Cesar Ades (1943 – 2012)

Pioneiro”, “entusiasta”, “eclético” e “apaixonado pela ciência e pela vida”. Essas foram algumas das palavras usadas por ex-alunos e orientandos de Cesar Ades ao lembrar-se do professor e amigo. Sempre sorridente e encantador, Ades – falecido esta semana em decorrência de um atropelamento – deixou marcas profundas tanto na História da Ciência no Brasil quanto na vida daqueles que o conheceram. Durante sua extensa carreira, formou 34 mestres, 22 doutores e uma imensidão de profissionais em etologia, psicologia e biologia.

 

 

Cesar Ades foi professor titular do Departamento de Psicologia Experimental da USP desde 1994 e foi um dos grande responsáveis pelo início e desenvolvimento dos estudos na área e comportamento animal no Brasil. Foi diretor do IP-USP de 2000 a 2004 e vice-diretor de 1998 a 2000. Em 2004 ingressou no Conselho Deliberativo do IEA. Também participou do Conselho Deliberativo do Hospital Universitário da USP e do Conselho Curador da Fuvest, além ser de membro do International Council of Ethologists, da International Society of Comparative Psychology e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Etologia, da qual foi fundador. Foi editor desde 1999 da Revista de Etologia e membro do conselho editorial dos periódicos Behavior and Philosophy e Acta Ethologica.

Foi responsável pela instauração da comissão de ética em pesquisa com seres humanos no IP/USP e pela criação da CEPA (Comissão de Ética em Pesquisas com Animais). “Defendi uma ética animal centrada no animal, isto é, que parta do conhecimento de como o animal é e de suas adaptações individuais e de espécie. Um exercício de respeito pela alteridade que também vale para o caso humano.” (Kinouchi & Ramos, 2011).

Em 2011, o Professor Cesar Ades participou do II Simpósio do INCT-ECCE na UFSCar, ministrando a conferência de abertura do evento, sobre Teoria da Mente em cães. Durante mais de uma hora, o auditório lotado com mais de 250 pessoas ouviu, aprendeu, riu e se emocionou tanto com a apresentação impecável de pesquisas e métodos científicos, quanto com a personalidade cativante do palestrante.

Mais do que uma longa lista de conquistas acadêmicas, Cesar Ades foi um mestre na arte de ensinar e cativar pessoas. O site Science Blogs Brasil fez uma série especial em homenagem a Cesar Ades, com relatos de alunos e ex-alunos que lembram com carinho do mestre:

“Um dia, enquanto contava animado sobre o que tinha aprendido no transcorrer do meu mestrado ao Cesar, ele me perguntou se eu não gostaria de apresentar aquilo tudo na forma de um mini-curso no encontro de etologia seguinte, em Brasília. Tremi de cima a baixo e argumentei que não tinha titulação ainda. E ele me convenceu de que idéias eram mais importantes do que títulos.” (Eduardo Bessa, zoólogo na Universidade do estado de Mato Grosso, especialista em comportamento animal.)1

 

“Em uma das últimas conversas que tive com ele, há apenas algumas semanas, ele folheava sua agenda a fim de encontrarmos uma data para a realização de mais um de seus projetos. Ele parou em determinada página, sobre a qual estava o ramo seco de uma planta. Ao ver minha curiosidade sobre que planta era aquela, ele perguntou: Você sabe o que é isso? Eu respondi que não. Então ele disse: Esfrega na mão… cheire. Abriu um sorriso ao ver que tinha me surpreendido com o aroma e disse: É lavanda! Então destacou uma folha do ramo e me deu (“Pega pra você!”). Desde então levo guardada a folha de lavanda na carteira e sempre levarei comigo para me lembrar do professor César e, quando que me sentir desorientado, lembrar porque sou também apaixonado pelo o que faço.” (Lucas Peternelli é doutorando do Dep. de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia – USP.)2

 

“César viveu por 69 anos como quis: intensamente e produzindo conhecimento!” (Francisco Dyonísio C. Mendes, mais conhecido como Dida, é atualmente professor de psicologia evolucionista na Universidade de Brasília – UnB.)3

 

Referências:

KINOUCHI, Renato Rodrigues and RAMOS, Maurício de Carvalho. Psicologia e biologia: entrevista com César Ades. Sci. Stud. [online]. 2011, vol.9, n.1, pp. 189-203. ISSN 1678-3166.

“Sobre o falecimento de Cesar Ades”, no RNAm (http://scienceblogs.com.br/rnam/2012/03/falecimento-cesar-ades/)

Citações em:

1. “Um memorial ao Cesar Ades”, no Ciência à Bessa (http://scienceblogs.com.br/bessa/2012/03/um-memorial-ao-cesar-ades/)
2. “Ao mestre, com carinho”, no RNAm (http://scienceblogs.com.br/rnam/2012/03/ao-mestre-com-carinho/)
3. “Uma homenagem ao mestre Cesar Ades”, no SocialMente (http://scienceblogs.com.br/socialmente/2012/03/uma-homenagem-ao-mestre-cesar-ades/)

Hipátia é que era mulher de verdade.

Hipátia de Alexandria (ou Hipácia, em algumas traduções) foi a primeira matemática de que se tem registro na História. Lá pelo ano 400 d.C., Hipátia era a mais importante filósofa da escola platônica em Alexandria, e os homens vinham de longe para aprender as coisas que ela manjava não só de filosofia e matemática, como também de ciências. Seguindo a tradição Lógica, Hipátia defendia que o universo é regido por leis e que estas leis podem ser descritas e demonstradas pela linguagem matemática. Reza a lenda que ela nunca se casou, alegava que “já era casada com a Verdade”.

 

Bettmann / Corbis

 

O destino de Hipátia, como você já devem imaginar, não foi dos mais felizes: ela foi despedaçada por uma horda de cristãos fanáticos religiosos, dentro de uma igreja. Quase 2000 anos depois de sua morte, muitas mulheres ainda sofrem perseguição pelos mesmos motivos daqueles que a assassinaram. No livro ‘Cosmos’, Carl Sagan conta um pouco da história de Hipátia:

 

“Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. Seu nome era Hipátia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciências, e devido a Alexandria estar sob o domínio romano, após o assassinato de Hipátia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época.”

 

Mary Evans Picture Library / Alamy

 

Para informações mais detalhadas sobre a vida e obra de Hipátia, consulte o verbete da Wikipedia, que é bem completo. E também a página do Smithsonian sobre a vida de Hipátia em Alexandria.