AUN prepara lançamento de seu novo portal

Meio século depois de sua fundação, a agência tem um longo histórico de atuação independente

Por Bruno Vaiano – brunoalmeidavaiano@gmail.com
Publicado originalmente na Agência Universitária de Notícias da USP

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Na década de 60 o mundo era um lugar diferente. Depois de encarar mimeógrafos, telégrafos, traduções, desfalques, vandalismo e até uma ditadura, a Agência Universitária de Notícias (AUN), prestes a alcançar meio século de existência, migrou para a Internet em 2000 e hoje já é lida em Angola e Portugal, entre outros países.

O meio de comunicação mais antigo da Universidade de São Paulo (USP), fundado em 1967 pelo jornalista e professor José de Freitas Nobre, nasceu sem produção própria: a AUN dos primeiros anos traduzia do espanhol, com ajuda de alunos voluntários, o boletim científico do Centro Internacional de Produção de Material Científico (Cimpeq), e então o distribuía localmente. Sediado em Bogotá, o centro promovia, entre outras políticas de comunicação, a divulgação da produção acadêmica de países latino-americanos. José Luiz Proença, professor responsável pela agência, explica: “Quando houve uma reunião do grupo, o Freitas Nobre foi para lá e viu aquele trabalho, só que não podia participar por causa do português. Então, em um primeiro momento, a sugestão foi de que a gente assumisse nossa parte fazendo tradução”.

Logo o financiamento do órgão foi cortado, e a AUN inicia em 1969 sua produção independente. Atualmente vinculada à disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso I, a agência é parada obrigatória dos estudantes de Jornalismo da ECA-USP. Cada aluno é responsável pela cobertura de um instituto, faculdade ou órgão da USP, e são produzidas cerca de 400 matérias por cada turma. Apesar do nome, desde 2000 o boletim da agência não é mais distribuído em papel.

A AUN entrou no século 21 investindo na Internet, e o site, reformulado em 2013, está prestes a adotar o conceito de ‘portal’. O novo projeto visual da agência já pode ser verificado através dos boletins enviados por e-mail aos cerca de 11 mil assinantes. “A estréia está prevista para o início do próximo semestre, com layout melhor estruturado para facilitar ainda mais a navegação e a busca pelas notícias de cada unidade”, afirma o webdesigner Ulisses de Paula, desenvolvedor do novo portal da Agência.

Até o início da distribuição virtual, o trabalho era pesado: “Havia um carro, uma ‘Kombi’, que percorria as rádios e jornais. O que ia para o interior era postado”, comenta Proença. “Primeiro era a máquina de escrever. Depois, com a computação, a gente passou a ter os ‘blocos’”. Antes da rede mundial de computadores atingir a capilaridade necessária, o boletim era produzido e diagramado em PCs, mas reproduzido pelo mimeógrafo e distribuído pelo método antigo. “Hoje, barateou a impressão por computador, mas era muito caro”, lembra André Chaves de Melo Silva, outro professor responsável por coordenar as atividades da agência. Durante um convênio com a Agência Estado, a AUN chegou a operar um telégrafo.

Os anos de ditadura foram difíceis para o projeto, que foi interrompido em duas ocasiões: “Houve um evento de discussão de cinema na Escola de Comunicações e Artes (ECA), e depois disso houve divergências no movimento estudantil”, explica Chaves. A agência pagou o preço por cobrir o evento e as discussões, mesmo que de forma neutra. “O resultado foi que invadiram a redação da AUN e a destruíram, mas os alunos não estavam concordando ou discordando com nada”. A publicação de uma matéria com críticas ao Banco Nacional de Habitação (BNH), alguns anos depois, em 1974, colocou a agência sob vigilância dos órgãos de censura e fez cessar a circulação de seu boletim. A cassação ‘branca’ (indireta) de professores gerou pedidos de demissão e desfalques massivos, impedindo a atividade da AUN.

A agência, hoje, vê sua abrangência aumentar e atingir as demais nações lusófonas. “Angola é um ‘super’ leitor, principalmente das matérias de saúde”, comenta Leandra Martins, editora de conteúdo. “Agora a gente tem condições de fazer uma aferição mais dirigida, e pensar essa audiência, esse público específico”, o que já se faz através de métodos de pesquisa.

A AUN, após 47 anos de existência, é uma valiosa ferramenta de contato da USP com a comunidade, além de permitir a inserção dos alunos na rotina de uma agência real. “É um laboratório em que se faz ensino, pesquisa e extensão”, resume Chaves.

Para ler a trajetória completa da agência, acesse o artigo publicado na Revista Extraprensa, no Portal de Revistas da USP.

Artigo: Imprensa universitária no Brasil: a trajetória da Agência Universitária de Notícias (AUN) durante a ditadura militar e no novo período democrático
Autores: André Chaves de Melo Silva, Leandra Rajczuk Martins, José Luiz Proença
Revista: Extrapensa

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