Você quer ser sustentável até depois de morto? Já pensou em ser cremado? A cremação seria a última coisa em que um ambientalista ferrenho pensaria, mas pode ser a melhor opção disponível — contanto que seja sustentada por energia renovável. Pensando nisso já nos anos 1980, Kenneth H. Gardner inventou seu Cremation Apparatus and Method [Método e Aparato de Cremação], sistema no qual
Raios de calor do sol são concentrados e focalizados por meio de um dispositivo reflexivo e/ou lenticular em um ponto focal com o propósito de cremar cadáveres e reduzi-los a cinzas, tanto como sistema per se quanto em combinação com vários edifícios, equipamentos e instalações auxiliares, mais particularmente um auditório para a condução de um serviço funeral ou similar, do qual um cadáver possa ser transferido ao ponto focal do dispositivo concentrador, preferencialmente pela elevação do corpo através de uma abertura através do forro e/ou telhado da estrutura.
Natural de Bridgetown, Barbados (um lugar bastante ensolarado), Mr. Gardner revela que foi motivado por um misto de sustentabilidade e sensibilidade mí(s)tico-religiosa. É o que se lê nas justificativas da patente nº. 4.781.174, emitida em 1º. de novembro de 1988:
Técnicas de cremação já existentes empregam energia de combustíveis não-renováveis, como óleo, gás, carvão, ou lenha, os quais estão se tornando cada vez mais caros. Além disso, os métodos existentes são antiestéticos, pois geralmente envolvem o deslizamento horizontal ou a descida vertical do corpo para dentro de um forno, com indesejáveis conotações psicológicas. A descida vertical, seja em uma fornalha ou em um túmulo, também pode ter, para os religiosos, conotações como o fogo do inferno e a danação da alma. Isso, comparado com a ascensão para cima (sic) em direção ao Céu que para os enlutados é um simbolismo muito mais aceitável, mas que não tem estado disponível até agora em nenhuma instalação funerária. Mais basicamente, esse tem sido o sonho do homem há muitos milhares de anos (particularmente no antigo Egito e na religião Asteca): ser reunido na morte com o deus-sol e com a fonte última de toda a vida na Terra. A presente invenção torna isso possível.
Aparentemente, Gardner parece ignorar o fato de que, apesar de adorar o Sol, os egípcios mumificavam seus mortos e não os lançavam em piras solares. Misticismo à parte, será que funciona? Ao contrário de outros inventores, que geralmente escondem o funcionamento de suas invenções como segredos industriais, Gardner os revela claramente:
Uma temperatura de cerca de 1.700º. F. [927º. C] é necessária para iniciar a incineração e um total de 3.000.000 de BTU’s é necessário para consumir um cadáver. Assim, a uma taxa de aproximadamente 1.000.000 BTU/hora, a cremação duraria umas três horas. Uma parabólica espelho-reflector côncava (sic) similar ao hemisfério gerador de vapor Crosbyton em Lubbock, Texas, é considerada um coletor adequado. Com 65 pés [19,81 metros] de diâmetro, um prato desse tipo pode produzir aproximadamente 1.000.000 BTU/hora sob condições de luz solar total entre o meio da manhã e o meio da tarde.
Mas e se você quiser ou precisar ser cremado logo cedo ou à noite? Pior: e se você não for um devoto do Sol e for recebido com uma desprezível chuva pelo Astro-Rei? Pior ainda: e se quem te despreza os seus parentes e amigos, que não têm paciência para esperar três horas por suas cinzas? Segundo Gardner, há queimadores a gás “para uso auxiliar durante o tempo inclemente e/ou quando se deseja expeditar o processo de cremação.”
E quanto às cinzas? Se a cremação for solar, ocorre em local aberto e o que sobrar de você já pode ser levado pelo vento. E se você, ou melhor sua família, quiser guardá-las? Para evitar isso, o inventor propõe o uso de mangueiras para sugar as cinzas. Sabe-se lá se isso é efetivo…
Independente de suas crenças (ou ausência delas), é possível que você tenha que preparar o bolso antes de ser pulverizado por raios solares (o que daria um novo sentido à expressão “raio da morte”). De acordo com o projeto de Gardner, cada crematório solar teria apenas um refletor. Levando-se em conta que cada cremação tomaria três horas entre o meio da manhã e o meio da tarde (possivelmente entre as 9h e as 15h), só seria possível realizar duas cerimônias de cremação solar por dia. Isso, é claro, se o Sol colaborar…
Tales
Renato, eu sempre achei que, dos meios disponíveis, a cremação fosse o jeito que menos agredisse a natureza...
Uma jornada inesperada | hypercubic
[…] Patéticas (nº. xx) — por algo relacionado à patente patética em questão. Por exemplo, a Patente Patética nº. 62 sairá sob o título “Cremação Solar”. No subtítulo, vai o número da patente e a data de […]