Novos Artigos – Psicologia USP lança dossiê sobre suicídio

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Suicídio: um tabu que acarreta as deficiências brasileiras na prevenção
Por Kátia Kishi, jornalista do Divulga Ciência

De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) o suicídio é a terceira principal causa de morte entre pessoas de 15 a 44 anos, sendo que por ano ocorrem cerca de um milhão de mortes por suicídio e as tentativas são de 10 a 20 vezes mais frequentes, evidenciando a necessidade de tratamentos e pesquisas no assunto.

Nesse contexto, o periódico Psicologia USP (vol. 25, n. 3, 2014), do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, preparou um dossiê com o tema “Suicídio” que se desmembra em sua epidemiologia e faixas etárias.

O artigo inicial Comportamento suicida: epidemiologia do psiquiatra Neury José Botega, doutor em saúde mental e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp), apresenta que no Brasil o coeficiente de mortalidade por suicídio aparenta ser pequeno comparado com outros países, segundo os últimos dados do Ministério da Saúde, 1% dos óbitos tem origem suicida, mas esses dados podem estar mascarados por causa do não registro da intenção de morte, subregistro e subnotificações em hospitais.

O tabu envolvendo o suicídio se evidencia com as famílias que pedem para se ocultar a causa da morte, perdendo-se assim, um escopo completo para análise e agravado pelaausência dos meios utilizados para se definir as estratégias de prevenção no país, como a redução de acesso aos métodos letais, orientada pela OMS. O ensaio de Botega também apresenta um estudo que dividiu aleatoriamente pessoas que deram entrada em pronto-socorro por tentativa de suicídio e avaliou os métodos tradicionais de prevenção da rede pública com uma intervenção psicossocial baseada em entrevistas motivacionais e telefonemas frequentes. Após 18 meses, o número de suicídios no grupo de tratamento usual foi 10 vezes maior do que entre os que receberam a nova abordagem, destacando as deficiências brasileiras na prevenção do suicídio.

Os outros artigos focam em sub-áreas desse tema ainda pouco discutido, como Suicídio e sua essência transgressora da professora em saúde pública da Universidade Federal de São Paulo, Fernanda Marquetti, que caracteriza o ato como uma quebra dos padrões de morte discreta ocidental dos hospitais e se torna um espetáculo na fronteira dos espaços público-privado.

Já a pediatra e psiquiatra, Evelyn Kuczynski, discute no ensaio Suicídio na infância e adolescência um tabu mais intenso por não se esperar na sociedade atual que crianças e jovens tirem suas próprias vidas, no entanto, nessas faixas etárias há uma média de 730 mortes por suicídio/ano no Brasil, sendo uma das principais causas o bullying e influência midiática. A outra ponta etária também foi abordada no dossiê com o artigo Suicídio de idosos e mídia: o que dizem as notícias?, estudo conjunto de pesquisadores que refletem as formas com que a mídia noticiou os suicídios de idosos de abril de 2010 a abril de 2013, principalmente motivados por crises econômicas. Segundoos autores, a mídia tem papel ativo na prevenção do suicídio, já que sua abordagem pode resultar em um efeito de imitação das mortes, contágio também evidenciado por Kuczynski entre as crianças.

Apesar da maioria dos artigos que compõem o dossiê abordarem as deficiências no cuidado com o tema do suicídio, também se tem artigos que discutem os tratamentos e procedimentos que o psicoterapeuta pode desenvolver nesses casos, como “Assistência Hospitalar na tentativa de suicídio” da professora e doutora em enfermagem da USP, Beatriz Aparecida Ozello Gutierrez, e“Psicoterapeuta diante do comportamento suicida” da psicóloga Karina Okajima Fukumitsu.

Para ler os artigos completos, acesse o link da revista Psicologia USP.

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