Darwin Day, Brasil 2024!

Entramos em mais um Dia de Darwin, nesse famoso 12 de fevereiro, comemorando 215 anos desde o nascimento de Charles R. Darwin (1809-1882). Ele foi o primata que além de apontar nossas raízes primatas, reuniu várias fontes de evidência e montou o quebra-cabeça coerente da origem, diversificação, manutenção e especialização natural das espécies de seres vivos ao longo da história de nosso planeta. Evolução biológica, sopa primordial, especiação por barreira geográfica, seleção natural e sexual, são algumas de suas grandes contribuições científicas. A curiosidade e humildade intelectual de Darwin, suas descobertas e seu legado são o que nos inspiram a continuar e ampliar essa celebração internacional que é o Darwin Day.

Um dia após o Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência, onde reconhecemos e incentivamos os interesses e carreiras científicas de meninas, garotas e mulheres, o Darwin Day estende esse chamado científico a todos, apesar do feriado de carnaval. E foi bem na segunda feira de carnaval, como hoje, que em 1832 Darwin presenciou o carnaval baiano. Na época não existia spray de espuma, então os foliões jogaram no jovem Darwin gringo sacos de farinha e bolas de cera cheias de água. É claro que ele não entrou na dança e odiou a festança.

Aqui no MARCO EVOLUTIVO o carnaval é de conhecimento! Pontualmente celebrando o Dia de Darwin desde 2008, passando pelo Bicentenário de Darwin e 150 anos do ‘Origem da Espécies’ em 2009, e por 20102011201220132014201520162017, pela Década de Darwin Days no Blog em 201820192020pelo sesquicentenário do “A Descendência do Homem a Seleção Sexual’ em 2021, pelo sesquicentenário do ‘A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais’ em 2022, até 2023.

O presente evolutivo do Darwin Day desde ano quem nos deu foi o pessoal do Darwin Online que desde 2002 disponibilizam virtualmente todas as publicações, manuscritos, e cartas de Darwin. Depois de 18 anos de pesquisa, eles finalmente remontaram online a biblioteca pessoal completa de Darwin. Pela primeira vez desde seu falecimento em 1882, a biblioteca de Darwin contendo mais de 7.350 títulos pode ser acessada por qualquer um online. A biblioteca pessoal da Darwin se revelou conter quase 7 vezes mais itens do que previamente estimado. Além de livros de biologia e geologia, haviam livros de criação animal, filosofia, psicologia, história e viagem, entre outros.

Realmente, Darwin escreveu em sua autobiografia que ele havia comprado muitos livros. Pois bem, então hoje podemos acessar as fontes que ele acessou e entrar um mais no universo de conhecimento em que ele estava imerso. E isso demonstra que ao contrário de ser um cientista isolado, longe de Londres e das grandes universidade e museus, Darwin se mostrou estar bem por dentro do estado da arte que as Ciência Naturais estavam. Como metade dos livros não estavam em inglês, ele se mostrou focado ainda em aprender outras línguas. A biblioteca de Darwin se revelou uma das mais importantes e extensas coleções de livros particulares do sec. XIX. Aproveitem!

Como sempre, neste ano estamos tendo o Darwin Day do Museu de Zoologia da USP com várias atrações para os adultos e as crianças de 4/02 até 03/03. Dia 17/02 o Darwin Day do IB USP com duas palestras à tarde. Temos ainda de 26 a 28/02 o Darwin Day da Sociedade Brasileira de Genética na UFJF com exposições, palestras e mesas redondas. Temos o Darwin Day da UFJF em 24 de março. E teremos o Darwin Day da Unesp também! Fiquem ligados.

Feliz Dia de Darwin 2023!

É chegada a hora do nosso Darwin Day! Hoje, 12 de fevereiro de 2023, estamos celebrando os 214 anos de ninguém menos que Charles Robert Darwin (1809-1882). Foi ele, o geólogo e naturalista, que reuniu diversas fontes de evidências apontando para o processo evolutivo dos seres vivos. Com os mecanismos da seleção natural e da seleção sexual, ele propôs uma explicação natural e unificada para diversidade, similaridade e manutenção dos seres vivos, incluindo o ser humano, ao longo da história do planeta Terra.

Nada mais apropriado do que celebrarmos o aniversário de Darwin, sua biografia, descobertas e legado neste Darwin Day de 2023. O Dia de Darwin é uma celebração internacional que visa nos inspirar a refletir e agir seguindo os princípios de bravura intelectual, curiosidade, pensamento científico e busca pela verdade como demonstrados por Charles Darwin. Então temos que aproveitar esta celebração para nos ajuda apreciar a natureza evoluída dos seres vivos, nossa origem primata humilde, e para buscarmos as atualizações do conhecimento evolutivo fruto do legado darwinista.

Aqui no MARCO EVOLUTIVO temos, nos últimos 15 anos, continuamente celebrado o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário de Darwin e 150 anos do ‘Origem da Espécies’ em 2009, e por 20102011201220132014201520162017, pela Década de Darwin Days no Blog em 201820192020pelo sesquicentenário do “A Descendência do Homem a Seleção Sexual’ em 2021, e pelo sesquicentenário do ‘A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais’ em 2022. Neste 2023 não seria diferente.

Darwin nos mostrou a beleza e o insight profundo de ver as relações entre as espécies como as de parentescos famílias numa grande árvore da vida. Não somos idênticos aos nossos pais; assim como as pessoas, as espécies são únicas, mas as espécies irmãs tendem a ser mais parecidas entre si do que as espécies primas. É uma ótima metáfora, pois ainda mostra que da mesma forma que um galho conforme cresce vai mudando, as espécies também vão mudando ao longo das gerações (anagênese), e quando há uma bifurcação é quando ocorre o evento de especiação, o surgimento de novas espécies (cladogênese). E quando um galho seca é como um evento de extinção para as espécies daquele ramo. De forma geral a evolução biológica pode ser representada como um eterno crescimento, bifurcação, fusão (simbiose) e perecimento dos ramos da vida, todos tendo um mesmo tronco distante em comum.

Em 1857, numa carta para Huxley, Darwin escreveu que “A hora virá, creio eu, embora não viva para ver, quando tivermos árvores genealógicas muito justas de cada grande reino da natureza.” Darwin estava certo, e todos nós hoje podemos vislumbrar e explorar a maior árvore dos seres vivos já organizada. O site OneZoom mostra numa estrutura fractal continua os relacionamentos de parentescos de 2,2 milhões de espécies, de bactérias até o urso de óculos sul-americano. Além de fotos, as folhas têm cores indicando se a espécie está extinta ou em risco de extinção. É claro que além da truta, do cogumelo amanita, da maconha, do lobo, o ser humano é uma das espécies mais procuradas.

Darwin estudou a evidência de anatomia comparativa entre humanos e outros grande primatas sem rabo para prever que os humanos muito provavelmente evoluíram na África. Em 1871, Darwin escreveu que “Em cada grande região do mundo os mamíferos vivos estão intimamente relacionados com as espécies extintas da mesma região. É, portanto, provável que a África tenha sido anteriormente habitada por grandes primatas extintos, parentes próximos do gorila e do chimpanzé; e como essas duas espécies são agora as aliadas mais próximas dos humanos, é talvez mais provável que nossos primeiros progenitores tenham vivido no continente africano do que em qualquer outro lugar.”

Darwin estava certo: não só os nossos ancestrais mais antigos desde a separação do ramo comum com os Chimpanzés e Bonobos são encontrados na África, mas também a árvore genealógica humana usando dados genéticos remonta à África. No ano passado foi publicada a maior árvore unificada da humanidade feita por meio de genomas atuais e ancestrais mostrando a riqueza de dispersões e intercruzamentos das populações. Talvez se todos conseguirmos perceber toda a humanidade e todos os outros seres vivos como literalmente nossos parentes ‘de sangue’ talvez diminuiremos com as guerras, abusos e maus-tratos ainda tão persistentes na atualidade.

Seguimos em frente nos Darwin Days, sempre disseminando os insights, as previsões, descobertas e legado de Darwin bem como as novas descobertas, as quais muitas apoiam as previsões do naturalista de revolucionou a biologia e a humanidade. Neste ano tivemos o Darwin Day da Sociedade Brasileira de Genética na UFES com exposições, palestras e mesas redondas. Estamos tento o Darwin Day do Museu de Zoologia da USP com várias atrações para os adultos e as crianças. E ainda teremos o Darwin Day da UFJF em 24 de março. Muitos outros evento ainda vão surgir, então aproveitem!

Ideais digitais e sustentáveis neste Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência 2023

No dia 11 de fevereiro celebramos mundialmente as descobertas, conquistas e a importância feminina na Ciência, visando corrigir a desigualdade de gênero das oportunidades na Ciência, e inspirando as meninas a virarem cientistas. Hoje é o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, iniciado em 2015 pela UNESCO. Temos que aproveitar o dia de hoje para incentivar e divulgar as iniciativas que fortalecem a atuação feminina na Ciência e Tecnologia.

Neste ano de 2023 a ONU levanta o tema inovação tecnológica digital visando equidade de gênero e educação digital. O aumento do acesso à tecnologia e educação digital nas meninas e mulheres tem o potencial de gerar mais inovação e soluções criativas aos grandes desafios atuais globais, sejam humanitários ou de sustentabilidade ecológica. A ONU também está focada este ano na importância das meninas e mulheres na Ciência com relação às metas de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030. O tema é IDEAS: Inove, Demonstre, Eleve, Avance e Sustente.

Muito ainda precisa avançar para que meninas e mulheres encontrem seu lugar ao sol na Ciência. Um estudo publicado na Nature em 2022 descobriu que é menos provável que mulheres acabem virando coautoras de publicações de pesquisa ou patente em grupos de pesquisa do que homens. Mesmo quando elas publicam, suas contribuições são menos reconhecidas, ou até mais desconhecidas para a comunidade científica do que as contribuições masculinas.

Da mesma forma, uma revisão sistemática no Academic Medicine em 2022 mostrou que mulheres tendem a reportar receber menos mentoria, menor produtividade acadêmica, menos satisfação com a carreira, e maiores barreiras à progressão de carreira. Uma publicação neste 2023 da área da Limnologia apontou que as mulheres cientistas estão menos presentes nas conferências, nas premiações, no corpo editorial de periódicos e das sociedades científicas.

É por essas e outras razões que convido a todas as pessoas a celebrarem juntas este tão necessário Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência de 2023.

Feliz Bicentenário de Alfred R. Wallace

Começamos este ano novo de 2023 aqui no MARCO EVOLUTIVO já celebrando neste 8 de janeiro o bicentenário do nascimento de Alfred Russel Wallace (1823-1913). Acadêmicos do mundo todo estão relembrando as aventuras e descobertas de Wallace, o explorador naturalista, geógrafo e antropólogo inglês que co-descobriu a evolução por seleção natural junto ao Darwin. Seu legado e originalidade estão sendo finalmente amplamente discutidos e divulgados de modo que não se trata mais de caracterizá-lo como um mero pesquisador à sombra de Darwin. Wallace merece ser reconhecido como um evolucionista de peso, pai da biogeografia, especialista em especiação, coloração animal, cartografia, descobridor de várias espécies (da palmeira piaçava até o sapo voador da Indonésia passando pela ave do paraíso), e grande aprendiz e pensador interdisciplinar que contribuiu em diversos temas como glaciologia, epidemiologia, astrobiologia e políticas públicas.

Desde 2013 quando das comemorações do centenário de seu falecimento, já ocorre um esforço internacional para lançar luz sobre as contribuições e legado acadêmico da Wallace.  Tanto que na época foi inaugurado um grande quadro de Alfred Wallace na escadaria do Museu de História Natural de Londres, reparando assim uma injustiça histórica, visto que até então apenas a estátua de Darwin figurava por lá. E já em 2010 foi criado o “Wallace Correpondence Project” reunindo num repositório e disponibilizando online um enorme número de correspondências de Wallace. E em 2012 foi criado o Wallace Online com todos as publicações a manuscritos do autor. Aos poucos, sua relevância científica vai sendo disseminada e reconhecida.

De família humilde, Wallace teve que trabalhar desde cedo para ajudar a sustentar a família. Atuou como construtor e agrimensor passando bastante tempo ao ar livre, e acabou desenvolvendo, como autodidata, seu interesse por cartografia, história natural, botânica, geologia e astronomia na livraria da família. Mesmo sem ter educação formal, chegou a dar aulas de topologia, cartografia e desenho, mas acabou virando explorador profissional se mantendo da coleta e venda de espécimes para museus e colecionadores particulares. Ao longo de sua vida Wallace explorou diversos países como o Reuni Unido, França, Suíça, Colômbia, Venezuela, Malta, Egito, Índia, Sri Lanka, Malásia, Singapura, Indonésia, Timor Leste, EUA, Canadá, e também o Brasil.

Sua primeira grande expedição foi no Brasil (Belem-PA) aos 25 anos de idade. Ficou 4 anos no Pará (1848-1852) e, por um tempo, esteve junto com outro naturalista de renome, Henry Walter Bates, o descobridor do mimetismo batesiano. No Brasil, Wallace se encantou com a imensidão sublime da floresta tropical e com a beleza rara dos pássaros e borboletas locais. Ele observou como os rios Amazonas, Negro e Madeira funcionavam como barreiras geográficas recortando a fauna local como limites naturais. Esse isolamento geográfico poderia contribuir para a formação de diferentes espécies. Descobriu e descreveu várias espécies novas, incluindo a palmeira piaçava, e aprendeu com os ribeirinhos e indígenas locais seus vários usos. Ele também fez anotações etnográficas sobre os costumes e rituais de tribos amazônicas, e descreveu pinturas rupestres de Monte Alegre (PA).

Wallace deu muito azar ao retornar para a Europa, pois seu navio pegou fogo e naufragou perdendo a maioria do que havia anotado e coletado nos dois últimos anos. Felizmente, após 10 dias à deriva em botes, ele e a tripulação foram resgatados por um cargueiro rumo à Inglaterra. Ficou inicialmente arrasado mas mesmo assim não desanimou das explorações futuras. Apesar do ocorrido e de ter perdido muita coisa no naufrágio, Wallace ainda conseguiu publicar artigos e livros sobre macacos e palmeiras da Amazônia, por exemplo.

    

Foi no Arquipélago Malaio em que passou mais tempo (1854-1862) explorando os detalhes da natureza e das tribos locais, o que impulsionou suas maiores contribuições. Lá coletou cerca de 125 mil espécimes, uns 5 mil novos, incluindo o sapo voador e a ave do paraíso. Em Bornéu, ele fez umas das primeiras observações naturalísticas de orangotangos em seu habitat natural contribuindo novamente para a primatogia.

Suas observações biogeográficas no arquipélago o levaram a descobrir uma divisão natural que separa a fauna asiática da fauna australiana, hoje conhecida como a Linha de Wallace. Em homenagem às suas descobertas, as ilhas próximas a essa região do arquipélago Malaio são chamadas coletivamente por “Wallacea”. Lá Wallace escreveu os artigos evolutivos de maior relevância, descrevendo descendência comum, especiação e a seleção natural. Após anos de observação naturalística e leitura de Malthus e de Lyell, entre outros, ele teve o insight da seleção natural num momento febril com malária. E depois mandou uma carta a Darwin comunicando suas descobertas evolutivas, o que fez com que Darwin finalmente tornasse público seus longos estudos evolutivos numa publicação conjunta em 1858.

Wallace era contra a escravidão, anti-eugenia, anti-vivissecção, anti-militarização e anti-imperialismo e anti-terraplanismo. Ele chegou até a ganhar uma aposta de terraplanista provando a curvatura da água de um canal usando um telescópio e duas estacas na mesma altura da água, mas separadas em 10 km. Wallace era a favor dos direitos das mulheres ao voto, era também um conservacionista contrário à introdução de espécies exóticas, ao desmatamento das florestas tropicais e da erosão do solo, e ainda era um socialista a favor da reforma agrária. Wallace foi o primeiro presidente da Sociedade pela Nacionalização de Terras e permaneceu no cargo por 30 anos.

Entretanto, ao final da vida ele se tornou mais antropocêntrico e religioso se envolvendo com hipnose e espiritismo. Apesar de acertadamente não considerar as populações tribais como intermediárias entre os grandes símios e os humanos civilizados, Wallace chegou a erroneamente achar que na evolução humana, ao contrário do que ocorrera com as outras espécies, houve intervenção divina para aumento da capacidade cerebral. Além disso, ele acreditava em frenologia e, por suspeitar das autoridades e dos interesses dos médicos, ele chegou a se juntar ao movimento anti-vacina da varíola da época. Ele achava que a vacina iria interferir no balanço natural dos organismos e que a vacina não era segura. Mesmo estando no lado errado da história nestes últimos assuntos, ele conseguiu que, no caso das vacinas, novos procedimentos de segurança fossem recomendados; e por conta do seu antropocentrismo, conseguiu mostrar em seus livros sobre Astrobiologia que não havia vida inteligente criando canais de irrigação em Marte.

Por não ser parte da aristocracia inglesa, Wallace teve que batalhar muito mais para conseguir sua bagagem acadêmica autodidata e para fazer com que suas descobertas fossem valorizadas. Desde então seu legado naturalista explorador e teórico interdisciplinar está cada vez mais divulgado e apreciado, chegando a ganhar diversas medalhas de mérito acadêmico. Desejo que os pontos fortes de sua biografia e seu legado científico nos sirvam de inspiração nesta celebração internacional dos 200 anos de Alfred Russel Wallace. Assista documentários sobre as expedições de Wallace aqui e aqui

Dia de Darwin 2022 e 150 anos do ‘Expressão das Emoções’

No dia de hoje, 12 de fevereiro de 2022, há 213 anos nascia Charles Robert Darwin, o naturalista que explicou em termos naturais a variedade e as semelhanças dos seres vivos e revolucionou a forma como entendemos a natureza e nosso lugar nela. Por isso estamos celebrando o Darwin Day de 2022, o momento do ano em que consideramos a vida, as descobertas e o legado da Charles Darwin. Neste dia buscamos inspirar a todos a ver os seres vivos e suas relações atuais e ancestrais da forma naturalista e evoluída que Darwin concebeu. Além disso, enfatizamos também as constantes revisões e atualizações do conhecimento biológico e evolutivo fruto do legado darwinista. Então, o Dia de Darwin é sempre muito emocionante!

Nos últimos 13 anos aqui no MARCO EVOLUTIVO, temos devidamente celebrado o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário de Darwin e 150 anos do ‘Origem da Espécies’ em 2009, e por 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, pela Década de Darwin Days no Blog em 2018, 2019, 2020 e pelo sesquicentenário do “A Descendência do Homem a Seleção Sexual’ em 2021. Assim como no ano passado, este ano será muito especial pois estaremos comemorando os 150 anos de outra publicação darwiniana, o livro “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais” (1872).

O que era para ser um capítulo do livro anterior “A Descendência do Homem e a Seleção em Relação ao Sexo” (1871) cresceu tanto que precisou ser considerado como uma nova obra em si mesma. O ‘Expressão da Emoções’ foi publicado dia 26 de novembro de 1872, e foi o primeiro a usar fotografias. No livro, Darwin traça um programa de pesquisa evolucionista e comparativo para as ciências do comportamento. Sim, Darwin, que já havia estudando Geologia, por exemplo, com o surgimento das montanhas e dos atóis, Zoologia com sua vasta publicação sobre cracas, e Botânica com seus experimentos de polinização de orquídeas, também se debruçou sobre o comportamento animal, humano e não-humano. Darwin pesquisou meticulosamente várias emoções e os movimentos corporais relacionados, incluindo ainda variações vocais e algumas reações fisiológicas, como arrepio e rubor. Darwin usou observações e questionários entre outras metodologias.

Por questão de saúde, Darwin passou muito tempo praticamente em isolamento social em casa com a família, mas nem assim parou com sua curiosidade e atenção a detalhes e padrões. Isso porque ele passou a observar também o comportamento dos animais de estimação e dos seus filhos em toda a sua expressividade emocional e então, com a ideia de ancestralidade comum em mente, passou a entender as semelhanças e querer cada vez mais aplicar evolução ao comportamento. Enfim, ele mostrou em seu livro que as expressões das emoções são em grande parte compartilhadas entre os animais, incluindo os humanos. Ao perceber a continuidade filogenética da expressividade emocional Darwin foi pioneiro no estudo Psicológicos informado pela Evolução biológica. Ele é considerado por muitos o primeiro psicólogo evolucionista.

 

Com o agravamento da pandemia causada pela variante Ômicron, os eventos no Brasil e no mundo inteiro estão sendo realizados de forma online facilitando a participação, e o fato de muitos ficarem gravados ajuda demais na disseminação do legado de Darwin e das subsequentes atualizações. Cada vez mais instituições e grupos estão se juntando à celebração internacional do Dia de Darwin e oferecendo gratuitamente palestras e discussões sobre os mais variados temas biológicos e evolutivos. Então, se na época de Darwin ficar em casa não era desculpa para não aprender, agora com vários eventos online, ficou bem mais fácil aproveitar os vídeos do Darwin Day para expandir os conhecimentos.

Este Darwin Day 2022 é uma oportunidade excelente para aprendermos mais sobre os seres vivos e sobre nós mesmos. Pois como o próprio Darwin escreveu no prefácio do ‘A Descendência do Homem’: “Ignorância mais frequentemente leva à confiança do que o conhecimento: é aqueles que sabem pouco, e não aqueles que sabem muito, que positivamente afirmam que este [origem dos humanos] ou outro problema nunca será resolvido pela ciência”.

Feliz Darwin Day 2022!

Promovendo Mulheres e Meninas na Ciência em 2022

Hoje, dia 11 de fevereiro, é o Dia Internacional da Mulher e Menina na Ciência. Estamos celebrando mundialmente as conquistas, descobertas e a importância feminina na Ciência, tentando corrigir a desigualdade de gênero das oportunidades na Ciência, e inspirando as meninas a virarem cientistas. Desde 2015 as Nações Unidas declararam o 11 de fevereiro para esta tão merecida e necessária celebração mundial. Os desafios são muitos, desde diminuir barreiras sociais, estereótipos e até atualizar as próprias dinâmicas institucionais da academia. O dia de hoje é um excelente lembrete da necessidade de se fortalecer e incentivar a atividade feminina na Ciência e Tecnologia.

No ano passado vimos como as mulheres cientistas estão sendo vitais para o combate à pandemia de coronavírus e para o avanço das medidas protetivas contra transmissão viral. A Science Advances publicou em 2021 um editorial falando a importância de se apoiar a presença das mulheres na academia científica durante e depois da pandemia. Eles elencaram algumas formas de se incentivar a entrada e a permanência das mulheres na Ciência: ajudar as mulheres cientistas quando eles começam família como oferecer creche a todas as mães na academia, dar salário equivalente ao masculino e o mesmo financiamento pra se começar um laboratório, repensar o período probatório para permitir e melhor acomodar a licença maternidade, oferecer mentoria de outros cientistas, manter opções de teletrabalho (aulas remotas e conferências online) mesmo depois da pandemia, e incentivar parcerias e colaborações científicas na academia.

Este ano estão saindo novas publicações promovendo e discutindo as contribuições científicas das mulheres nas mais diversas áreas como na Paleontologia e nas Neurociências. Atualmente estamos vendo uma melhora no ambiente acadêmico nacional e internacional, o qual está cada vez mais sensível às demandas e especificidades femininas. Porém, há muito ainda no que se avançar, principalmente na abertura de novas vagas, aumento do financiamento e disponibilidade de mais vagas em creches. E, por isso, temos que juntar forças para ajudar a promover as mudanças sociais necessárias para oferecer as plenas condições par atrair e manter mais mulheres na Ciência. Então, feliz Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência!

 

150 anos do livro A Descendência do Homem e a Seleção Sexual de Darwin

Neste dia de 24 de fevereiro há exatos 150 anos foi publicado em Londres com dois volumes de 450 páginas o The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex de Charles Darwin. O livro foi um marco para o estudo da evolução humana e aqui no MARCO EVOLUTIVO não poderíamos deixar de celebrar esta data. Originalmente a ideia de Darwin era apenas ter um capítulo sobre humanos em seu livro The variation of animals and plants under domestication de 1866, mas como o livro já estava grande ele resolveu fazer em separado um pequeno ensaio sobre nossa ancestralidade primata e a seleção sexual, o que acabou crescendo e virando os dois volumes do The Descent of Man em 1871. Neste livro Darwin finalmente pode desenvolver tudo o que ele se referiu ao final do Origem das Espécies quando disse que, por conta da evolução por seleção natural, no futuro muita luz seria lançada sobre a origem dos humanos e nossa psicologia e história.

Intuitivamente sempre nos parece que a diferença psicológica entre humanos e outros primatas é enorme, tanto que até o Alfred Wallace abandonou a explicação evolucionista ao se tratar da mente humana por achar pouco possível de que toda nossa capacidade intelectual tenha evoluído naturalmente em contextos tribais aparentemente pouco exigentes por grandes inteligências. Muito do The Descent é uma reposta ao desafio de Wallace. Darwin argumenta que todas as nossas características psicológicas podem ser encontradas em algum grau em outras espécies, incluindo capacidades para a música, a beleza, e a moralidade. É por isso que numa carta a Wallace Darwin diz que a evolução humana era o maior e mais interessante problema para o naturalista.

Outra noção popular na época era a de que toda a exuberante beleza na natureza teria sido magicamente criada para satisfazer os humanos que seriam o ápice da evolução. Graças a Darwin e anos de pesquisa subsequente, hoje sabemos que a evolução não tem ápice e que somos tão únicos e tão especiais quanto cada uma das outras espécies. No The Descent Darwin argumenta que a beleza sonora e visual encontrada no mundo animal evoluiu naturalmente pelo processo de seleção sexual. Indivíduos mais vistosos e sonoros eram preferidos na busca por um parceiro sexual, o que ao longo de muitos ciclos de seleção, dá origem a cada vez mais beleza.

A evolução dos armamentos como chifres era mais facialmente explicada pela competição entre machos o que deixara as armas mais eficientes e maiores. Mas para explicar a evolução da beleza era necessário perceber que as fêmeas das outras espécies também têm senso estético e que a variação nesse senso estético era a pressão social favorecendo a evolução dos ornamentos animais. Portanto, para Darwin a beleza do pavão ou da ave do paraíso não necessariamente precisa indicar uma qualidade de sobrevivência, basta ela ser agradável o suficiente para as fêmeas da espécie que a ornamentação poderia evoluir sendo um fim em si mesma.

Atualmente como parte das celebrações do sesquicentenário do The Descent, diversas iniciativas tentam resgatar o que Darwin acertou e o que Darwin errou no livro, e todos o desdobramento mais atuais nos dois tópicos centrais do livro: evolução humana e seleção sexual. O livro A Most Interesting Problem: What Darwin’s Descent of Man Got Right and Wrong about Human Evolution apresenta uma releitura da perspectiva atual de cada capítulo relativo ao ser humano. Está sendo muito bem avaliado e me pareceu muito interessante tanto para quem quer se atualizar sobre evolução humana quanto para quem quer se aprofundar nas hipóteses do The Descent. Em Darwin, sexual selection, and the brain Micheal Ryan faz uma revisão das várias linhas de pesquisa relacionadas à ideia da Darwin sobre a evolução da beleza sendo um fim em si mesma. Em Darwin’s closet: the queer sides of The descent of man (1871), Ross Brooks ressalta como Darwin integrou a ideia de variação individual nos assuntos da seleção sexual o que foi fundamental para o nascimento da sexologia moderna. No Periódico Evolutionary Human Sciences existem uma compilação de artigos celebrando os 150 anos do The Descent, por enquanto com 3 artigos e com promessa de outros mais por vir.

Claro que como todo livro, o The Descent tem várias limitações e vieses de época, mas nele Darwin deixou claro que as origens evolutivas dos humanos podem sim ser desvendadas. E nesse sentido enquanto um programa de pesquisa a ser desenvolvido, Darwin deu uma inestimável contribuição à evolução humana. E, se percebermos como aspectos morfológicos, biogeográficos, interespecificamente comparativos, mas também psicológicos e comportamentais estão integrados, o The Descent pode ser considerado bem moderno. Isto porque, de lá para cá, ainda são poucos biólogos focando na psicologia e no comportamento, e pouco psicólogos focando na evolução. Felizmente as áreas estão cada vez mais se integrando e talvez um dia cheguemos ao grau de integração que o próprio Darwin expressou 150 atrás.

Dia de Darwin 2021 e os 150 anos do “Descendência do Homem”

É chegado o Darwin Day 2021, a grande celebração internacional da biografia, publicações e legado de Charles Robert Darwin. Hoje, dia 12/2/21, Darwin faz 212 anos. E daqui 12 dias seu livro “A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo” (1871) completa 150 anos de publicação, 12 anos depois do sesquicentenário do “Origem das espécies”.  No “Descendência” (12 letras), Darwin aborda as semelhanças morfológicas, comportamentais e psicológicas entre humanos e não-humanos como evidência da ancestralidade comum, e discute a importância da seleção sexual para a evolução de algumas características compartilhadas. Darwin deixa claro que as diferenças que existem entre nós e os outros animais são de grau e não de tipo, e que todos os humanos vieram de um ancestral comum africano. Trata-se então de um dia, um mês e um ano muito especiais para o evolucionismo, especialmente aplicado ao ser humano.

Nos últimos 12 anos aqui no MARCO EVOLUTIVO, temos celebrado ininterruptamente o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário em 2009, e por 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, pela Década de Darwin Days em 2018, 2019 e em 2020. Por conta da pandemia muitos eventos no Brasil e no mundo todo estão sendo realizados online, o que facilita muito a participação e a disseminação das ideias e do legado de Darwin. Então busque online por Darwin Day 2021 e aproveite. Veja a discussão sobre Evolução Humana promovida pela Sociedade Brasileira de Genética.

No “Descendência” Darwin ressalta que epidemias, assim como guerras, são um importante fator de seleção fazendo com que a população humana não realize todo seu potencial de multiplicação. Seguindo esses primeiros passos de se abordar os surtos de doenças evolutivamente, especialmente num livro sobre a evolução do corpo e do comportamento humano, alguns psicólogos evolucionistas contemporâneos têm continuado essa linha durante a atual pandemia de COVID-19 causada pelo novo coronavírus. Temas como as tendências evoluídas de se evitar contágio por patógenos, as respostas comportamentais e psicológicas a ameaças, cooperação e cuidado em tempos de crise de saúde, entre outros, estão sendo abordados teórica e empiricamente no momento. Veja Seitz et al. (2020), Arnot et al., (2020), Dezecache et al. (2020), Troisi (2020), e Ackerman et al. (2020).

Um tema comum nessas novas publicações é o descompasso temporal evolutivo (evolutionary mismatch) entre o ambiente ancestral, para o qual boa parte das nossas tendências está adaptada, e o ambiente atual, que preserva cada vez menos semelhança com as condições ancestrais. Se o descompasso entre o ambiente de adaptação evolutiva ancestral e o contexto moderno urbanizado, pós-industrial e tecnológico pré-pandemia já era considerado pouco representativo do modo de vida caçador coletor ancestral, levando a vários problemas como o sedentarismo, obesidade, solidão e estresse crônico, esse descompasso só aumentou durante a atual pandemia de COVID-19. A pandemia de COVID-19 está sendo referida como o grande descompasso evolutivo.

O conceito evolutivo do descompasso é importante pois mostra que as adaptações não são absolutas, mas sim relativas a um ambiente específico. Quem conhece o tamanho do ambiente natural dos grandes felinos entende porque eles estão sempre andando para lá e para cá em seus recintos no zoológico. Assim como os leões, os humanos também vão tender a querer se comportar como se ainda estivessem em sua família estendida tribal rodeados de parentes e amigos, alta interação social diária, alimentação comunal, deslocamento diário e entretenimento em grupo ao redor da fogueira à noite.

Ao longo dos anos fomos criando substitutos como a televisão, cinema, o telefone, internet, email, vídeo chamadas, realidade virtual, educação à distância, esteira de corrida/caminhada, aplicativos de escolha de parceiros, pornografia, os documentários de natureza, etc. Mas, ainda assim, quanto mais perto do contexto original maior é o apelo psicológico, como de reencontrar a família no restaurante ou os amigos na escola/universidade ou no bar à noite, o futebol com os amigos no final de semana, a atividade física na academia de ginástica, a socialização nos cultos religiosos, e as oportunidades de se encontrar novos parceiros sexuais nas boates e discotecas.

Porém, durante a pandemia essa resistência de se deixar a vida moderna mais virtual/online ainda, que é compreensível e prevista à luz dos descompassos evolutivos, está colocando a sociedade e a espécie inteira em perigo. São justamente a escola/universidade, o restaurante, o bar, a igreja, a academia, as boates e discotecas que estão sendo identificados como locais com eventos de super-espalhamento do novo coronavírus (suprespreading events) que poderiam ser evitados visto que os indivíduos oportunisticamente decidem se expor ao perigo.

Mais do que nunca teremos que utilizar e disseminar os vários substitutos virtuais  para manter os mínimos níveis de estimulação e atuação social, os quais ajudam a manter a sanidade corporal e mental (apesar de eles também levarem a alguns prejuízos). Então, nesse dia de Darwin é importante participar dos vários eventos online, e entender a problemática dos descompassos evolutivos para tentar ao máximo minimizar mortes evitáveis decorrente da irresponsabilidade epidemiológica de alguns poucos.

 

 

 

 

Mulheres cientistas no combate à pandemia

Começamos o primeiro ano 21 do Século XXI com muitos desafios e, incrivelmente, algumas razões para celebrar. Porém, reinicio as postagens no MARCO EVOLUTIVO pedindo um minuto de silêncio em respeito aos mais de 235 mil mortos pelo SARS-COV-2 causados da COVID-19 no Brasil até então, e aos mais de 2,371 milhões que se tem notícia no Mundo todo até então. Se nos EUA 40% das mortes por COVID-19 poderiam ter sido evitadas caso Trump tivesse levado a pandemia e à ciência à sério, no Brasil governado por Bolsonaro essa porcentagem deve ser ainda maior, infelizmente. Até porque, um estudo pre-registrado mostrou que decretar a obrigatoriedade do uso de máscaras é a solução mais efetiva, justa, socialmente responsável para diminuir a transmissão do novo coronavírus.

Nesse 11 de fevereiro estamos no Dia Internacional da Mulher e Menina na Ciência. Trata-se de uma celebração mundial enfatizando a imensa importância das mulheres na Ciência, apontando formas de se corrigir a desigualdade de gênero das oportunidades na Ciência, e inspirando as meninas a seguirem este trajeto profissional. Durante desastres e crises de saúde pública, sempre são as mulheres que mais sofrem devido ao fechamento das creches e escolas e o decorrente aumento da já carregada dupla jornada de trabalho, pessoal e profissional. Portanto, o poder público e a sociedade precisam se mobilizar para proteger as mulheres ainda mais durante essa pandemia. Apesar disso, um estudo em 8 países com 21.649 participantes mostrou que as mulheres são as que mais entendem a seriedade da pandemia e mais respeitam e seguem as medidas sanitárias de saúde pública que evitam o aumento na transmissão do coronavírus; elas fazem mais distanciamento social, usam mais máscara, e assim, protegem a si mesmas e à toda a sociedade. Temos muito o que agradecê-las.

Então, nada mais apropriado do que o tema desse ano do Dia Internacional da Mulher e Menina na Ciência, pois celebra as mulheres cientistas à frente do combate à pandemia da COVID-19, seu papel crucial desde a descoberta do primeiro coronavirus humano, passando pelo sequenciamento do genoma do novo coronavírus até a elaboração e testagem das vacinas. Da Ciência básica à aplicada, as mulheres cientistas tem contribuído para o rápido avanço no conhecimento e nas medidas protetivas contra a COVID-19. Portanto, a Ciência precisa de mais mulheres porque o mundo precisa de mais Ciência para lidar com os novos desafios fruto da progressiva devastação ambiental.

Quase tão antiga quanto meu último post, essa pandemia do novo coronavírus está mostrando claramente que não há futuro para humanidade sem respeito, disseminação, financiamento, vagas e estabilidade para a Ciência e cientistas. Até porque, a Ciência é a única forma de produção de conhecimento que pode gerar aplicações cotidianas como as vacinas beneficiando a todos, inclusive aqueles que negam os inegáveis avanços da Ciência. Temos algumas dezenas de meses de pandemia pela frente ainda, mas nunca é tarde para parar, ouvir, entender e seguir as recomendações científicas sobre as melhoras formas de se evitar a pandemia. Basta seguir as várias publicações científicas (como essa sobre a importância do uso de máscaras), os vários informes de Sociedades Científicas (como a de Infectologia), e os vários divulgadores de ciência nacionais (como o Atila Iamarino) e internacionais (como o pessoal do SciShow) com atualizações e recomendações sobre a pandemia de COVID-19.

Nesse sentido gostaria de ressaltar o excelente trabalho sendo realizado pelo Blogs de Ciência da Unicamp. Liderado pela cientista Ana de Medeiros Arnt do Instituto de Biologia, o grupo tem publicado desde o começo da pandemia muita informação embasada cientificamente em forma de texto, áudio e vídeo sobre COVID-19. Trata-se de conteúdo e didática de primeira no momento em que mais precisamos da Ciência em nossas vidas. Então, nada mais óbvio do que o ScienceBlogs Brasil se juntar ao grupo e se hospedar no Blogs de Ciência da Unicamp. Tal junção ocorreu em abril de 2020 e estamos muito satisfeitos por poder engrossar o coro do jornalismo, da divulgação, da disseminação, da popularização, e da educação não-formal científica no Brasil.

 

Feliz Darwin Day 2020 Brasil!!!

No dia 12 de fevereiro de 1809 nascia Charles R. Darwin. Aquele menino curioso, travesso, colecionador de besouros, e nada muito estudioso, virou um jovem explorador e caçador de pássaros. Mas o que ele fez depois de abandonar a faculdade de medicina o colocou no caminho para um futuro de muito impacto. Ao combinar geologia, com história natural e demografia, com observações cuidadosas, expedição ao redor do mundo, coletas de espécimes e fósseis, experimentos caseiros, muita leitura, reflexão, e troca de cartas com especialistas, Darwin, seus livros e descobertas, se tornaram o pilar da Biologia moderna, que por sua vez, ancora para as Ciências Humanas. Nesse Darwin Day de 2020, estamos comemorando os 211 anos de Darwin e os 161 anos do seu livro seminal “A Origem das Espécies”. Trata-se da maior celebração mundial da Ciência e da Razão inspirada na vida e obra de Darwin, continuando a também merecida comemoração de ontem do Dia Internacional da Mulher e Menina na Ciência.

No MARCO EVOLUTIVO, celebramos anualmente o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário em 2009, e por 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, pela Década de Darwin Days em 2018 e até 2019.darwin day 2020 Me alegra muito ver o crescimento de celebrações do Darwin Day no Brasil mesmo sendo num período de férias de verão pré-carnaval. E como as abordagens se diversificaram, alguns celebram no dia 12 (UFUUFSC, MZ-USP), outros na semana inteira ou mês de fevereiro (MZ-USP), outros em março com o início das aulas da graduação e pós (Unesp Botucatu, FMVZ-USP). Tem muita programação imperdível. O importante é aumentar o conhecimento, vislumbre e engajamento sobre o evolucionismo darwinista no Brasil. Afinal somos ainda a única espécie do sistema solar que já descobriu a evolução por seleção natural.

Darwin dia do orgulh ateuHoje também é celebrado o Dia do Orgulho Ateu no Brasil. Nada mais apropriado do que comemorar a liberdade das amarras da religião no dia de nascimento do naturalista britânico para quem apoiar a evolução por seleção natural era como confessar um assassinato. Isso porque, com Darwin, as explicações criacionistas não são mais necessárias para explicar a origem e diversificação dos seres vivos. Apesar de parecer que Darwin tornou de vez desnecessária a crença religiosa, o que ele possibilitou, muito pelo contrário, é uma explicação materialista evolutiva tanto para a origem e diversificação das espécies e suas adaptações corporais quanto suas adaptações mentais. E assim, até a propensão para religiosidade e/ou seus subcomponentes afetivos-cognitivos também podem ser explicadas evolutivamente. Os possíveis valores adaptativos ancestrais da religiosidade podem ser desde reforçar o tribalismo, promover assimilação cultural alheia, capa livro the biological evolution of religious mind and behaviormotivar expansão territorial e conflitos entre grupos, controlar a fidelidade, sexualidade e reprodução feminina, fomentar sexualidade mais conservadora, oferecer propósitos de vida além dos de cuidado parental, ativar o efeito placebo de auto-cura, oferecer conforto e esperança frente ao medo da morte, entre outros. As pesquisas sobre esse tema estão florescendo nas últimas décadas, e assim que as evidências forem se acumulando saberemos quantos e quais desses valores adaptativos são os mais embasados para explicar a evolução da propensão para desenvolver a capacidade da religiosidade/espiritualidade. Veja exemplos aqui e aqui (livro da imagem).

Então, ao invés dos religiosos ficarem chateados por Darwin ter explicado os seres vivos, incluindo a origem primata dos humanos, nos termos materialistas sem a interferência de qualquer divindade mitológica, eles deveriam também celebrar o Darwin Day, pois o evolucionismo pode explicar a existência de sua própria tendência a religiosidade/espiritualidade. Sabemos que não é manifesto na natureza a existência de qualquer divindade criadora minimamente inteligente ou bondosa, visto a extinção das espécies, as crueldades que indivíduos fazem uns com os outros, os órgãos vestigiais, os erros de design de vários órgãos, suas disfunções, as doenças hereditárias, entre outras. Porém, a capacidade para se ter as experiências e tecer os raciocínios religiosos tem sua realidade embasada na própria evolução da mente humana. DARWIN-DAY-mobilizacao 2020É por isso que esses raciocínios religiosos são antigos, universais e experienciados subjetivamente como verídicos, intuitivos, profundos e poderosos, pois são parte evoluída de longa data da mente humana, e não porque esse ou outro ser mitológico mágico local realmente exista invisível e antropomorficamente. Contra-intuitivamente, a pura fé religiosa é mais prova do alcance e poder da evolução biológica do que da existência de qualquer suposta divindade. A evolução da fé leva à ‘fé’ na evolução.

Muitas capacidade mentais foram recrutadas e reorganizadas para compor a religiosidade. Soeling & Voland (2002) elencaram as capacidades do misticismo, da ética, do raciocínio mitológico, e da tendência para realizar rituais.paternicity taxonomy Dentro das capacidades para o misticismo, além das tendências para a contemplação transcendental, existem as tendências de pensamento essencialista, e de superativação da capacidade de identificar agentes intencionais (antropomorfização). Veja também van Leeuwen & van Elk (2019) para um modelo mais recente. Na revisão da literatura sobre biopsicologia do antropomorfismo (Varella, 2018), mostrei como essa superativação da detecção da intencionalidade é profundamente enraizada e evoluída da mente humana (junto com outros primatas próximos). error management theory tableEla tem a função protetora por nos fazer ver intenção onde não tem para não deixarmos de ver onde tem, especialmente em contextos de vulnerabilidade. Foi melhor para nossos ancestrais pré-históricos se assustar com o vento mexendo a moita do que não se assustar quando o tigre-dente-de-sabre estava escondido na moita. Como no geral os religiosos tem mais medo da morte do que os não religiosos (mas a coisa é mais complicada do que isso) faz sentido eles verem agente intencional onde existem apenas processos astronômicos, físico-químicos, e biopopulacionais transgeracionais.

Animal Tool Behavior bookSomado a isso, os humanos (junto com outros primatas próximos) projetam e fazem ferramentas que nos ajudam na sobrevivência e reprodução há muito tempo pra essa capacidade mental de projetista/engenheiro também fazer parte intrínseca da mente humana. E isso também explica o quão intuitivo é o falacioso ‘argumento do design’ usado por criacionistas e adeptos do, também pseudocientífico, design inteligente. Achar piamente que para se produzir algo funcional e complexo é preciso sempre de um projetista inteligente, apesar de ‘fazer sentido’ intuitivamente, não é prova da plausibilidade da teologia natural, mas sim do caráter evoluído da nossa capacidade cognitiva de imaginar, reconhecer e produzir ferramentas e outros artefatos.

Atualmente temos o desafio de promover e intensificar o ensino de evolução em várias faixas etárias entre os humanos. orangutan criationism Futurama.S06E09.HDTV_.XviD-FEVER-02.07.33Mas no futuro quando conseguirmos nos comunicar melhor com as outras espécies (e impedirmos sua extinção por degradação de habitat) teremos que também enfrentar o criacionismo dos gorilas e orangotangos, e o design inteligente dos corvos e macacos-prego. Não só porque isso está em parte devidamente profetizado na série Futurama (S06E09), mas porque esses e outros animais também tem as mesmas capacidades de entender propósitos e metas em outros, e de produzir ferramentas. Penso que uma boa maneira de lidar com isso é reafirmar a realidade do sentimento religiosos e a intuitividade profunda dos raciocínios intencionais e projetistas como produtos legítimos da evolução biológica.
Desejo um ótimo Darwin Day em 2020 para todas as tribos!