Periódico mais antigo do mundo será digitalizado em alta resolução

Por Germana Barata

Em ano de festejos dos 350 anos do periódico científico mais antigo do mundo, o Philosophical Transactions, dará um belo presente para os leitores, para a comunidade acadêmica e os apaixonados por ciência. A Royal Society em parceria com a Wellcome Trust e a British Library investirá cerca de 1,7 milhão de libras esterlinas (cerca de R$8,5 milhões) para a completa digitalização, em alta resolução, da revista inglesa que soma 566 volumes, mais de 3.700 fascículos e ao menos 70 mil artigos. phil. trans.2

Já existe uma versão da coleção digitalizada desde 1999 e cujo acesso foi aberto em função das celebrações. Segundo Stuart Taylor, diretor de publicações da sociedade, apesar disso a coleção está incompleta ou tem qualidade relativamente baixa, além de não pertencer à sociedade, mas sim à JSTOR, biblioteca virtual responsável pela digitalização. “Os metadados são rudimentares e as imagens não estão disponíveis em uma coleção em separado. A digitalização (que existe) é apenas dos artigos em si, não dos itens que acompanham o material (como pareceres, cartas aos editores etc)”, explicou. Neste momento, o conselho consultivo de especialistas está sendo definido. Com o novo projeto a Phil. Trans. deverá trazer uma nova dimensão às possibilidades acadêmicas que a internet oferece às publicações científicas, permitindo o acesso a pareceres e anexos que poderão enriquecer enormemente o trabalho de historiadores, cientistas da informação e interessados em mergulhar nos bastidores dos artigos científicos. Essa prática poderá influenciar as gerações atuais e futuras de periódicos científicos, mostrando que o Phil. Trans. é antiga, porém nada antiquada, e continua desbravando as barreiras do conhecimento científico.

flora brasilienses
Exemplo de imagem em alta resolução da Flora Brasiliensis. Vol. IV, Part I, Fasc. 27, Prancha 99. Publicado em 15 de fevereiro de 1861. Família Begoniaceae gênero Begonia L.. Série Placentis Integris, seção Gireoudiae Begonia phyllomanica Mart. Seção Steineria Begonia bidentata Raddi.

No Brasil, a digitalização em alta definição foi adotada para a coleção da obra Flora Brasiliensis iniciada em 2006, com financiamento da Fapesp. Fruto do trabalho detalhado e incansável do naturalista alemão Carl Friederich Phillipp von Martius (1794-1868) a obra conta com 15 volumes compostos por 10.367 páginas, 22.767 pranchas que descrevem mais de 22 mil espécies da flora brasileira. A resolução e a tecnologia permitem ao pesquisador passear com um cursor sobre os desenhos científicos e aproximar a imagem inúmeras vezes como se estivesse diante da obra original portando uma poderosa lupa. A técnica preserva este acervo histórico, mas também facilita o acesso, anteriormente limitado às possibilidades de consultas presenciais.

O projeto de digitalização em alta resolução da Philosophical Transactions deverá ser concluído em 2017. Taylor informa que a maior parte da coleção estará disponível ao público de acordo com as políticas de direitos autorais, ou seja, parte em acesso aberto, mas a maior parte voltada apenas para assinantes. “A coleção como um todo deverá estar disponível para venda para bibliotecas institucionais do mundo todo, mas esse planejamento ainda não está firmado”, conclui.


Germana Barata esteve na Conferência “Publish or perish: the past, present and future of scientific periodical” na Royal Society em março deste ano. Coordena o Divulga Ciência em Revista, fruto do projeto Fapesp (processo 2013/10075-8) e é pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Email: germana@unicamp.br

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