Primeira descrição do zika vírus transmitido no país alerta para crescimento da doença

Germana Barata

A última edição da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz traz artigo inédito sobre o zika vírus (ZIKV), transmitido pelo mosquito do gênero Aedes, o mesmo que transmite a dengue. O ZIKV chegou ao Brasil no início do ano, com o primeiro caso reportado em Natal. “Uma hipótese plausível é que a chegada do novo vírus emergente ocorreu durante a Copa do Mundo de 2014”, informam Claudia Nunes Duarte dos Santos, do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto Carlos Chagas e os co-autores do estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRN) e da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte. No Brasil há casos confirmados no Rio Grande do Norte, Bahia, Alagoas, Maranhão, Roraima, Pará, São Paulo e Rio de Janeiro.

O sequenciamento genético de amostras de 8 pacientes indicou alta similaridade com a linhagem de origem asiática, enquanto os testes para dengue e chikungunya deram negativo. Dentre os pacientes positivos para Zika vírus, confirmados como casos autóctones (adquiridos no Brasil), sete eram mulheres com idade média de 39 anos com familiares com os mesmos sintomas. Dentre os sintomas mais comuns estava a coceira por vermelhidão na pele e dor.

Os autores reportam que a maior parte dos pacientes afirma ter sentido dor por 2 a 15 dias, com um deles chegando a 21 dias. Dentre outros sintomas bastante presentes estão dor de cabeça e muscular (em 6 pacientes), dores nas articulações (7), febre mediana (6) e dor ao redor dos olhos (4). A duração da febre variou de 1 a 8 dias, com relato de febre alta (acima de 39oC) apenas em dois pacientes. O quadro clínico teve semelhanças com a chikungunya, porém com menor duração, chegando a duas semanas.

Captura de tela 2015-06-19 09.52.11
Alguns sintomas do zika vírus identificados nos pacientes do Rio Grande do Norte. B) vermelhidão e coceira na pele, C) inchaço nos pés. Crédito: Zanluca et al. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 2015.

“Até hoje, nenhuma morte ou complicações associadas à Zika foram registradas em Natal”, lembram os autores do estudo. Apenas em dois pacientes é que o número de leucócitos, células de defesa, caiu, nos demais os níveis se mantiveram normais, incluindo os de neutrófilos e plaquetas, diferente do que ocorre no caso de dengue. O teste do torniquete ou prova do laço, usado para identificar o agravamento da dengue, deu negativo em sete pacientes.

Os autores alertam que, embora os casos descritos tenham sido amenos, os profissionais de saúde precisam estar atentos para o risco de expansão desta nova doença no país. “O contexto epidemiológico complexo de circulação simultânea dos virus da dengue, chicungunya e zika não deve ser negligenciado”, enfatizam, lembrando que já foram descritos casos de co-infecção de vírus da dengue e zika, bem como dengue e chikungunya. Porém ainda não se sabe se a infecção simultânea de virus ou a infecção subsequente pode agravar os casos ou alterar os modos de transmissão. “O diagnóstico clínico e laboratorial corretos para diferenciação da infecção aguda de zika, chicungunya e dengue contribuirá para a prognóstico (identificação da doença) e levar a ações de vigilância”, concluem os especialistas.

Curiosidades sobre o Zika vírus

O Zika vírus foi primeiramente isolado em macacos rhesus da floresta de Uganda em 1947, com descrição de alguns casos da febre Zika em humanos. Em 2007 ocorreu a primeira epidemia na Micronésia e uma epidemia de maior proporção ocorreu na Polinésia Francesa, há dois anos. O primeiro brasileiro foi identificado no Brasil no início deste ano, com um paciente que apresentava sintomas semelhantes à dengue e chikungunya, mas cujos testes deram negativo.

Dentre outros sintomas que podem aparecer está febre mediana, conjuntivite purulenta, tontura, dores ao redor dos olhos, urticária, inchaço e diarreia.

O zika é um arbovírus (vírus transmitidos por artrópodes, grupo de animais invertebrados que engloba os insetos) pertence a família Flavivirus que causa importantes problemas de saúde pública como a dengue, febre amarela e a febre do Nilo Ocidental.

O Ministério da Saúde não informa o número de casos de zika vírus confirmados no país. No Rio Grande do Norte, o jornal Tribuna do Norte informou no dia 26 de maio que os casos confirmados no estado chegam a 18.

Leia artigo completo:

ZANLUCA, Camila; Melo, Vanessa Campos Andrade de; Mosimann, Ana Luiza Pamplona; Santos, Glauco Igor Viana dos; Santos, Claudia Nunes Duarte dos; Luz, Kleber. “First report of autochthonous transmission of Zika virus in Brazil”. Mem Inst Oswaldo Cruz, Vol.110 (4): 569-572, June 2015.

Contatos:

Assessora de imprensa do Instituto Carlos Chagas. Renata Fontoura. Fone: (41) 3316-3230
Autores: Claudia dos Santos, do Instituto Carlos Chagas. Email: clsantos@fiocruz.br. Kleber Luz, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Email: klebergluz@gmail.com.

Share