Houve recuo. Veremos muito isso.

Vocês, caros leitores, acompanharam essa semana as discussões do presidente eleito e sua equipe de transição sobre a junção de Ministérios. Teremos pelo menos dois superministérios, já chancelados (até agora). Tivemos também um recuo, o da junção dos Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura já chancelado (até agora). Deu em vários jornais. Vou colocar aqui apenas um, mas vocês podem buscar outras fontes.

Para mim, um dos problemas de superministérios é que perde-se a possibilidade do diálogo entre partes com objetivos diferentes dentro de pautas comuns. Mas, claramente estamos lidando com super heróis super capacitados que não erram e que não precisam de segundas opiniões. (Talvez, é claro, do barbeiro, mas todos precisam da opinião do barbeiro, da cabeleireira, da esteticista – afinal, essas pessoas talvez sejam as que melhor representam a voz do povo).

Enganam-se os que pensam que foram as pressões dos ambientalistas que mudaram o rumo dessa história. Foram as pressões dos ruralistas e as opiniões dos Ministros da Agricultura, atuais e passados, sobre essa união. Aguardo ansiosa uma redistribuição de atribuições do Ministério do Meio Ambiente. A ver (ainda é novembro, ainda temos chão).

Salvam-se, por enquanto, as atribuições do Ministério da Agricultura. Apoiemos esse Ministério, ele não é uma instituição que devemos massacrar. Nenhuma é, mas não é o que estamos vendo há anos. As instituições, uma a uma, caem como dominós e precisamos estar atentos e parar com isso. As instituições são sólidas, feitas e conduzidas por pessoas capacitadas e, eventualmente, uma ou outra pessoa incapacitada. Vamos substituir as incapacitadas, vamos manter as intituições. Combinado? Precisaremos delas mais do que nunca!

Recuos são vistos a todos os momentos. Felizmente, recuos são  mudanças de opinião, em geral, bastante saudáveis. Eis que você lança uma carta na mesa, e amigos, familiares, vizinhos, colegas de trabalho, barbeiros ou não, olham e dizem pra você, naquela camaradagem que é esperada de quem te conhece desde criançinha e sabe do seu verdadeiro eu: “É uma cilada, Bino!’. E é o suficiente para que se mude de ideia. Sejamos o barbeiro, sim?

Vam´bora! Sempre atentos.

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Sobre fusão dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente

E eis que esta blogueira de araque, em 19 de março, publicou um post sobre o que ocorreria caso o  Ministério da Agricultura e o Ministério do Meio Ambiente se tornassem um Superministério (19 de março, não vai dar pra sair por aí dizendo que “não sabia que isso ia acontecer”, hein?).
Hoje, vários comentários apareceram por aqui (por que será?). E eu me senti até meio mal por ter não tratado do assunto de melhor forma. Enfim, fica aqui meu pedido de desculpas e um texto um pouco mais elaborado sobre o assunto.

Pense numa situação: está você trabalhando em uma empresa, pública ou privada, tanto faz, desempenhando seu trabalho, o qual lhe foi atribuído no momento da sua contratação. Algo acontece e diversas pessoas que trabalhavam com você saem da empresa (sei lá, foram demitidas ou ganharam naquele jogo da mega que você não participou). A empresa, pública ou privada, precisa continuar a funcionar e, ela, pública ou privada, vai demorar um tempo para restabelecer o quadro de funcionários. Você, pobre mortal, vai ter que trabalhar por você e por eles. Eles são muitos, Você é só um. Faça as contas e me conte o que iria acontecer com todas as suas demandas (antigas e novas). Abrirei dois parênteses.

(antes, um parênteses extra – há um tempo eu vi uma charge em que uma pessoa fazia um esforço sobrehumano para carregar uma pedra sozinho – e, obviamente, estava a ponto de falhar na tarefa. ao mesmo tempo, um gestor olhava a cena e pensava em como ele estava economizando e como ter demitido algumas pessoas tinha sido uma boa ideia – se você souber do que eu estou falando, me indique onde achar essa dita que quero colocá-la aqui)

(1º parênteses)
O que faz o Ministério da Agricultura?
Talvez o mais óbvio seja pensar que o Ministério da Agricultura trabalhe no sentido de promover a agropecuária de maneira geral. Promover, obviamente, estimulando o crescimento do setor, aumentando a produtividade, enfim. Todas ações relacionadas com o aumento da produção agrícola e pecuária do Brasil e, como consequência, aumento de lucros para o país. O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e é líder na exportação de soja, açúcar, suco de laranja e café. Todos esses produtos são commodities e valem muitas doletas. Commodities são produtos de origem primária, ou seja, são matéria-prima produzida em grande escala. Sua vantagem é poderem ser armazenados por um período sem perda de qualidade. Como uma consequência de oferta e demanda, o preço desses produtos é determinado pelo mercado mundial e, portanto, pode-se “controlar” sua venda para garantir mais lucros. Isso é verdade. Entretanto, cabe a esse ministério muito mais do que isso.
Sabe todo o processo que envolve a saída do produto do campo até chegar a você? É responsabilidade do Ministério da Agricultura. A garantia de que todos os cidadãos estarão abastecidos com produtos de origem agrícola e pecuária e que esses produtos chegarão com qualidade, visto que a vigilância sanitária foi feita de maneira adequada? Também responsabilidade do Ministério da Agricultura.
A distribuição dos produtos do agronegócio, o processamento industrial, armazenagem, promoção de práticas sustentáveis, gerenciamento de agrotóxicos e pesticidas, garantia de qualidade para aumento de competitividade internacional, destinação de excedentes de produção reduzindo perdas, segurança alimentar… ufa. Tudo Ministério da Agricultura. Ah! Já ouviu falar da Embrapa? E dos Ceasas? Casemg? Ceagesp? Tudo vinculado a esse Ministério também. Os caras fazem coisas pra caramba. FIM.

(2º parênteses)
O que faz o Ministério do Meio Ambiente?
Talvez o mais óbvio seja pensar que o Ministério do Meio Ambiente cuida da preservação e da conservação de áreas naturais e dos seres vivos que habitam essas áreas. E também parece óbvio que esse Ministério tenha interesses em promover o aumento do conhecimento sobre seres vivos e ecossistemas, recuperar áreas degradadas, promover o uso sustentável dessas áreas e garantir áreas de proteção ambiental. Entretanto, esse ministério faz bem mais do que isso. Todo o gerenciamento dos recursos hídricos brasileiros é de competência do Ministério do Meio Ambiente. Isso significa, também, que há vários interesses desse ministério que se sobrepõe ao de Minas e Energia (hidrelétricas, né?). A indústria química também é regulada pelo Ministério do Meio Ambiente. Gestão do patrimônio genético? Também. Ah! E os setores relacionados à mineração também, afinal, trata-se da exploração de um recurso natural e tudo o que é recurso natural é de responsabilidade desse Ministério. Ibama? ICMBio? ANA? Combate à desertificação? Trabalham! Mudanças do clima? Também! Licenciamentos ambientais, autorização e fiscalização de transferência de petróleo entre embarcações? Controle e gestão de resíduos (inclusive de pilhas e baterias)? Sim, sim, caro leitor. Tudo relacionado a esse Ministério também. Os caras fazem coisas pra caramba. FIM.

Bom, até aqui acho que já deu pra entender porque contei a história do funcionário que se viu tendo que executar mais do que suas próprias atribuições. E também já dá pra ter uma ideia do porquê esse assunto é bastante polêmico e deixa ruralistas e ambientalistas em alerta. Esses dois ministérios têm, obviamente, interesses em comum que podem ser em alguns momentos conflitantes (pense, por exemplo, na disputa de uma área de preservação ambiental versus a liberação dessa área para exploração e/ou produção agropecuária). Eu ainda bato na tecla de que, nesse caso, o empate técnico é saudável para os dois interesses. A questão é que há muito mais do que interesses em comum. Há muitas funções que podem ficar em segundo plano no caso de uma fusão. Muitas tarefas vão obviamente ficar desatendidas e, nenhuma delas, a meu ver, é menos importante. Se a ideia é reduzir custos, reduzir funcionários, extinguir instituições o trabalho vai, obviamente, sobrecarregar alguém. Não acho, enfim, que é simples, nem que é apenas perder status. Os dois ministérios atuais perderão demais com essa fusão. Perdem eles, perdemos muito mais nós.

Blogtweet de 22 de março

2018 e ainda tem gente que joga lixo pela janela dos automóveis.

O que aconteceria se os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente se fundissem?

Sabe que tem gente que não merece ser mencionada, né? Porque colocar o nome das pessoas/empresas/instituições por aí é, de certa forma, fazer propaganda. E têm pessoas/empresas/instituições que merecem cair no esquecimento. Simples assim.

Mas… a gente não pode fazer de conta que não vê certos impropérios. Enfim.

Quem fez universidade, quem tem uma família, quem tem um relacionamento, quem tem um emprego, quem tem amigos (um, que seja!) sabe que equilíbrio é fundamental. É fundamental que uma balança tenha dois lados, se não, fica parcial. Se não, não se mede nada.

O que aconteceria se dois lados opostos de uma balança se fundissem? O que aconteceria com os projetos de preservação do meio ambiente, conservação de espécies ameaçadas de extinção, reestruturação de áreas degradadas, reflorestamentos, manejo de vida aquática, gerenciamentos de sistemas de água, gerenciamentos de resíduos sólidos de todas as naturezas, entre outros se fundissem com interesses comerciais de exploração de recursos da terra e da água para produção agrícola e pecuária? Com interesses econômicos apenas?

Veja, não há vencedores e isso não é uma partida de futebol. Não é interessante discutir se isso ou aquilo é mais importante/relevante SE não existir uma situação de equilíbrio. Porque, me parece óbvio que para um lado, é sempre melhor e mais interessante e mais relevante ter mais áreas de preservação, mais corredores ecológicos, mais reflorestamento, mais espécies saindo da lista das ameaçadas de extinção. Para outro, é óbvio que é sempre melhor ter mais áreas de pasto, mais áreas de cultivos agrícolas, mas áreas de exploração de recursos naturais para viabilizar projetos que vão trazer lucros para o país. O que significa que, o melhor dos dois mundos seria manter aquele empate técnico saudável.

Enfim… parece uma discussão de país de terceiro mundo que ainda não conseguiu passar da fase primária da economia (ow, wait!). Quando ainda estivermos na discussão do agro é pop fica difícil ultrapassar a barreira da economia primária. Da exploração de recursos. Da extração pura e simples de matéria-prima (mesmo que isso signifique commodities). Quando eu era criança e queria ser cientista, eu achava (achava mesmo, de verdade) que em alguns anos, talvez quando eu estivesse com a idade que eu estou agora, o Brasil estaria na fase de exportar tecnologia, sabe? Porque temos potencial. Porque temos cérebros para isso. E temos dinheiro! Mas… estava completamente equivocada. Tipo… os Jetsons ainda não chegaram!

Acontece que a briga tem aliados fortes e sem escrúpulos. A bancada ruralista defende, por exemplo, o fim dos licenciamentos ambientais. Outros loucos sugerem a fusão dos dois pratos da balança (Agricultura e Meio Ambiente). Os licenciamentos ambientais, talvez não sejam conhecidos de todos, então explico – meio superficialmente porque, na realidade é um trabalho extremamente complexo: os licenciamentos ambientais significaram, desde a sua implementação com a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente em 1981 um super avanço na legislação brasileira em relação ao meio ambiente. Antes dela, não havia nenhum impedimento, nenhuma fiscalização, nenhuma regulamentação sobre a construção de obras de qualquer natureza – não se sabia que tipo de prejuízos o meio ambiente poderia sofrer, no local da obra ou em suas imediações. Não se sabia porque não se estudava nem o ambiente antes da construção, nem o ambiente depois da construção. Não tínhamos ideia se, por exemplo, uma ferrovia ia matar um corredor ecológico importante para migração de certa espécie ou se o barulho das máquinas ia impedir certas espécies de se acasalar, por exemplo. Não sabíamos se um lago ou rio ia tornar-se completamente inadequado ou se ia deixar de existir caso construíssemos uma barragem para um reservatório de usina hidrelétrica. Não sabíamos N-A-D-A.

Também não sabíamos que tipos de prejuízos uma fazenda poderia trazer para um rio que passasse na propriedade se grandes quantidades de água fossem retiradas para irrigar as plantações. Como não havia regulamentação nenhuma, cada um explorava os recursos naturais pertencentes ao país como bem entendesse (sim, um rio que passa em uma propriedade rural é do país, assim como um lençol de água subterrâneo). Ninguém é dono de um rio, apesar de achar que é. Enfim… interessa muito (para pouca gente) que o Ministério do Meio Ambiente seja controlado pelo Ministério da Agricultura.

Lembre-se: isso não é um jogo de futebol. Não há vencedores. Sem equilíbrio não resta muita coisa. Nem Agricultura. Nem Jetsons, infelizmente.

P.S. Obrigada Clau! Obrigada Takata! Obrigada Eloi!jetsons

 

 

 

 

5 anos

5 anos de reclusão. 5 anos de férias. 5 anos vendo muitas coisas acontecerem, inclusive a decadência dos blogs como forma de dispersão de conteúdo. 5 anos pensando que, talvez, não tivesse mais muita coisa como que contribuir. 5 anos achando que não havia tempo. 5 anos sabáticos.

Os tempos sabáticos devem ser dedicados a projetos de vida particulares. Usei bem esses anos. Foram muitos projetos de vida particulares. Alguns não foram assim tãããããão particulares. Envolveram muito trabalho, envolveram muito amor e desenvolvimento pessoal, com certeza. Mas, há momentos em que voltar umas casas se torna necessário. A era é de transformações intensas. A era é de não calar. A era é de pensar e atuar, com as ferramentas que a gente tem, usando uma linguagem universal, que sempre foi protegida por todas as pessoas conscientes: a linguagem da Ciência. Em diversos tempos de guerra, a Ciência foi protegida, os cientistas, respeitados. Como cientistas, independente de sua nacionalidade. A Ciência estava, enfim, acima dos interesses políticos.

Mas, porquê? O que te fez voltar? Você vai continuar falando de rastros de carbono? De IPCC? Mudanças climáticas?

Talvez não. Talvez sim Talvez esse espaço mereça um outro olhar, um novo olhar editorial. Talvez a Ciência seja, atualmente, a linguagem que precisa ser resgatada. Resgatada, preservada, dispersada. Provavelmente por um tempo esse espaço será como um diário filosófico. Ideias jogadas às nuvens (e esperemos que lá não haja traças!). Caminhemos.

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Falimos como sociedade?

Cena 1

17:30. Onibus lotado. A chuva faz as pessoas que estão sentadas fecharem as janelas. Calor, calor, calor, misturados com a umidade de fora. O motorista para em um ponto, duas pessoas descem, vinte e cinco sobem. Assim que as duas pessoas descem, o motorista fecha as portas de descida. Eu, na minha inocência mais do que infantil, xingo a mãe do motorista três vezes. Porra, velho! Não podia deixar a porta aberta pra dar uma ventilada? Saímos do ponto. No ponto seguinte, parece que Deus ouviu as minhas preces e o motorista deixa as portar traseiras aberta. Cinco pessoas sobem no ônibus sem pagar. Os erros? Ônibus lotado, caro e sem qualidade. Pessoas que se aproveitam de seus pequenos poderes e ligam de fato o foda-se para o mundo e fazem o que querem. Não há leis. Não há regras. Nada é respeitado.

Cena 2

Pessoas precisam de atenção, carinho, ajuda. Há milhares de maneiras de satisfazer as necessidades de atenção, mas cada pessoa é única e suas vontades para satisfazer seus desejos mais básicos é variável. Algumas buscam palavras. Fé. Escolhem um mestre para que sejam guiadas, para que acreditem que é possível ter esperança, ter uma vida melhor, ter salvação. Um mestre e guia com má índole traz mentiras fáceis, verdades dúbias. Traz ódio. Ódio contra o que é diferente dele. Ódio contra o que ele, o próprio guia teme. Até onde quem busca palavras é manipulado pelas palavras que ouve? Quem deve dar ao cidadão a capacidade de ser crítico e avaliar, duvidar até, do mestre que escolheu? Mudar de mestre? Mudar de fé? Deixar de ter esperança?

Cena 3

Estou cercada de pessoas que tiveram oportunidades de estudar. Algumas tomam Herbalife. Algumas tomam remédios para hipotireoidismo. Márcio Atalla, na CBN, traz o dado de que remédios para hipotireoidismo estão sendo vendidos a rodo. Por que? Porque se alguém toma remédios para hipotireoidismo sem ter a doença aumenta seu metabolismo. Resultado imediato? Perda de peso. E a saúde? Quem?

falencias

Hoje não estou conseguindo dormir.

Minha mãe sempre teve o sonho de viajar de avião. Mas eu e minha vida de estudante universitária nunca permitiram que eu pudesse presenteá-la com algo do tipo.
Hoje moro nos EUA e sua primeira viagem será para me visitar. Continuo não podendo pagar por isso. E não paguei.
Mas, sinto que contribuí de alguma forma. Isto me tirou sono.
Uma insônia feliz.

E a pegada de carbono mais feliz que já deixei.

Rastro de Mercúrio

Este post é uma parte do InterCiência! O amigo secreto científico dos blogs mais lindos e cheirosos da blogosfera! O trabalho de nossos leitores é descobrir quem foi o autor dessa peça e… descobrir onde foi parar o texto que foi escrito por esta pessoa que vos fala!

E se você ainda quer participar da nossa brincadeira, ainda dá tempo! Instruções aqui

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Rastro de Mercúrio

Rastro de Mercúrio!

Rastro de Mercúrio!

Não, não vamos falar do rastro que o planeta mais próximo do sol deixa no céu a noite. Vamos falar de sujeira “pesada”. Sim, pesada e suja. O rastro em questão é de um dos elementos mais paquidérmicos do universo: o denso e tóxico mercúrio (o Hg da tabela periódica).

Mercúrio: o esculhambador geral das proteínas

Apesar de ser um elemento bem bonito, parecendo até “prata líquida” (daí que vem o símbolo “Hg”, da palavra para “prata líquida” em latim: “hydrargyrum”), você não vai querer por a mão nesse líquído prateado.

O "hydrargyrum", a "prata líquida". Vulgo mercúrio!

O “hydrargyrum”, a “prata líquida”. Vulgo mercúrio!

Legenda: O “hydrargyrum”, a “prata líquida”. Vulgo mercúrio!

Essa belezinha é uma substância bem tóxica. Pra falar a verdade é tóxica pra caramba. Não é aquele tipo de coisa que faz você morrer na hora, mas o contato excessivo com essa substância atrapalha o funcionamento e causa danos severos a diversos órgãos. Só pra mostrar quantos lugares ele se acumula, eis uma “pequena” listinha: cérebro, tireóide, seios, miocárdio, músculos, glândulas adrenais, fígado, rins, pele, glândulas sudoríparas, pâncreas, enterócitos, pulmões, glândulas salivárias, testículos e próstata, e etc [1].
O seu variado alvo de toxicidade no organismo se deve ao fato de se ligar à cisteínas e selenocisteínas das proteínas do nosso corpo e alterar suas estruturas terciárias e quaternárias [1]. Ou seja: o mercúrio estraga a maquinaria celular! Além disso, estudos apontam que esse metal pesado interfere também com a transcrição do DNA e a síntese de proteínas [1]. No cérebro em desenvolvimento (De bebezinhos! Veja só!), ele chega a destruir o retículo endoplasmático de células e o ribossomo. Se há alguma coisa horrível de se destruir dentro de uma célula é o ribossomo. Sem ele não existem proteínas – que são basicamente as protagonistas da mágica da vida!

Terroristas Anônimos

OK, sabemos que o mercúrio faz bem mal. Imagine então se o mercúrio fosse usado como arma química! Um veneno! Sim! Imagine se algum grupo terrorista espalhasse mercúrio por aí, colocando-o na sua comida, no ar que você respira e na água que você bebe! Seria horrível não!? Imagine os bebezinhos sem ribossomo! Que tragédia! Mas vamos falar sério agora: tenho duas notícias importantes sobre esse assunto. Uma muito boa e outra muito ruim.
Boa notícia: não há grupos terroristas que espalham mercúrio por aí para matar bebezinhos! Viva a humanidade!
Má notícia: segundo um estudo conjunto de duas organizações em defesa do meio ambiente (o Biodiversity Research Institute e o IPEN – não, não é o IPEN brasileiro!), em amostras de peixe de diversos locais do globo, cerca de 86% estavam contaminados por mercúrio acima dos níveis seguros de consumo [2].
Se não há um grupo terrorista, como diabos estamos sendo envenenados!? Quem está fazendo isso!? Resposta: “nós” mesmos.
Não somente as águas, mas também o ar, estão sendo contaminados principalmente devido a atividades de mineração e a queima de combustíveis fósseis.

Retirado da fonte [2].

Retirado da fonte [2]

As principais causas de contaminação da água são similares. Os principais contaminadores antropogênicos são usinas de produção de compostos cloro-alcáli (ex: produção de NaOH e Cl2 a partir de NaCl), plantas energéticas à base de carvão e mineiração de ouro em pequena escala [2].

Extração artesanal de ouro - um risco à saúde e ao meio ambiente.

Extração artesanal de ouro – um risco à saúde e ao meio ambiente.

De acordo com o estudo, se você morar nas regiões dos 9 países em que foram realizadas coletas, comer peixe mais de uma vez ao mês poderia já exceder os níveis seguros de consumo de mercúrio na dieta. Segundo outro estudo, dessa vez realizado pela UNEP (United Nations Environment Programme), cerca de 260 toneladas de mercúrio são despejadas em rios e lagos todos os anos [3]. É mercúrio pra caramba!

Pegadas Tóxicas

Assim como os famigerados ciclos do nitrogênio, oxigênio e da água, há uma cadeia alimentar que leva o mercúrio até nós – e cada vez mais concentrado.

A concentração de mercúrio aumenta o quanto mais próximo do topo da cadeia alimentar.

A concentração de mercúrio aumenta o quanto mais próximo do topo da cadeia alimentar.

O mercúrio gasoso, também como quase todos os compostos no ar, vai parar no grande reservatório químico que chamamos de oceano. Lá existem plânctons bem resistentes a esse metal pesado que logo o transformam em metilmercúrio. Pra se ter uma ideia de como a concentração de mercúrio vai aumentando, dentro desses pequenos animaizinhos a concentração de mercúrio chega a ficar 10 mil vezes maior que a do oceano [3]. Então imagine o quão concentrado esse elemento fica em instâncias superiores da cadeia alimentar!? E o peixe que come muitos plânctons!? E o peixe que come peixes-que-comem-plânctons!? O mercúrio só vai aumentando até chegar aos humanos, que recebem de volta aquilo que jogaram indiscriminadamente na natureza.

O metal pesado não é eficientemente excretado pelos peixes, ficando em uma forma estável dentro dos mesmos [1], o que o conserva ainda mais dentro daquilo que será a comida de muita gente.

Como Resolver o Problema

Longo Prazo

A preocupação com metais pesados em água é antiga. Uma das soluções mais interessante é aquela que usa recursos da própria natureza para resolver os problemas ambientais: a bioremediação. Basicamente é explorar o primeiro ponto da cadeia alimentar da transferência de mercúrio, os microrganismos!
Propriedades de resistência à concentrações de mercúrio foram descritas pela primeira vez em 1960, em estudos com o microrganismo Staphylococcus aureus[4]. O que os pesquisadores estavam tentando descobrir na época era como e quais patógenos sobriveviam à desinfetantes e antisépticos à base de mercúrio. Com o desenvolvimento das pesquisas durante o tempo, foram descobertos os “genes chave” para a detoxificação de mercúrio, os genes mer[4] (merA e mer B). Eles basicamente estão envolvidos na quebra das ligações entre carbono e Hg e na redução do átomo de mercúrio a uma espécie não reativa, o mercúrio molecular Hg0. Isso fecha o ciclo do mercúrio na natureza:

A concentração de mercúrio aumenta o quanto mais próximo do topo da cadeia alimentar.

Retirado da fonte [4].

Várias espécies resistentes a mercúrio, contendo os genes mer ou variações dele, foram reportadas. A exploração e demonstração do uso deses microrganismos como agentes de remediação já foi feita a cerca de 30 anos atrás [4]. Hoje em dia existem avançados bioreatores para bioremediação de efluentes de indústrias, principalmente nas indústrias cloro-alcáli, uma das vilãs da poluição com mercúrio nos estudos das organizações ambientais citadas anteriormente. Esses bioreatores, contendo principalmente bactérias do gênero Pseudomonas, chegam a remover o mercúrio com cerca de 99% de eficiência[4]! Que maravilha não é!? Além disso, visando baratear o processo, estudos vêm sendo feitos para gerar organismos modificados que façam esse trabalho [4].

Curto Prazo

Se já existe solução para o problema de contaminação de mercúrio, porque ela ainda ocorre!? A resposta pode ser resumida em uma palavra: regulamentação. A ausência de políticas efetivas que gerem legislações combativas e fiscalizações presentes e eficazes fazem o problema persistir. Isso fica bem evidente em outro gráfico de emissão de Hg, também em 2010, indicando como maior contribuidor a atividade de extração de ouro artesanal de pequena escala, o que também corrobora com o gráfico anteior – atividades assim não são triviais de serem fiscalizadas, uma vez que acontecem “quase que” clandestinamente.

Retirado da fonte [3].

Retirado da fonte [3].

Os países mais envolvidos com contaminação de mercúrio na natureza são principalmente os em desenvolvimento, como Índia, China, México e países do leste europeu. É preciso dar grande destaque à China, que provavelmente devido à sua economia constantemente aquecida, é o país com mais focos de poluição.

Retirado da fonte [2].

Retirado da fonte [2].

A UNEP vem desde 2003 alertando sobre as questões da contaminação de mercúrio. Em 2009 iniciara-se os esforços para criar instrumentos legais de regulamentação global sobre o mercúrio. Com reuniões de negociação que começaram em junho de 2010, foram concluídas a um pouco mais de uma semana (18 de Janeiro), na Suíça. A organização ligada à ONU planeja firmar um tratado ainda neste ano durante uma conferência diplomática no Japão. Esperamos que de uma vez por todas a pressão política (pelo menos!) para a regularização de atividades poluidoras envolvendo a liberação de mercúrio e seus compostos na natureza seja efetiva!

Vale prestar atenção no tempo que em tudo isso demorou: 10 anos, desde 2003 até hoje. Isso sem contar o tempo antes dos estudos iniciados pela UNEP, em que já se sabia dos problemas ambientais e de saúde envolvendo o mercúrio. O rastro ecológico que esse metal deixa é literalmente pesado. A reunião no Japão este ano vai ajudar a definir quais rastros de mercúrio nosso filhos irão se preocupar no futuro: o biológico ou o celeste. Prefiro o celeste!
***
[Este texto é parte da primeira rodada do InterCiência, o intercâmbio de divulgação científica. Saiba mais e participe em: http://scienceblogs.com.br/raiox/2013/01/interciencia/]

Referências

1. Bernhoft AB. “Mercury Toxicity and Treatment: A Review of the Literature”. Journal of Environmental and Public Health, volume 2012, doi:10.1155/2012/460508
2. “Global Mercury Hotspots – New Evidence Reveals Mercury Contamination Regularly Exceeds Health Advisory Levels in Humans and Fish Worldwide”. BRI e IPEN, jan de 2013. Disponível em: http://www.briloon.org/uploads/documents/hgcenter/gmh/gmhFullReport.pdf
3. “Global Mercury Assessment 2013 – Sources, Emissions, Releases and Environmental Transport”. UNEP, 2013. Disponível em: Link
4. Barkay T, Miller SM, Summers AO. “Bacterial mercury resistance from atoms to ecosystems”. FEMS Microbiology reviews, vol 27, 2003. Disponível em: Link

 

Você dividiria seu almoço com alguém que está passando fome?

O Swipe Out Starvation aqui na Purdue University, é uma ação que visa doar parte das refeições retiradas pelos alunos no On-the-go para o combate à fome.

On-the-go é o nome que se dá à “loja de marmitas” da universidade. Nela você pode levar para casa um prato de entrada e dois alimentos secundários (bebidas, sobremesas ou saladas), pelo preço de uma refeição normal nos restaurantes universitários.

Para contribuir com o Swipe Out Starvation, tudo o que você precisa fazer é: ao invés de retirar os três itens dos quais você tem direito, você opta por apenas 2 e no lugar do terceiro você solicita o cartão abaixo:

Swipe Out Starvation Card

O valor do seu terceiro item será deduzido do valor total da refeição e destinado à instituições locais e globais, como o Lafayette Food Finders e o Land of a Thousand Hills.

Em dois meses morando nos EUA e fazendo minhas refeições nos restaurantes universitários, pude perceber quanta comida é desperdiçada todos os dias pelos alunos e funcionários da Purdue University. Diariamente, 1 tonelada de alimento vai para o lixo.

No on-the-go, onde obviamente a disponibilidade de alimentos é bem menor, você encontra um ótimo lugar para pensar no que realmente quer comer e pegar apenas o necessário.

Aí vão alguns números interessantes:

  • Nos EUA 40% de todo alimento produzido no país é desperdiçado desde a horta até a mesa do consumidor.
  • Para produzir alimentos o país gasta: 10% do seu balanço energético, 50% da terra e 80% da água potável para irrigar as lavouras.
É muito, mas muito dinheiro que vai pelo ralo.
Links úteis:

 

 

Uma nova vida por 9 meses.

Durante os próximos nove meses estarei postando diretamente da terra do tio Sam.

Na minha primeira semana por aqui, vejam só este quadro que encontrei fixado na parede do Lilly Hall of Life Sciences, na Purdue University:

 

Achei inspirador! 🙂