoa intuitiva, as chances de que você acredite em Deus são maiores.
O resultado dessa pesquisa está diretamente relacionado com várias outras pesquisas que mostram que a “falta de controle cognitivo” é um dos motivos que levam as pessoas a acreditarem em Deus, ou em qualquer outra entidade sobrenatural que controla os acontecimentos do nosso dia-a-dia. Quando tomamos uma decisão com base na nossa intuição e o resultado dessa decisão é positivo, temos uma tendência muito maior a atribuir o resultado à alguma força além do nosso controle. Por outro lado, se refletimos cuidadosamente para decidir alguma coisa e o resultado é positivo, a tendência natural é de atribuir o sucesso da decisão ao processo análitico e não ao acaso, ou à alguma força sobrenatural. O mais interessante é ver mais um indício de que nossa cognição está intimamente relacionada com as crenças que formamos ao longo da nossa experiência! 🙂
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Referência:
Shenhav, A., Rand, D., & Greene, J. (2011). Divine intuition: Cognitive style influences belief in God. Journal of Experimental Psychology: General DOI: 10.1037/a0025391
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Se beber, não decida!

Sabe aquele sábado a noite que você não está com vontade de ficar em casa, mas não tem programa algum? E então acaba indo à festa do amigo do primo do vizinho?! Então. Ontem foi um desses sábados para mim. Para ser bem honesto, eu adoro esse tipo de festa. Elas são ótimas para fazer novas amizades, uma vez que geralmente eu não conheço 95% das pessoas que estão na festa. E obviamente, adoro observar o comportamento alheio (yes, creepy, I know… oh well). Essas festas são ótimas pra isso! 🙂
Como eu moro em uma cidade universitária, a probabilidade de qualquer festa envolver estudantes de graduação e bebida alcoólica é super alta. E com duas horas de festa, a probabilidade de se encontrar um estudante de graduação bêbado é quase 90%. Infelizmente (felizmente para algumas pessoas), tomamos péssimas decisões quando estamos bêbados. Falamos coisas que não queremos falar, fazemos coisas que não queremos fazer e criamos situações que não queremos criar. Existem várias pesquisas mostrando que tomada de decisão com estado alterado de consciência (bêbado, por exemplo) quase sempre envolve uma recompensa imediata (i.e., você fica com o cara ou com a menina que você quer), mas a longo prazo, envolve consequências ruins (i.e., envolvimento emocional desnecessário e indesejável, baixa auto-estima, etc).
Mas por que tomamos decisões ruins quando bebemos? Uma pesquisa recente, desenvolvida por Patrick Quinn e Kim Fromme, ambos do departamento de Psicologia da Universidade do Texas mostrou que existe uma correlação muito alta entre a capacidade que temos de auto-regulação — capacidade de controlar nossos impulsos, emoções e desejos — e comportamento alcoólico de risco. A correlação é obviamente negativa: quanto maior sua capacidade de auto-regulação menor é a chance de você se envolver em comportamentos alcoólicos de risco. No entanto, várias outras pesquisas mostram que mesmo as pessoas que têm um alto poder de auto-regulação, quando bebem, apresentam uma queda nessa habilidade e acabam tomando decisões impulsivas e que buscam uma recompensa imediata.
Em geral, quase 70% dos estudantes de graduação nos grandes centros universitários tem uma vida sexual ativa. A grande maioria desses estudantes se engajam frequentemente em sexo casual, com parceiros que encontraram apenas uma vez e que não pretendem manter nenhum vínculo emocional a longo prazo. Qual o problema disso? Bom, além do problema óbvio do risco de contração de doenças sexualmente transmissíveis, há um risco, menos óbvio, quem tem a ver com o bem estar psicológico do indivíduo. Várias pesquisas mostram que uma vida sexual saudável traz grandes benefícios psicológicos a longo prazo.
Uma pesquisa recente desenvolvida por  Matthew Gailliot e Roy Baumeister, ambos da Universidade Estadual da Flórida, mostrou que quando a nossa capacidade de auto-regulação é “atrapalhada”(via bebida alcoólica ou qualquer outro mecanismo) temos uma tendência maior em manter relações sexuais sem restrições (i.e., não escolhemos bem os parceiros, engajamos em sexo sem proteção e temos muitos parceiros sexuais em um espaço curto de tempo). Uma vez que baixa auto-regulação tem um foco em recompensas imediatas, não vemos as consequências que esse tipo de comportamento traz a longo prazo. Por exemplo, algumas pesquisas têm mostrado resultados robustos relacionando condutas sexuais atípicas e vários outros problemas, tipo: uso excessivo de drogas, transtornos alimentares, depressão ou baixa-estima excessiva. Não há, obviamente, uma relação de causa-e-efeito, mas é importante saber que essas coisas estão intimamente relacionadas.
No final das contas,  é importante também conhecer um pouco mais das consequências psicológicas que uma vida sexual “desregrada” pode ocasionar. Apesar da clara recompensa imediata que ela traz (ninguém está negando que fazer sexo seja bom e prazeroso), uma vida sexual ativa e saudável envolve muito mais que simplesmente “sentir tesão”. Pode ser uma boa idéia conhecer outros aspectos da vida dos nossos parceiros sexuais, mesmo que sejam apenas “fuck buddies”. Sempre há algo de interessante para se descobrir — algo além do que se descobre na cama! 🙂
A dica que fica é: evite tomar decisões quando estiver bêbado! Em outras palavras, se beber, não decida!
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Referência:

Gailliot, M., & Baumeister, R. (2007). Self-Regulation and Sexual Restraint: Dispositionally and Temporarily Poor Self-Regulatory Abilities Contribute to Failures at Restraining Sexual Behavior Personality and Social Psychology Bulletin, 33 (2), 173-186 DOI: 10.1177/0146167206293472

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O gene feliz! :-)

Aristóteles disse certa vez que a “felicidade é o propósito mais importante na vida de um ser humano”. Não é à toa que a maioria das pessoas vivem em busca da tal “fórmula da felicidade”. E para falar a verdade, essa é uma busca que vale a pena. Várias pesquisas ao longos dos anos têm mostrado os benefícios — físicos e psicológicos — de “ser feliz”. Por exemplo, algumas pesquisas mostram que pessoas felizes são mais saudáveis, mais produtivas e têm salários maiores.

Apesar de já estar bem claro que são vários os fatores que influenciam o nível de felicidade de uma pessoa, a idéia de que existe um componente genético que contribui para a nossa felicidade — e para a caracterização de vários outros traços da nossa personalidade — está cada vez mais predominante. Pesquisas com gêmeos idênticos, por exemplo, mostram que quase 33% da variação no nível de felicidade das pessoas pode ser explicada por fatores genéticos.

Apesar desses resultados, a pergunta que ainda continua sem resposta é: qual seria o gene responsável por essa variação no nosso nível de felicidade? Jan-Emmanuel De Neve — pesquisador do Departamento de Governo da Escola de Economia e Ciência Política do University College em Londres —  e alguns outros pesquisadores lideraram uma pesquisa recente para tentar responder a essa pergunta. Esses pesquisadores resolveram investigar um gene conhecido como 5-HTT (mais especificamente 5-HTTLPR). Esse gene, localizado no cromossomo 17, é responsável pela codificação da proteína responsável pelo transporte de serotonina no nosso cérebro.

Mas afinal de contas, o que é essa serotonina? Serotonina é um neurotransmissor muito importante na regulação do nosso humor e emoções. As pessoas que me conhecem e que convivem comigo, por exemplo, sabem que eu sou, o que eles chamam aqui nos Estados Unidos de moody: em bom e claro português, eu tenho constantes oscilações de humor. Essas oscilações de humor estão diretamente ligadas ao funcionamento (quantidade e transporte) da serotonina na região límbica do cérebro (a região responsável pelo controle das emoções e do humor). Uma vez que esse neurotransmissor é tão importante na regulação das emoções e humor, os pesquisadores apostaram na idéia de que qualquer gene diretamente relacionado ao funcionamento desses neurotransmissores deveria ser o gene responsável pela oscilação no nosso nível de felicidade.

Se você se lembra das suas aulas de introdução à genética, você deve se lembrar que nós temos duas versões de um mesmo gene (o que chamamos de alelos). E esses alelos podem ser curtos ou longos. Algumas pessoas têm dois alelos longos. Outras dois alelos curtos e outras um de cada. Sem entrar em muitos detalhes sobre polimorfismo funcional, a idéia básica é que algumas pessoas têm o 5-HTT longo e outras têm o 5-HTT curto. A versão longa produz mais transportadores de serotonina e consequentemente são chamados eficientes. A versão curta, em contrapartida, produz menos transportadores e é considerada menos eficiente.

Em um estudo com mais de 2.400 pessoas, Jan-Emmanuel e sua equipe mostraram que existem uma correlação alta e significativa entre o nível de felicidade das pessoas e o tipo de gene que elas possuem. Em outras palavras, eles encontraram que as pessoas que têm a versão mais eficiente do gente 5-HTT são em geral mais felizes e satisfeitas. Essa correlação significativa é um dos primeiros passos na tentativa de estabelecer a natureza da contribuição genética para o nosso nível de felicidade.

É importante ter cuidado ao interpretar os resultados. Geralmente as pessoas (a mídia mais precisamente) tende a interpretar esses resultados como determinísticos, ou seja, o gene 5-HTT curto determina que a pessoa será pouco feliz, ao passo que o gene 5-HTT longo determina que a pessoa será feliz. Essa é uma interpretação errada desses resultados. Os fatores externos tais como empregabilidade, amizades, bom relacionamentos, etc., sempre irão contribuir de maneira significativa para a manutenção de um nível de felicidade satisfatório. Entender a relação entre esses fatores externos e os fatores genéticos é fundamental. E mais fundamental ainda é conseguir criar e manter um ambiente que contribui ainda mais para a sua felicidade.

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Referência:

De Neve JE (2011). Functional polymorphism (5-HTTLPR) in the serotonin transporter gene is associated with subjective well-being: evidence from a US nationally representative sample. Journal of human genetics, 56 (6), 456-9 PMID: 21562513

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Bilingüismo vem de berço!

Em 2003, ainda quando eu era aluno de graduação, eu ajudei uma amiga minha, Débora H. Souza — hoje professora no Departamento de Psicologia da Federal de São Carlos — a coletar os dados para a pesquisa de doutoramento dela. Foi uma pesquisa bem interessante. Sem entrar em muitos detalhes (posso falar da pesquisa dela em uma outra postagem), basicamente, ela estava interessada na aquisição dos conceitos (estados mentais) descritos pelos verbos ingleses think e know. Em português, o verbo think pode ser traduzido por dois verbos: “pensar” (I’m thinking right now) ou “achar/não ter certeza” (I think I’ll come back later).  O mesmo ocorre com o verbo know: pode ser traduzido como “conhecer” (I know that guy) ou “saber/ter certeza” (I know what’s inside the box). Em termos bem gerais, a Débora estava interessada em saber como se dá a aquisição desses termos em crianças brasileiras e americanas.

Semana passada, durante uma “faxina” no nosso laboratório, eu encontrei, além de uma caixa de disquetes de instalação do SPSS (old stuff), um CD com os vídeos utilizados pela Débora para a coleta dos dados dela. Nos vídeos, dois garotos interagiam em uma conversa onde eles utilizavam pseudo-verbos (verbos que não existem) para descrever os estados mentais saber, conhecer, achar e pensar. Como a Débora coletou dados no Brasil e nos Estados Unidos, essas crianças tinham que interagir tanto em inglês quanto em português. Para esses garotos, isso não foi problema: eles falavam português e inglês perfeitamente. Eles eram bilingües. Mais especificamente, eles eram o que chamamos de bilingües simultâneos (aqueles que aprendem as duas línguas ao mesmo tempo).
Eu acho isso simplesmente fascinante. Acho fantástico a maneira como crianças expostas a mais de uma língua (duas, três, até quatro) conseguem aprender todas as línguas de maneira sistemática, sem esforço e se tornam competentes — falantes nativos — em todas línguas. Mas afinal de contas, onde isso começa? Existem muitas pesquisas mostrando que a preferência pela língua materna começa bem cedo, antes mesmo de nascermos. Isso mesmo. Várias pesquisas mostram que, com apenas algumas horas de vida, as bebês preferem escutar sons da língua materna do que sons de línguas estrangeiras. Mas será o que acontece quando existem duas ou mais línguas maternas? Será que bebês demonstram uma preferência específica?
Essa foi a pergunta que um grupo de pesquisadores do Canadá e da França tentaram responder. Krista Byers-Heinlein (Concordia University, Québec), Tracey Burns (Organization for Economic Development, França) e Janet Werker (University of British Columbia, BC) investigaram a língua de preferência de um grupo de bebês recém-nascidos (com no máximo 5 dias de vida) filhos de mães monolingües e bilingues (Inglês-Tagalog/Filipino). Mas afinal, como se mede preferência de bebês? Uma técnica bastante utilizada é a chamada “técnica de sucção”. Os pesquisadores dão ao bebê uma chupeta especial que grava a pressão e a frequência com que o bebê “suga” a chupeta. Quanto maior a pressão e a frequência da sucção, maior o interesse do bebê no estímulo sendo apresentado (no caso dessa pesquisa, as línguas Inglês e Tagalog).
Os pesquisadores encontraram que os bebês filhos de mães monolingües mostraram uma preferência maior para o Inglês do que para o Tagalog. No entanto, os bebês filhos de mães bilingües não mostraram preferência maior por nenhuma das duas línguas, ou seja, as duas línguas tinham o mesmo grau de preferência. Eles ainda testaram a capacidade dos bebês de diferenciarem as duas línguas e encontraram que tanto os bebês bilingües quanto os bebês monlingües foram capazes de diferenciar entre as duas línguas. Esse resultado demonstra que apesar de não mostrarem nenhuma preferência, as crianças bilingües “sabiam” que se tratava de duas línguas diferentes.
Apesar de ser ainda um dos primeiros estudos sobre percepção lingüística de bebês bilingües, os resultados mostram que a experiência linguística pré-natal de alguma maneira já influência suas preferências. Ou seja, cuidado com o que fala com o seu bebê, ainda que ele esteja na sua barriga! 🙂
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Referência:

Byers-Heinlein, K., Burns, T., & Werker, J. (2010). The Roots of Bilingualism in Newborns Psychological Science, 21 (3), 343-348 DOI: 10.1177/0956797609360758

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Sexualidade na Infância: Uma entrevista com Sarah McKenney

Existe muita gente bonita nesse mundo. Não é a toa que o número de modelos parece só crescer: cada dia vemos uma modelo diferente na TV, nas revistas e nos outdoors. Recentemente a revista Vogue — um dos principais veículos da moda mundial — divulgou algumas fotos super sexy de uma modelo que rapidamente se tornou a sensação do momento: Thylane Blondeau. O sucesso de Thylane, no entanto, não está relacionado apenas à beleza e à sexualização de suas fotos. A atenção em torno de Thylane se deve ao fato de que ela tem apenas 10 anos de idade. Isso mesmo! 10 anos de idade.

Obviamente, a polêmica acerca do assunto se espalhou rapidamente. E tem de tudo. Algumas pessoas concordaram com as fotos dizendo que elas não passam de uma demonstração de arte e da valorização da beleza da criança. Outras pessoas acharam um absurdo, dizendo que esse tipo de representação de crianças é ruim e traz sérias consequências tanto sociais quanto psicológicas para o desenvolvimento da criança. Estou com o segundo grupo.
No dia 15 de Agosto, Sarah McKenney, uma pesquisadora do Gender and Racial Attitudes Lab na Universidade do Texas em Austin, publicou um texto bem interessante sobre o assunto. No seu texto, publicado no blog Sociological Images, Sarah fala um pouco das consequências que esse tipo de representação traz para a formação da identidade da criança. Ela apresenta uma distinção interessante entre “sexualidade” e “sexualização” e discute um pouco das consequências — negativas — que a sexualização da criança traz para o seu desenvolvimento (ex.: desordens alimentares, baixa auto-estima, etc.).
Como não sou nenhum expert no assunto mas reconheço a importância de uma discussão menos superficial sobre o assunto, resolvi fazer algo um pouco diferente para essa postagem: Fiz uma pequena entrevista com a Sarah McKenney. Vamos ver o que ela tem a dizer sobre o assunto.
No seu texto, você fala sobre “sexualidade” e “sexualização” como duas idéias distintas. Qual é a diferença básica entre esses dois termos?
Sim, são dois termos distintos. Em termos básicos, sexualização está ligado à idéia de aparência, ao passo que sexualidade tem a ver com comportamentos, desejos e crenças. Quando uma garota, por exemplo, é sexualizada, ao invés de se preocupar com suas crenças e comportamentos, ela se preocupa mais em parecer “sexy” e desejada. Basicamente garotas sexualizadas querem que as outras pessoas as achem “gostosas”. Nesse sentido, as fotos de Thylane Blondeau são fotos sexualizadas, pois certamente ninguém que vê a foto se importa com suas crenças e seus desejos, mas apenas a vêem como “uma menina sexy de 10 anos de idade”. Sexualidade está relacionado com nossas crenças sobre sexo, nosso papel em uma relação sexual, valores, etc.
Mas nesse sentindo, como podemos falar em sexualidade em uma garota de 10 anos de idade? Elas podem, já nessa idade, pensar em sexo?
Eu acho que elas podem. Eu não vejo nada demais em crianças dessa idade pensar sobre sexo. Isso não quer dizer, obviamente, que elas devam praticar qualquer tipo de atividade sexual. Mas não vejo nada de errado com crianças que pensam sobre sexo. O erro e o problema estão quando elas começam a relacionar os conceitos que elas têm sobre sexo com a idéia de que elas precisam “parecer gostosas” e desejadas para ter uma relação sexual. Isso sim é problemático.
Que tipo de evidência existe de que sexualização é algo ruim para a criança?
Existe muita evidência. A Associação Americana de Psicologia fez recentemente uma revisão de literatura bem completa sobre o assunto. Eles fizeram o levantamento de uma lista de aspectos negativos que estão supostamente correlacionados com o tipo de sexualização presente na mídia. Alguns desses estudos, por exemplo, mostram que quando adolescentes são expostas a imagens sexualizadas de modelos — as modelos esqueléticas que sempre aparecem no catálogo da Victoria Secret, por exemplo — essas adolescentes tendem a criar uma visão mais negativa do próprio corpo, tendem a perder um pouco da auto-estima e desenvolvem uma série de outros problemas. Outras pesquisas têm tentado mostrar as consequências negativas que a internalização de tais crenças trazem. Por exemplo, a professora Rebecca Bigler e eu estamos desenvolvendo algumas pesquisas onde investigamos em que medida garotas em idade escolar já têm internalizada a idéia de que elas precisam sempre parecer bonitas e gostosas para outras pessoas. Para isso, criamos uma medida que acessa o grau de sexualização dessas crianças — fazemos perguntas do tipo “é importante para você que os garotos te achem bonita?” ou “você faria uma cirurgia plástica apenas para ficar mais bonita para os garotos?” Ainda não temos todos os resultados conclusivos, mas o que temos encontrado é que existe uma correlação negativa muito grande entre o grau de sexualização e outras medidas, tais como performance escolar, satisfação pessoal, etc. Essa internalização afeta até mesmo o comportamento dessas crianças, pois elas passam a se vestir de maneira que elas possam ser vistas e desejadas pelas outras pessoas. A preocupação fica toda na imagem.
E os garotos? Existe alguma pesquisa mostrando o papel dos garotos nessa história?
Sim, existe. Estamos começando a investir nesse tipo de pesquisa também aqui no nosso laboratório. A crença comum de garotos de que a mulher deve ser uma figura sexy é igualmente problemática. Em um de nossos estudos —  um estudo longitudinal — estamos acessando, como antes, o grau de sexualização de garotas em idade escolar (começando aos 7 anos de idade), e estamos medimos em todas as crianças (meninos e meninas) o grau de aceitabilidade delas em relação as outras pessoas. Com esse estudo, poderemos verificar de uma forma mais sistemática em que medida os garotos tendem a preferir e aceitar as garotas mais sexualizadas em comparação às outras garotas.
Bom, por mais que a gente não queira, a mídia está cheia de imagens do tipo que a revista Vogue publicou. Qual deve ser a atitude dos pais nessa situação?

Você está certo. As crianças estão expostas à imagens sexualizadas o tempo todo. No entanto, é importante que os pais tenham regras claras com seus filhos. Regras acerca do tipo de roupa que eles devem ou não usar. Em uma de nossas pesquisas, por exemplo, nós mostramos que quanto mais “soltos” os pais de garotas são com relação ao tipo de roupa que elas usam, maior é a tendência de que elas se tornem mais sexualizadas. O papel dos pais é sim muito importante no que se refere ao estabelecimento de regras sobre o que pode e não pode fazer, usar, etc. Eles devem se preocupar até mesmo com o tipo de roupa que compram para suas filhas. Eu vi várias entrevistas com a mãe da Thylane e ela insiste em dizer que não vê problema nenhum nesse tipo de representação da filha dela. Eu acho isso problemático.
Eu acredito que muito pais achem difícil encontrar a linha entre respeito e autoritarismo. Como agir para respeitar a vontade da criança e ao mesmo tempo ditar as regras?
Isso é mesmo uma tarefa difícil. O importante é estabelecer regras e explicar o “porquê” delas. Diga quais roupas não podem ser usadas e explique por que elas não podem ser usadas. Dizer “não e pronto” é ruim, mas explicar para a sua filha que ela deve se respeitar e buscar o respeito de outras pessoas é essencial.
E os pais de garotos? Como eles devem agir?
Eu sempre digo que no fundo o importante mesmo é ensinar seu filho a respeitar o outro. Os pais de garotos devem ensiná-los que garotas não devem ser tratadas como objetos ou apenas um pedaço de carne. É importante que eles aprendam a respeitar os sentimentos e crenças delas. É importante também que eles aprendam a valorizar outros aspectos da personalidade das garotas quando se interessam por elas. Muitas vezes, as garotas agem de maneira sexualizada simplesmente por que os garotos gostam assim. Parte do problema deve ser trabalhado com os garotos. Mas, no final das contas, o importante é ensinar seu filho sobre como respeitar os outros.

Sarah McKenney, desenvolve juntamente com a professora Rebecca Bigler várias pesquisas em psicologia do desenvolvimento com foco em fatores relacionados a gênero e raça. Se você quiser saber mais sobre as pesquisas da Sarah e do laboratório onde ela atua, basta enviar um email para ela: mckenney@mail.utexas.edu
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Já leu seu horóscopo hoje?

Certos amigos incomodam quando ficam muito tempo distantes da gente. Eu tenho uma amiga assim. Toda vez que ela fica mais de uma ou duas semanas sem falar comigo (geralmente via Skype), eu encho a paciência dela. Faço a maior pressão psicológica. Escrevo dizendo que ela não gosta mais de mim, que ela dá mais atenção aos outros amigos dela, que ela nunca tem tempo pra mim, e que nem se eu morresse ela sentiria minha falta. Dramático, não? Pois é. Ela também acha. Ela diz que eu sou muito dramático. Na verdade, para ser mais exato, ela diz que pessoas do signo de Peixes, em geral, são muito dramáticas. Pessoas de Peixes são dramáticas, depressivas, pegajosas e têm a síndrome da tempestade em copo d’água: todo problema é do tamanho do mundo.

Ainda nesse clima de zodíaco, recentemente, uma outra amiga postou o seguinte texto no mural do Facebook dela:

NUNCA acreditar em três pessoas: Sagitário, Áries e Peixes: Eles são egoístas e mesquinhos.
NUNCA perder três pessoas: Touro, Câncer e Capricórnio: São os amantes mais sinceros e verdadeiros.
NUNCA deixe três pessoas: Virgem, Libra e Escorpião: Eles podem manter segredos, amizade e eles podem ver suas lágrimas.
NUNCA rejeite três pessoas: Leão, Gêmeos e Aquário: Eles são verdadeiros e amigos honestos.

A coisa deu a maior polêmica. Pessoas do signo de Peixes, Áries e Sagitário se manifestaram. Outras não gostaram da manifestação e, como diz minha mãe: “foi o maior fuzuê” no Facebook. Eu achei super engraçado!

Dramas e fuzuês à parte, eu acho simplesmente fascinante o impacto que as crenças e os estereótipos disseminados pela astrologia ocidental (e oriental em certa medida) tem no dia-a-dia das pessoas. Utilizamos o horóscopo para entender certos comportamentos das pessoas (egoístas, mesquinhos, verdadeiros, etc.), para saber quem é a nossa cara-metade (Sagitário combina com Escorpião), para saber como será nosso dia, nosso ano, etc. A maioria dos jornais de grande circulação traz uma seção especialmente dedicada ao horóscopo. Mas é óbvio que meu fascínio vai muito além do impacto que isso causa nas pessoas. Eu gosto mesmo é de entender por que acreditamos nessas coisas. Por que cargas d’água acreditamos que a posição dos planetas no dia em que a gente nasce influencia nossa personalidade?

Já comentei aqui, em várias postagens do Cognando, que o nosso sistema cognitivo se perturba com qualquer tipo de falta de controle. Por exemplo, quando uma pessoa que você acha que conhece bem age de uma maneira inesperada, o seu sistema cognitivo começa a buscar as “causas” para entender essa ação inesperada. A sensação de não entender o porquê da atitude da pessoa é entendida pelo nosso sistema cognitivo como falta de controle. Outros exemplos de falta de controle cognitivo são: (1) quando não sabemos como vai ser nosso futuro, ou (2) quando não entendemos como lidar com a nossa situação presente para obter resultados desejáveis no futuro. Uma vez que nosso sistema cognitivo se “perturba” com a falta de controle, ela utiliza algumas estratégias que têm como principal função restabelecer o controle (ou pelo menos a sensação de controle).

Dentre as estratégias que o sistema cognitivo utiliza está a crença no sobrenatural ou em agentes sobrenaturais que controlam nossas atitudes e ações. Várias pesquisas têm mostrado que a religião, por exemplo, serve muito bem essa função (veja a postagem do dia 24/02/2011). Outro mecanismo que serve essa função é a crença nas previsões e características ditadas pelo horóscopo. Jennifer Whitson da Universidade do Texas em Austin, Cynthia Wang da Universidade Nacional de Singapura e Tanya Menon da Universidade de Chicago apresentaram uma pesquisa muito interessante no Conferência Anual da Associação Internacional de Administração de Conflitos realizada em Boston em junho de 2010. Elas estavam interessadas em saber se falta de controle cognitivo faz com que as pessoas acreditem mais nas características dos signos delas contidas no horóscopo.

Para testar isso, metade dos participantes da pesquisa foram induzidos a ter falta de controle cognitivo enquanto a outra metade foi induzida a ter controle cognitivo. Após a indução inicial, os participantes tinham que ler o horóscopo do signo deles e dizer, em uma escala de 1 a 7, o grau de concordância deles com a descrição.

Como era esperado, os resultados mostraram que as pessoas induzidas a ter falta de controle cognitivo concordaram muito mais com a descrição do horóscopo do que as pessoas que foram induzidas a ter controle cognitivo. Semelhante ao resultado das outras pesquisas da mesma natureza, esse resultado sugere que, assim como a religião e a crença em Deus ou em outros seres sobrenaturais que controlam nossas atitudes, o horóscopo é também um mecanismo compensatório poderoso que nos dá uma sensação de controle cognitivo.

No final das contas, por mais absurda que seja a idéia de que os planetas do nosso sistema solar e o universo como um todo controlam a nossa personalidade, essa é uma maneira eficiente que algumas pessoas encontram para compreender a complexidade das atitudes dos seres humanos. A verdade é que algumas outras pessoas são mais tolerantes às incertezas da vida e à falta de controle cognitivo — algumas culturas até mais que outras. É interessante notar que as pessoas mais tolerantes à falta de controle são geralmente menos supersticiosas, menos religiosas e menos aptas à correlacionar fatos claramente desconexos (por exemplo, atribuir a culpa da morte de alguém à alguma coisa que a pessoa disse antes de morrer).

Sem querer ser dramático (coisa de gente de Peixes), acho que você nem gosta do blog Cognando, pois até hoje não começou seguí-lo no Twitter e no Facebook. 🙂

Referência:

Whitson, Jennifer, Wang, Cynthia, & Menon, Tanya (2010). Cross-cultural differences in sense-making after losing control McCombs Research Paper Series

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Quer trocar? Veja como a nossa cognição fabrica felicidade.

Vou começar postagem de hoje com uma pergunta sobre o seu futuro: se você pudesse escolher, qual dos dois futuros abaixo você escolheria para a sua vida?

(a) ganhar 3 milhões de reais na mega-sena acumulada.
(b) ficar paraplégico em cadeira de rodas para o resto da vida.
Tenho certeza que você pensou: “que pergunta é essa? Óbvio que prefiro a alternativa (a). Eu e 100% das pessoas que leêm o Cognando”.  Mas você já deve saber que, como psicólogo cognitivo, eu vou te perguntar: Por que? E você vai responder: “duh!!!!!! Simplesmente porque vou ser mais feliz ganhando na loteria do que ficando paraplégico”. Sim. Você e 100% dos leitores concordam que pessoas que ganham na loteria são, em média, mais felizes que pessoas que ficam paraplégicas. No entanto, para a nossa surpresa, existem dados mostrando que, um ano após de ganhar na loteria ou ficar paraplégico, as pessoas são igualmente felizes. Isso mesmo: em média, pessoas que ganham na loteria e pessoas que ficam paraplégicas, depois de um certo tempo, apresentam o mesmo grau de felicidade.
Esse tipo de “erro” da estimativa da nossa felicidade é um dos fenômenos que eu acho mais intrigante na cognição humana. É um fenômeno conhecido como impact bias, ou seja, temos a tendência de supervalorizar os nossos sentimentos com relação a eventos futuros. Isso acontece com a gente o tempo todo. Vou usar um exemplo muito mais comum no nosso dia-a-dia. Quando você entra para um relacionamento e se apaixona pela outra pessoa, você tende a achar que sua vida vai simplesmente desmoronar quando o relacionamento acabar. E o que na verdade acontece (e acontece sempre) é que após o término do relacionamento, o seu nível de felicidade é geralmente o mesmo de antes (às vezes até maior). E por que isso acontece?
Uma resposta que os psicólogos tem para isso é a idéia de que, assim como o nosso corpo tem um sistema imunológico que nos defende e sempre busca manter o nosso bem-estar, o nosso sistema cognitivo tem um sistema imunológico psicológico. Esse sistema nos defende das adversidades psicológicas (perda de amores, de dinheiro, traição, etc.) fazendo com que a gente mantenha um nível de bem-estar constante. É o que chamamos de felicidade sintética (em oposição à felicidade natural). Felicidade sintética é aquela que “fabricamos” quando uma adversidade ocorre.
Dan Gilbert, da Universidade de Harvard tem um estudo interessante mostrando esse efeito. O estudo original utiliza pinturas do Monet, mas para deixar a idéia mais clara (e mais interessante) vou  modificar utilizando fotos de pessoas. Imagine que eu mostre à uma garota a foto de seis homens (Jansen Atwood,  Keanu Reeves, Jon Bon Jovi, Wayne Virgo, Patrick Demsey e André Souza) e peça a ela para colocá-las em ordem de preferência. Eis a ordem que ela escolhe:
1 – Patrick Demsey
2 – Jansen Atwood
3 – Wayne Virgo
4 – Jon Bon Jovi
5 – Keanu Reeves
6 – André Souza (eu já sabia!)
Após isso, eu falo com ela assim: “olha, na verdade, eu vou te dar uma cópia dessas fotos, mas só tenho as fotos do Wayne Virgo e do Bon Jovi em estoque. Qual você vai querer?” Naturalmente, ela vai escolher a foto do Wayne Virgo, pois na ordem de preferência dela ele veio primeiro. Duas semanas depois, eu chamo essa mesma garota de volta ao laboratório e mostro à ela as mesmas seis fotos. Dessa vez, olhe a ordem que ela escolhe:
1 – Patrick Demsey
2 – Wayne Virgo
3 – Jansen Atwood
4 – Keanu Reeves
5 – Jon Bon Jovi
6 – André Souza
Basicamente o resultado diz: “a foto que eu escolhi é mesmo bem melhor, a que eu não escolhi é na verdade, ruim.” A adversidade de não poder ter escolhido uma das primeiras fotos foi compensada. Em outras palavras, o sistema imunológico psicológico “cria” uma preferência pelo que temos e o que não temos mais passa a ser ruim. Esse é um mecanismo comum nos seres humanos: o seu atual namorado (José) é muito melhor que seu ex-namorado (Carlos). E se você voltar para o Carlos, ele vai passar a ser melhor que o José. Para o seu sistema cognitivo, você sempre tem o melhor.
Mas o mais interessante não é isso: quando temos a opção de escolher aquilo que vai acontecer, é quando somos mais infelizes (apesar de intuitivamente pensarmos que seja diferente). Eu explico: Imagine que a C&A ofereça aos consumidores a oportunidade de trocar um produto após a compra, caso o consumidor não goste do produto. Já a Renner não oferece essa oportunidade: uma vez que você comprou, não pode mais trocar. Em qual loja você preferiria comprar? A grande maioria das pessoas tende a escolher a C&A. E se eu te perguntar: Comprando em qual das lojas você acha que vai ficar mais feliz com o produto? As pessoas também tendem a pensar que comprando na C&A elas ficarão mais felizes, pois caso não gostem, elas podem simplesmente trocar o produto.
O que de fato acontece é que as pessoas ficam significativamente mais insatisfeitas quando há a possibilidade da troca do que quando não há. O próprio Dan Gilbert tem uma série de estudos mostrando isso. Em outras palavras, sem saber, as pessoas preferem uma situação que as deixarão insatisfeitas à uma situação em que não há escolha. Quando não há a possibilidade de troca, o seu sistema imunológico psicológico vai buscar te fazer feliz com o que tem. E esse sistema só age quando não temos outra opção.
E por que isso acontece? Bom a explicação é longa e merece uma outra postagem só para ela. Mas para adiantar (e aguçar a curiosidade): esse efeito tem haver com a nossa tendência a explicar e buscar causas para as nossas adversidades. Uma vez que encontramos ‘uma causa’ para o término do nosso relacionamento, ou uma ‘causa’ para o emprego que perdemos, o nosso sistema cognitivo nos diz: “tá vendo? não há com que se preocupar”, e acabamos ficando mais satisfeitos com a situação que temos (e a achamos melhor que o que tínhamos no passado).
É uma característica cognitiva natural e implícita (ocorre mesmo quando não temos consciência). Muitas vezes o problema está nas “causas” que atribuímos às adversidades, às vezes colocando a culpa em causas externas, ou mesmo negligenciando a nossa própria culpa na criação da adversidade. Isso pode criar outros problemas para o nosso sistema cognitivo lidar.
Só sei que no final das contas, o André ficou por último. Segundo a Natielle, é coisa de gente de Peixes! 🙂 Eu acho que é outra coisa!
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Referência:

Gilbert, D. (2002). The Future Is Now: Temporal Correction in Affective Forecasting Organizational Behavior and Human Decision Processes, 88 (1), 430-444 DOI: 10.1006/obhd.2001.2982

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