O que andei vendo no Netflix em agosto e setembro

Celebridades que morrem aos 27, celebridades que saem para tomar café, celebridades que transformam a casa em pensão. E ainda: as memórias de ex-agentes infiltrados e passeios guiados por nossos parques nacionais.

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27: Gone too soon [2017 | 70 min.] — Se olharmos para a história da música no último século, centenas ou milhares de artistas morreram jovens, entre os 25 e os 35 anos. Uma idade, porém se destaca: a morte de um músico bem-sucedido aos 27 é algo tão comum que parece até esperado. E quando isso acontece a primeira pergunta que todo mundo faz é: por quê? Dirigido por Simon Napier-Bell, esse documentário busca responder essa pergunta estudando os casos mais famosos: Jimi Hendrix, Jim Morrison, Brian Jones, Janes Joplin, Kurt Cobain e Amy Winehouse.

Em meio a imagens de arquivo, trechos de telejornais e entrevistas com os músicos estudados, Napier-Bell busca ouvir especialistas como Dave Ambrose (caça-talentos), Paul Gambaccini (radialista e apresentador de TV), Peter Jenner (ex-empresário do Pink Floyd), Martin Lloyd-Elliot (psicólogo), Dr. Cosmo Hallström (psiquiatra), cantores e compositores que sobreviveram, como Tom Robinson  e Gary Numan, além de produtores musicais, jornalistas, escritores e uma advogada especializada em música.

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Embora cada caso tenha sua particularidade, existem alguns traços em comum: infância disfuncional (de pais ausentes a autoritários, passando por divorciados), criatividade como válvula de escape (ao horrores do mundo ou da própria vida), sensação de deslocamento (especialmente após a fama, que pode gerar sentimentos contraditórios), relacionamentos abusivos e até uma dose de acidente em alguns casos (Jones morreu afogado e sua namorada sueca teve dificuldade em pedir socorro e Hendrix teve overdose por não conseguir ler o rótulo de um remédio em alemão da namorada). O principal ponto em comum, porém, está na popularidade por ser antissocial ou infeliz e consequentes tentativas de fuga frustradas.

Nesse caso, boa parte da culpa pode ser atribuída tanto às gravadoras (que muitas vezes exploram essa imagem de artista trágico, bancando-lhe todos os vícios) quanto ao público (que romantiza comportamentos que, em outros casos, seriam vistos como autodestrutivos). Diante de tantas variáveis (e entrevistados), Gone too soon termina sem apresentar uma solução clara mas indica um paliativo inesperado: após meio século de comportamentos autodestrutivos que parecem cansar um público mais conscientizado da humanidade de seus ídolos e a queda do poder das gravadoras, a busca pela fama está menos motivada por dinheiro — e sem dinheiro, afinal, não dá pra bancar uma vida de excessos até a overdose. Trailer (em inglês):

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Séries documentais

Terra Brasil [2017 | 1 temporada] — Mostrar os parques nacionais ou estaduais do país numa visita guiada. Essa é a proposta dessa série nacional produzida pela Medialand. Diversidade de ambientes não faltam: de cavernas mineiras à Ilha do Mel e cachoeiras na Mata Atlântica, Terra Brasil faz um passeio por alguns recantos pouco conhecidos dos brasileiros. No entanto, também há uma diversidade negativa: a qualidade dos episódios (entre 20 e 25 min cada) varia muito, dependendo dos guias de cada parque. Mesmo com boas indicações dos nomes científicos e populares das espécies retratadas, o foco está mais voltado para a flora do que a fauna, o que já mostra alguma limitação da produção. Nos primeiros episódios, temos um trio de apresentadores que fazem as vezes de turistas visitantes dos parques: Aruay Goldschmidt (botânico), Anderson Santos (engenheiro agrônomo) e Mayra Abbodanza (cozinheira). Os três, porém, não têm uma boa química: Mayra, que deveria explorar o lado culinário da região de cada parque, acaba ficando sem o que fazer e some após alguns episódios. Fica claro, portanto, que o projeto não saiu como planejado (não se sabe se por restrições orçamentárias ou mal planejamento da execução) e os episódios são mais curtos do que deveriam ser. Também faltam informações claras sobre os parques visitados, como localização, tamanho, preços e melhor época para visitas. Apesar dos comentários um tanto óbvios em alguns momentos, Terra Brasil ainda vale a pena pelas belas paisagens apresentadas e pelo bom uso de recursos como as imagens aéreas registradas por drones.

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Roger Norman in Deep Undercover (2016)

Deep Undercover [2017 | 3 temporadas] — Trabalhar infiltrado é um clichê de dramas policiais, mas a vida real também tem histórias dignas de cinema: o agente disfarçado numa gangue de motoqueiros violentos, o advogado que põe em risco a carreira para denunciar um sistema de corrupção judicial em Chicago, o policial recém-formado que se passa por aluno de um colégio infestado por traficantes, a oficial que abre um café falso para se meter numa operação de jogo ilegal. Apresentados por Joe Pistone, ex-agente infiltrado na máfia com o codinome Donni Brasco, Deep Undercover revela os bastidores de operações secretas envolvendo policiais, agentes do FBI, da alfândega americana ou do departamento de drogas dos EUA. Os casos relatados ocorreram no período entre os anos 1970 e a virada do milênio e são representados (em episódios de 20 min.) com boas reconstituições dramáticas e algumas imagens de arquivo. Da máfia e tráfico de drogas a fraudes bancárias, as operações de infiltração têm algo em comum: os infiltrados precisam mostrar dedicação exclusiva, conhecimento de causa e sobretudo firmeza psicológica. Quem não tiver nervos de aço para manter disfarces até mesmo durante vários anos corre o risco não apenas de ficar traumatizado mas também ser morto. Por isso, não é surpresa que alguns infiltrados tenham largado essa vida dupla oficial mesmo depois de terem sido bem-sucedidos em suas operações.

Deep Undercover (2016)


Reality Show

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Hyori’s Bed & Breakfeast [2017-18 | 2 temporadas] — Vez por outra alguma celebridade abre as portas de sua casa para receber um programa de TV. Essa visita, no entanto, costuma ser cuidadosamente encenada e não dura mais do que algumas horas, sendo que só alguns minutos da vida doméstica do famoso(a) chegam de fato a ser exibidos em rede nacional. Mas e se uma celebridade nacional abrisse as portas de sua casa não apenas para um repórter ou apresentador mas para hóspedes, transformando seu lar numa pensão? Na Coreia do Sul, esse programa existe e a celebridade em questão é o casal formado pela cantora Hyo-ri Lee e o compositor Sang-soon Lee. Durante duas semanas, Hyo-ri e Sang-soon abrem as portas de sua casa — uma chácara em Sogil-ri, na ilha de Jeju, a Fernando de Noronha sul-coreana — para hóspedes que vão de um casal de idosos a um casal de namorados à distância, passando por um trio de irmãos órfãos, duas irmãs muito musicais, um grupo de rapazes meio playboys, uma equipe de vendedores em férias e uma garota surda. Como receber tantos hóspedes não é uma tarefa tão simples, o célebre casal vai receber uma funcionária muito especial: a cantora Ji-eun (I.U.), que apesar de desajeitada vai se revelar indispensável, principalmente na cozinha. O elenco é complementado pelos cinco cachorros e três gatos da chácara. As câmeras por todo lado, à la Big Brother, causam estranheza nos moradores e hóspedes a princípio mas vão sendo esquecidas com o passar do tempo. Com trilha sonora bastante relaxante — e que às vezes parece ter influência da nossa Bossa Nova —, Hyori’s Bed & Breakfeast nos mostra (em episódios de cerca de 90 minutos) um pouco do dia-a-dia de sul-coreanos famosos e anônimos, passeios diversos pela bela ilha de Jeju, muita comida (e algumas receitas) e dramas bem reais como um encanamento problemático. Não é à toa que esse programa foi eleito pelo público o melhor reality sul-coreano de 2017.


Talk Show

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Comedians in cars getting coffee [2018 | 5 coleções] — Tomar café. Bater papo com outros comediantes. Dirigir carros clássicos. Jerry Seinfeld resolveu juntar suas três maiores paixões neste talk show ambulante e exclusivo da Netflix. Os cenários são (auto)móveis e escolhidos a dedo segundo a personalidade de cada convidado — e às vezes os veículos até quebram no caminho, o que não deixa de ser cômico. Entre bancos de passageiros e mesas de cafeterias, convidados como Steve Martin, Jon Stewart, Jim Carrey, Stephen Colbert, Chris Rock, Aziz Ansari, David Letterman, Mel Brooks e outras estelas da comédia americana conversam sobre os bastidores dos programas e espetáculos de humor, o processo criativo e os momentos marcantes da carreira. Embora não seja comediante, Barack Obama não deixou de ser um convidado especialíssimo no finzinho de seu mandato. O lado automotivo fica a cargo de veículos igualmente diversos, de Porsche e Ferrari a DeLorean e Cadillac — e coisas mais banais como uma Kombi enferrujada, um fusca e até um ônibus. Normalmente é Seinfeld quem dirige esses clássicos, mas alguns convidados também se arriscam a assumir o volante. A duração dos episódios varia muito, mas geralmente não passa dos 20 minutos — que rendem bastante, mesmo com a apresentação de cada carro, o passeio até um café e o bate-papo à mesa. Boa pedida para um fim de noite, o único defeito desse programa é seu título nacional: Café com Seinfeld parece algo bem mais sem-graça do que Comediantes Tomando Café em Carros. Trailer (em inglês):

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