Será que ortopedistas tratam pacientes como tratariam a si mesmos?
Um estudo feito na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostrou que os ortopedistas são muito mais agressivos ao indicar cirurgias para seus pacientes do que seriam para indicá-las para si mesmos, diante do mesmo diagnóstico e mesma gravidade (1).
A pesquisa foi feita com 254 médicos especialistas em cirurgia da mão e membro superior. Eles receberam 21 casos fictícios de problemas ortopédicos comuns, onde haveria a possibilidade de escolher entre o tratamento sem cirurgia ou com cirurgia. Não eram casos onde a cirurgia seria obrigatória, portanto. Isto é relativamente comum na ortopedia. Muitas fraturas podem ser tratadas com gesso ou com pinos. Da mesma forma, problemas crônicos em tendões ou articulações também podem ser tratdos das duas maneiras.
Para cada caso, eles tinham que responder duas perguntas: primeiro, se indicariam cirurgia ou tratamento conservador (sem cirurgia); segundo, numa escala de zero a dez, o quanto confiante eles estavam sobre esta decisão. Por exemplo, se eu indicar uma cirurgia e tiver certeza que é a melhor escolha, então daria nota 10. Se eu estiver totalmente em dúvida, daria nota 0. Só que metade dos médicos tinham que responder se indicariam a cirurgia para seus pacientes, enquanto a outra metade tinha que responder se indicariam a cirurgia para eles mesmos.
Diante dos mesmos casos, 44,2% dos médicos indicariam cirurgia para o paciente, mas só 38,5% indicariam a mesma cirurgia caso o problema fosse com eles mesmos.
Por outro lado, os médicos ficaram muito mais confiantes ao indicar o tratamento para si mesmos (a nota média foi 7,9), do que para indicar o tratamento para seus pacientes (nota média de 7,5). Para quem entende de estatística, todas estas diferenças foram significativas.
O que isso significa? Os autores da pesquisa argumentam que este resultado destaca a importância da mudança de paradigma no setor de cuidados de saúde (healthcare) para um modelo de decisão compartilhada.
No modelo centrado na decisão médica, também conhecido como modelo paternalista, o profissional toma a decisão sozinho, acreditando que o paciente escolheria a mesma coisa se tivesse o mesmo nível de conhecimento. Isso pode não ser verdade, já que não é possível para o médico entender completamente todas as dores, emoções e anseios daquela pessoa específica.
Muita gente não sabe, mas não e´um desrespeito fazer perguntas para o médico. Um dos pilares da ética médica atual é o chamado princípio da autonomia. A pessoa tem o direito de participar da escolha de seu tratamento, sendo informada não só sobre os benefícios, mas principalmente sobre riscos e alternativas.
Verdadeiro portanto o velho adágio: “em casa de ferreiro, o espeto é de pau”.
Imagem: pixabay.com
Referência:
Obrigado caro Dr Alessandro por compartilhar estas informações. Decisão compartilhada e princípio da autonomia são termos que precisam ser respeitados pela comunidade médica e exigidos pela não-médica.
Nunca nos tratarão como a si mesmos.E pior,uma grande parte deles tem preguiça de estudar e pesquisar cada caso.Já fui diagnosticado errado por dois Ortopedistas e com muito empenho e Internet descobri o que havia acontecido.E nem preciso falar saques que psicografam uma receita pra nós.