Já se questionou sobre a relação dos falantes com a língua e com a gramática? Percebeu que não se trata da mesma relação? Quer compreender melhor como as gramáticas, enquanto instrumentos linguísticos, afetam as práticas linguageiras dos falantes, possibilitando ou restringido os usos da língua? Leia na íntegra a entrevista com o Prof. Ataliba de Castilho, publicada no Jornal da Unicamp.
Fonte: O linguista libertário.
Onde há língua, há ser humano, e onde há ser humano, há hierarquia. (No reino animal, embora de maneira mais estável, o fator hierárquico é proporcional ao grau de sociabilidade dos indivíduos da espécie).
A sociabilidade é indissociável da hierarquização em todas as comunidades possíveis e imagináveis, humanas ou inumanas.
Com apenas dois indivíduos de uma mesma espécie, convivendo num mesmo ambiente,se instala a hierarquia. Num único indivíduo humano se instala a hierarquia, também, mas isto é matéria para a psicologia/psiquiatria, fugindo um pouco ao escopo do lugar onde quero chegar.
Uma vez posta a hierarquia sociocultural, põe-se também a hierarquização linguística. Pois bem. A gramática normativa não é fruto de um capricho de uma classe, mas fruto da condição social humana. Se não for a gramática normativa (tal como a concebemos), virão outros ditames linguísticos hierarquizantes, porque nao existe vácuo de poder.
O que os detratores da gramática normativa querem (ainda que nem sempre de forma consciente, muitas vezes, porque está em jogo a manipulação ideológica) é substituir o poder da gramática normativa por outro poder de linguagem (o que lhes convêm), e não, como gostam de vomitar aos quatro ventos, o apreço pela igualdade humana (a qual não é da natureza humana, como não é da natureza "natural"). Exclui-se o poder da gramática normativa e, no lugar, se instala um poder a ser definido, mas cujo destino as pessoas mais ou menos esclarecidas sabem qual é.