O que há de novo no ensino de Geociências?

As descobertas científicas na área de geociências têm impactos diretos sobre a relação entre sociedade e natureza. A questão dos recursos hídricos ou da mineração atinge diretamente a população, oferecendo matéria-prima para produção de alimentos e produtos manufaturados como veículos e telefones incorporados à cultura da sociedade. Por outro lado, os riscos ambientais e a busca cega por lucros resultam em acidentes como o de Mariana – MG que alterou as relações das pessoas com os recursos naturais da bacia hidrográfica.

Daí a importância do ensino de geociências para formação de profissionais éticos (ensino superior) e de cidadãos (educação básica) conscientes sobre os recursos naturais do planeta. Entretanto, segundo Toledo et al.(2005), muitas vezes, os conteúdos geocientíficos são tratados de forma fragmentada, dispersa e desatualizada, não conseguindo promover a compreensão da Terra como um sistema complexo e dinâmico.

A inovação educacional e o uso de tecnologias poderiam contribuir para o ensino de geociências? Segundo Messina (2001), desde o século passado, por volta da década de 1950 fala-se em inovação educacional, confundindo com a simples inserção de tecnologia no espaço escolar. Barbosa (2013) em sua tese de doutorado, nos conta sobre os processos de inovação presentes no Projeto Geoescola e destaca que a inovação educacional se relaciona a duas noções interconectadas: o projeto de aprendizagem com abordagem investigativa e a escola criadora de conhecimentos.

Geralmente, tais experiências de inovação educacional são apresentadas nos eventos científicos da área. No caso do ensino de geociências, a Sociedade Brasileira de Geologia, vem reservando uma sessão temática em seus últimos congressos para tratar do tema. Em 2016, na cidade de Porto Alegre foi realizado o 48º Congresso Brasileiro de Geologia- CBG, em que a sessão temática de Ensino e Educação em Geociências contou com a apresentação de mais de 50 trabalhos. Vários alunos do Programa de Ensino e História de Ciẽncias da Terra – PEHCT, do Instituto de Geociências da Unicamp apresentaram trabalhos sobre as pesquisas que vêm desenvolvendo.  Assista à entrevista com o coordenador do programa de pós graduação-PEHCT, Prof. Celso Dal Ré Carneiro, sobre o ensino de Geociências no CBG.

Entre os trabalhos apresentados chamou-me atenção o aspecto da gamificação. Segundo Santaela, em seu livro Comunicação Ubiqua: repercussões na cultura e na educação, a gamificação aparece como algo que pode levar ao engajamento dos alunos no processo de aprendizagem. O trabalho apresentado por Clódis de Oliveira Andrades Filho trata da adaptação do Jogo do Trunfo para o ensino de satélites e sensores para alunos de geologia. Com uma proposta semelhante, o trabalho “Jogo da memória para construção do conhecimento transversal sobre o intemperismo e a disponibilização de elementos químicos para a biosfera” foi apresentado como uma alternativa lúdica de ensino. Outro relato interessante foi do Prof. Roberto Grecco que apresentou o Projeto Geoideias que consiste na disponibilização de atividades práticas e vídeos sobre o ensino de geociências.

Outra abordagem interessante foi sobre o uso de tecnologias no ensino. Fiquei impressionado com o projeto de realidade virtual desenvolvido pelos professores do VIZLAB, vinculado à Unisinos. Ao colocar os óculos 3D, fiquei imerso em um afloramentos de rochas carbonáticas na Fazenda Arrecife, situada no município de Várzea Nova, na Chapada Diamantina Oriental (Bahia) onde foi possível ver detalhes das rochas e o relevo do lugar. Assista à entrevista com o professor  Maurício Veronez, um dos coordenadores do projeto.

Também deixo a apresentação na íntegra do trabalho de Leandro Thomaz, que talvez possa motivar a aprendizagem de geociências a partir das ideias de Charles Darwin.

Qual o papel da Geografia no ensino de Geociências?

No próximo post iremos refletir um pouco sobre o papel da Geografia no ensino de Geociências e apresentar alguns temas interessantes que foram tratados no 5º Encontro Regional de Ensino de Geografia, realizado entre os dias 20 e 22 de outubro em Campinas.

Referências:

BARBOSA, Ronaldo. Projeto geo-escola: geociências para uma escola inovadora. 2013. 182 p. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000920387>. Acesso em: 27 out. 2016

SANTAELLA, Lúcia. Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. São Paulo, SP: Paulus, 2013. 376 p.

TOLEDO, M. C. M.; MACEDO, A. B.; MACHADO, R.; MARTINS, V. T. S.; RICCOMINI, C.; SANTOS, P. R.; SILVA, M. E.; TEIXEIRA, W. Projeto de Criação do Curso de Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental – IGc/USP. Geologia USP.São Paulo, v.3, Public. Espec., p.1-11, set. 2005.

 

“Revisado por: Elaine Canisela”

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Sobre claudiomarinho 11 Artigos
Professor de Geografia, mestre em Educação e doutorando em Ensino de Geociências. Desenvolve pesquisa em educação a distância envolvendo produção de conteúdos educacionais e formação de professores em ambiente virtual de aprendizagem.

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